Seems like I'm always on my own, seems like I'm never coming home (Parece que eu estou sempre sozinho, parece que nunca estou chegando em casa) - Stars and Boulevards, Augustana
— Marília! Onde você pensa que vai? - Minha mãe me chamou assim que passei pela porta da sala.
— Embora, mãe! - Falei e saí de lá. Não sei se ela concordou comigo, ou sentiu pena de me xingar na frente da tia Val, o que importa é que ela não me impediu de ir embora. Então eu fui, só que esqueci que minha casa não era perto de onde dona Valéria mora, mas, contanto que eu esteja com meus All Stars confortáveis, tudo bem.
Esse é um bairro bem bonito, as casas todas têm estruturas bem antigas, que foram construídas assim que a cidade começou a ser povoada, quando eu era pequena, queria muito morar em uma dessas, pois elas me lembravam aquelas casas assombradas nas quais os personagens de Scooby Doo iam, eu ficava imaginando se os monstros e fantasmas do desenho também viviam ali e costumava falar que eu era a Daphne. Sempre adorei histórias de mistério...
Umas gotas começam a molhar meu rosto e eu olho para cima, a fim de confirmar minhas suspeitas, mas que azar. A chuva fica mais intensa e eu não tenho escolha a não ser tirar os fones e guardar o celular no sutiã, afinal, se ele estragar tenho certeza de que minha mãe não vai comprar outro, principalmente depois do ocorrido de hoje. Também não adianta nada correr, já que estou longe de casa e de maneira alguma eu vou voltar para casa da minha tia. Com isso, só me resta andar e torcer para que meu celular não estrague. Em poucos minutos eu estou encharcada, meu all star libera água toda vez que piso no chão, tenho certeza de meus dedos do pé estão todos enrugados, sem falar no meu cabelo que não para de pingar. Estou prestes a atravessar a rua quando um carro para próximo a mim.
— Marília? - A voz pergunta, enquanto o vido do carro é abaixado.
— Ah, oi, Pietro. - Falo sem nenhuma empolgação e volto para a calçada.
— Você está muito molhada! Entra aí, eu te levo para casa.
— Eu tô bem, gosto de tomar chuva. - Eu falo e Pietro cai na gargalhada.
— Marília, você odeia tomar chuva. Entra logo aí. - Isso que dá a pessoa te conhecer bem demais.
— Eu tô bem, obrigada.
— Não foi você mesmo que disse que não estávamos mais no Ensino Médio, que não precisávamos evitar lugares por saber que o outro estaria lá e tal? O que acha de provar isso? - Ele fala e eu reviro os olhos. Ele sabe como me convencer e eu odeio isso. Acabo cedendo e entro no carro.
— Só acho que a sua namorada não ficaria muito feliz com essa... Situação. - Falo, imitando a maneira que ele se referiu àquele reencontro no barzinho.
— Você disse que tinha superado, isso - ele fala apontando para mim — Não parece nada com superação. - Eu reviro os olhos e encaro a janela. Quem ele pensa que é para falar alguma coisa sobre eu ter superado ou não?!
— Não é minha culpa se você tem agido como um babaca. - Falo, após uns instantes.
— Eu não tô agindo como um babaca! Só tô tentando não deixar as coisas estranhas.
— As coisas já estão estranhas e tudo que você tem feito é deixá-las mais estranhas! Amigos, Pietro, sério?!
— Qual o problema? Você disse que não precisávamos ter que evitar lugares por saber que o outro estaria lá, isso não é um passo pra uma amizade? - Ele pergunta, parecendo sincero. Mas quantas vezes ele vai ter que me lembrar dessa minha maldita fala? Por deus!
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As Duas Versões
Teen FictionSe a vida de Marília fosse um livro, ela certamente saberia qual a versão de Pietro sobre aquele reencontro; saberia o que se passou na cabeça dele no momento em que a viu atravessar a rua movimentada da escola onde estudaram e saberia como ele se s...