N/A: As falas em itálico são conversas em inglês, sendo que todas as outras são conversas em espanhol. Isto acontece ao longo de toda a história.
13.06 – 1 am
A noite encontrava-se tão silenciosa que qualquer pessoa pensaria que se tratava de uma noite normal. Estava longe de o ser.
Do lado de fora da enorme mansão ouvia-se apenas o barulho dos grilos, que cantavam noite adentro mas do lado de dentro o único barulho que preenchia aquele espaço eram os passos de um lado para o outro que faziam a madeira do chão ranger.
- Meu deus... - Lola murmurava incessantemente enquanto mantinha as mãos apertadas com força e andava de um lado para o outro em pânico – O que é que vamos fazer? O que é que vamos fazer agora?
- Vai correr tudo bem... eles vão perceber... nós só estávamos... - as palavras morreram na garganta de Diego enquanto se aproximava da rapariga e a tentava manter perto de si para acalmar o pânico dos dois.
- Ninguém vai perceber nada. Achas que vão acreditar em nós? – Santiago revirou os olhos – Nós somos os pobres que andam metidos no que é preciso para sobreviver, nunca vão acreditar no que quer que digamos.
- Mas a Sky... - começou Lola, mordendo ligeiramente o lábio inferior – Ela...
- Vai correr tudo bem. – Enzo entrou na divisão e lançou um olhar rápido ao corpo que se encontrava totalmente imóvel estendido no chão antes de olhar para os outros elementos que ali se encontravam – Eu sei o que é que temos de fazer.
Três meses antes
Os meus olhos passaram por todos os cantos e pormenores da divisão onde me encontrava; parecia que tinha sido ontem que me tinha mudado para aquele quarto mas na realidade já tinham passado dois meses desde essa mudança. O tempo conseguia passar a correr, não havia dúvida.
O quarto encontrava-se agora completamente despido de tudo o que podia chamar meu, apenas as paredes que eu tinha passado a tarde da minha chegada a pintar com a minha prima se mantinham iguais assim como todos os móveis daquela divisão. Tudo o resto, tudo o que era meu já não se encontrava ali, sendo que a maioria das coisas já tinham sido enviadas e o resto estava agora na mala que tentava fechar com algum esforço.
Posso dizer que desde sempre que o meu sonho é sair dos Estados Unidos e viajar por todo o mundo. A minha mãe dizia que eu era um espírito livre que não conseguia ficar fechada no mesmo sítio durante muito tempo, o meu pai dizia que eu era a fotocópia da minha mãe. Mas por agora contentava-me apenas com a viagem para Espanha porque de todos os sítios do mundo inteiro, era aquele onde queria mesmo ir, onde esperava sentir novamente a minha mãe. Desde que ela tinha morrido quando eu tinha apenas três anos que achava que se me mudasse para o sítio onde ela tinha nascido, vivido grande parte da sua vida, conhecido o meu pai e pensado até em ter-me, que seria como se estivesse novamente com ela. Podia ser uma parvoíce mas não fazia desvanecer o meu entusiasmo.
- Sky, despacha-te! O carro já chegou! – o grito da minha prima Megan soou do andar de baixo – Vamos perder o avião! – acrescentou em tom desesperado.
Abanei a cabeça ao imagina-la a correr de um lado para o outro em stress pelo hall de entrada. Tal como eu a Megan tinha ficado muito entusiasmada com a nossa entrada na universidade espanhola mas para além do entusiasmo sabia que estava também preocupada por deixar a mãe. Elas tinham sido sempre muito unidas e era a primeira vez que se ia afastar uma da outra durante tanto tempo, mesmo tendo a Megan já idade suficiente para se desenrascar sozinha.
Sempre me tinha dado bem e sido próxima da minha tia e da minha prima, mas como é óbvio, desde que vim viver com elas que a nossa proximidade aumentou bastante. Do lado da minha mãe não conhecia ninguém, o que fazia com que a minha família fosse bastante reduzida e por isso mesmo é que tinha ficado com a irmã do meu pai.
Há dois meses tinha sido o tempo em que o meu pai se tinha mudado de vez para Espanha, onde era o embaixador dos EUA. Juntamente com ele tinham ido a sua nova mulher, a minha madrasta Kendra com quem eu tinha uma relação de amor-ódio e a minha meia irmã Taylor de apenas três anos. Apesar de muitas vezes ser uma verdadeira cabra com a Kendra, era impossível resistir à pequena.
Coloquei a mala no chão e lancei um último olhar em volta antes de descer as escadas para o andar inferior – Já cá estou. – disse com um sorriso – Adeus tia. – aproximei-me dela e abracei-a com força, dando-lhe de seguida um beijo na bochecha antes de me afastar em direção ao carro para que a minha mala fosse guardada no mesmo.
Olhei em direção ao alpendre depois de ter a mala guardada e sorri ao ver a minha tia e prima a despedirem-se – Liguem assim que chegarem lá. – pediu a minha tia ainda a apertar a filha contra o peito – E todos os dias! - a Megan fez uma careta mas sabia que estava a tentar controlar as lágrimas e impedi-las de cair – Mãe, vamos para lá estudar, não podemos andar sempre distraídas com telefones. E há a diferença de horários, não vamos conseguir ligar-te todos os dias.
- Oh mas... liguem! – pediu ela com uma expressão preocupada que foi rapidamente substituída por um sorriso; ela sabia muito bem como tudo isto era importante para nós – Façam boa viagem.
- Obrigada. – agradecemos eu e a Megan ao mesmo tempo enquanto entrávamos para o carro. Assim que o fizemos colocámos o cinto e baixámos a janela, de maneira a que ela conseguisse ver para dentro do carro enquanto lhe acenávamos um adeus de volta.
Assim que o carro se foi afastando da casa, voltei a fechar a janela e encontrei o olhar da minha prima.
- Nem acredito que estamos mesmo a ir para Espanha. – disse ela de olhos arregalados – Vamos mesmo sair dos Estados Unidos, entrámos na universidade que queríamos e está a correr tudo bem. Tinha saudades que corresse tudo bem.
Mordi o interior da minha bochecha com aquele último comentário, sabendo perfeitamente que as coisas não tinha corrido bem apenas por culpa minha, mas queria meter isso para trás das costas, esquecer tudo isso e seguir em frente. Era exatamente isso que estava a fazer e logo no país onde queria.
- É verdade, vamos para Espanha. – concordei sorrindo – E sim, vai finalmente correr tudo bem.
- Estou tão entusiasmada!
Soltei uma gargalhada e dei-lhe um encontrão sem força com o meu ombro – Ainda ninguém tinha percebido, Meg.
Apesar de estar a tentar manter o meu entusiasmo a um nível bastante baixo, estava tão ou mais empolgada com isto que a Meg. Precisava mesmo de me afastar das recordações e parecia impossível ficando ali, mesmo tendo estado tudo calmo nos últimos tempos, parecia que era abusar da sorte continuar perto dos problemas.
Só gostava que a minha mãe estivesse viva, que pudesse fazer esta viagem com ela e tê-la sempre ao meu lado, a contar-me tudo o que ela sabia sobre a história das cidades espanholas, a contar as suas próprias aventuras naquelas ruas e ouvi-la rir com um qualquer comentário que eu fizesse sobre isso. Tinha mesmo saudades do riso dela. Sabia que o meu pai podia fazer isto tudo, falar sobre ela, contar coisas sobre ela mas nunca lho tinha pedido. Não o queria fazer sofrer e ao mesmo tempo não queria fazê-lo pensar nela para logo depois se esquecer, quando voltasse à sua realidade, à realidade com a Kendra.
Suspirei e abanei a cabeça para afastar todos aqueles pensamentos que não valiam a pena.
- Em que é que estás a pensar? – perguntou a Meg, sendo que desta foi a vez dela de me dar um encontrão com o ombro. Era um hábito nosso desde crianças.
Sorri e encolhi os ombros, olhando para ela mas desviando logo de seguida o olhar para a janela que se encontrava ao meu lado.
- Estou a pensar em como é bom que esta seja a minha última viagem em solo americano.
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Sky
Non-Fiction[completa e editada] O sonho de Skylar Mars era sair dos EUA e viajar para Espanha, deixando todos os seus demónios para trás e refazer as memórias já um pouco esquecidas que tinha da sua mãe. Mas a vida nunca é assim tão simples e mesmo noutro con...