Ajeitei o meu casaco de forma a manter-me o mais quente possível mas ao mesmo tempo queria que aquele ar frio me acalmasse os pensamentos e os metesse no lugar. Não fazia ideia de que horas já eram mas sabia que era tarde; o céu estava já escuro e estrelado e já não havia muita gente a passear pelas ruas de Madrid. Parecia que tinha saído de casa dos Enzo há horas mas sabia que não podiam ter passado mais do que uns trinta minutos.
Em vez de me dirigir para o campus universitário como era suposto, tinha acabado por caminhar até ao centro da cidade onde apesar da hora tardia ainda haviam vários estabelecimentos abertos e acabei por me decidir a entrar num café e pedir um chocolate quente depois de me sentar numa das mesas vazias.
Vais beijar-me com o teu namorado a ligar-te?
A verdade é que eu não fazia a mínima ideia de qual era a minha ideia quando tinha desligado a chamada do Martin e tinha voltado a fixar-me nos olhos castanhos do Enzo, mantendo a nossa proximidade em vez de me afastar como deveria ter feito, mas tinha quase a certeza que era exatamente nisso em que estava a pensar, beijá-lo.
Isto é, até o Enzo falar e quebrar qualquer que fosse o encanto hipnotizante que ele tinha em mim até há momentos. O problema em toda aquela situação é que neste momento estava envergonhada mas acima de tudo, muito irritada comigo própria e não sabia se era por não me ter conseguido controlar, afastar-me do Enzo, parar de olhar para o seu corpo despido e desejado tê-lo beijado ou se era porque aquela pergunta dele me tinha atingido directamente no peito. Desde o início que tinha dito que me ia afastar do Enzo, que não ia cair naqueles jogos dele e que não queria saber de nada disso, apenas do Martin, de como ele era querido e carinhoso e de como me fazia sentir; só que agora, tendo estado prestes a beijar qualquer um deles e ter sido interrompida antes de o fazer, sentia-me mais irritada por o beijo com o Enzo não se ter realizado do que tinha sentido quando o mesmo tinha acontecido com o Martin.
Dei um pequeno gole ao meu chocolate quente, tentando novamente afastar todos aqueles pensamentos da minha cabeça, tarefa que estava a ser bastante árdua. Sentia-me exausta e só queria ir para a minha cama e dormir até ao dia seguinte mas a Megan estava no dormitório e a última coisa que eu precisava era que ela me enchesse de perguntas para as quais eu não sabia ou não queria responder.
Tirei o telemóvel do bolso e depois de desbloquear o mesmo carreguei no ícone das chamadas. Fiquei alguns segundos a olhar para o nome Martin que aparecia nas chamadas recebidas até ganhar coragem para carregar no mesmo e esperar que ele atendesse.
- Olá! Estava preocupado contigo, pensava que se tinha passado alguma coisa como não apareceste nas aulas de hoje e não respondeste a mensagens nenhumas. – tinha o telemóvel encostado ao ouvido e ouvia a voz do Martin do outro lado do aparelho mas não conseguia prestar qualquer atenção o que ele dizia – Sky? Estás bem?
Acordei do transe em que me encontrava ao ouvi-lo chamar o meu nome e assenti com a cabeça, só percebendo depois que ele não conseguia ver esse gesto e que teria mesmo de arranjar a coragem que me parecia faltar para falar e lhe responder.
- Sim, sim, está tudo bem. – apressei-me a responder, tentando soar o mais honesta possível. Sim, está tudo ótimo. Passei a noite com o Enzo, com quem já partilhei os chuveiros uma vez, passei o dia todo com ele, estive a admirar o corpo despido dele mais do que devia e quase o beijei. Ah e ainda o vi completamente despido. Sim, o Enzo, aquele rapaz de quem pareces ter um ódio de morte. E claro, eu sei que nós tecnicamente não somos nada mas ainda assim. Sim, está tudo uma maravilha. Abanei a cabeça, fazendo um esforço descomunal para tentar calar o meu subconsciente que continuava contra mim – Desculpa mas hoje não me senti muito bem e fiquei no quarto. – mais mentiras – E desculpa ter desligado a tua chamada mas estava ocupada. – a quase beijar o Enzo que estava apenas com uma toalha enrolada à volta da cintura. Cala-te!, gritei interiormente para mim própria – Mas não precisas de te preocupar, amanhã já vou às aulas e está tudo bem.
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Sky
Non-Fiction[completa e editada] O sonho de Skylar Mars era sair dos EUA e viajar para Espanha, deixando todos os seus demónios para trás e refazer as memórias já um pouco esquecidas que tinha da sua mãe. Mas a vida nunca é assim tão simples e mesmo noutro con...