Treinta y cuatro

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Não conseguia dormir. Já tinha perdido a noção das horas que eram mas continuava sem conseguir deixar-me levar pelo sono. Sempre que fechava os olhos voltava a ser inundada por imagens do que tinha acontecido, imagens do Theo imóvel e morto no chão da sala de estar.

Depois da festa em casa do Martin onde tínhamos conseguido cumprir o nosso objetivo, tínhamos acabado por voltar todos para casa dos Suarez e uma vez que a mãe deles já tinha saído novamente para trabalhar, estávamos apenas nós.

Mordi o lábio inferior com força e virei a cara para o lado, observando o ar descontraído do Enzo enquanto dormia. Senti as lágrimas picarem-me os olhos e apesar de continuar a dormir ferrado, como se soubesse que eu estava a sentir-me cada vez pior, os braços do Enzo rodearam o meu corpo com mais força enquanto me puxava melhor contra o seu peito. Ele era capaz de me fazer sentir segura do mundo exterior e já tinha mesmo conseguido salvar-me de uma situação dramática, o problema é que o Enzo podia ser muito bom a salvar-me dos problemas que surgiam na minha vida, mas não ia ser capaz de me salvar dos meus próprios pensamentos.

O Theo. Morto. Na minha sala de estar. O corpo do Theo. Algures. Comporta-te como se nada tivesse acontecido. Por mais que tentasse, não conseguia.

Continuava sem conseguir adormecer por mais que me esforçasse por o fazer e a verdade é que depois dos primeiros segundos de olhos fechados, tinha mesmo acabado por desistir.

Lembrava-me perfeitamente da sensação pela qual tinha passado depois daquela semana enclausurada no porão do Theo, como me sentia claustrofóbica e aterrorizada sempre que fechava os olhos e o meu cérebro parecia assumir que eu ainda me encontrava lá, mesmo quando estava apenas deitada na minha própria cama. E sabia perfeitamente que agora ia acontecer o mesmo; sabia que sempre que fechasse os olhos ia vê-lo morto, a sua expressão de choque e a inocência, a mesma inocência que me tinha levado a apaixonar-me por ele.

Mantive o meu olhar fixo da janela que se encontrava bastante próxima de mim e fui seguindo o percurso do sol ao longo da manhã.

Assim que senti o Enzo remexer-se mais na cama, dando-me sinal de que ele estava a acordar, fechei os olhos e fingi estar a dormir. Não conseguia falar com ele nem responder às suas perguntas; ele já tinha tentando acalmar-me e nada do que ele tinha dito, prometido ou feito tinha tido o efeito desejado e a última coisa que queria era repetir aquela conversa naquele momento nem o queria preocupar.

Tentei manter a farsa e parecer o mais adormecida possível quando senti a cama a afundar mais perto do meu corpo e soube que ele se ia inclinar na minha direção. Os lábios do Enzo roçaram ao de leve no meu braço despido antes de subirem para me beijar a bochecha, levantando-se da cama de seguida.

O meu coração batia agora mais depressa mas mantive os olhos fechados enquanto ouvia os seus passos lentos e cuidados no chão de madeira, a afastar-se da sua cama e aproximar-se da cama do irmão.

- Santiago. Tiago. Temos de ir. – murmurou ele num tom baixo obviamente para não me acordar nem à Meg que dormia na cama do namorado.

- Estou a ir. – foi a resposta do mais velho e a última frase que ouvi trocarem antes de ambos saírem do quarto e voltarem a encher aquele espaço do mesmo silêncio horrível.

**

- Bom dia. – desviei o olhar da televisão assim que ouvi a voz da Meg atrás de mim e como não lhe respondi, ela aproximou-se do sofá e sentou-se ao meu lado – Como te sentes?

- Como acho que se sente qualquer pessoa que assistiu à morte de uma pessoa na noite anterior. – atirei a resposta sem conseguir controlar-me – Como é que achas que me sinto? Como é que tu te sentes? Parece que sou a única aqui a dar em maluca com tudo o que aconteceu.

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