Sobre ironias

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— O quê? Como? Por quê? – E essa é a melhor reação que uma garota chocada pode ter. Se bem que... A Analu havia tentado me avisar, não só uma vez e talvez eu até tivesse percebido, como uma daquelas vozes interiores que jogam na sua cara verdades que você não quer enfrentar, e eu não quis. Eu não quis porque não tenho ideia do que eu e Pietro seremos estando os dois solteiros. Eu gosto dele, mas... Isso é suficiente? Quer dizer, Pietro mudou, eu mudei. O que acontece agora?

— Não dava certo, Lia... Não era certo.

Olho para Pietro e dou um meio sorriso, meio que tentando dizer que entendo. A verdade é que não importa se ele terminou com a Gabriela por minha causa ou, a possibilidade mais provável e que se aproxima do que ele disse, porque percebeu que eles não davam certo juntos, que simplesmente não era pra ser, que ela era um grãozinho muito pequeno que passava direto pela peneira do garoto (sim, estou citando Jout Jout); o que importa é que isso ficou pra trás e tudo que temos é o agora.

E então é esse, esse é o momento, é como se desde aquele dia em que reencontrei Pietro pela primeira vez, depois de anos, eu soubesse que esse momento chegaria, porque agora é quando eu descubro o que acontece, e o que vai acontecer, só depende de nós. E talvez um pouco da vida também. Ele também sorri pra mim e toca algumas notas no violão, estamos num daqueles silêncios confortáveis e eu me sinto bem. Independentemente do que aconteça a partir de agora, eu vou continuar bem.

Mas é claro que a vida tem os seus bebês mais preciosos, os quais ela carinhosamente chama de "ironia".

No instante seguinte, André pigarreia na porta, eu sorrio pra ele, como quem lembra de um bom momento, mas ele não sorri de volta, está com as sobrancelhas franzidas e hesita um pouco antes de finalmente dizer:

— Pietro, você tem visita. – E então dá passagem pra uma garota loira, com uma expressão de desespero no rosto. A garota é Gabriela. Ela olha pra mim e o desespero se torna confusão.

— Eu vou... – Digo, apontando pra porta. — Vou indo.

André me acompanha até o quarto das meninas, pra que eu pegue minhas coisas e vá embora, apesar de toda sua insistência para que eu fique.

— Você e Pietro finalmente têm um tempo sozinhos, pra colocar as coisas no lugar, não vá embora assim.

— André, eu posso conversar com ele em outro momento, tá tudo bem. – Digo e dou meu sorriso mais sincero. — Como está a Amora?

— Ela tá bem, quase terminando a faculdade.

Eu termino de pegar a minha roupa (suja) de ontem e me despeço de André, indo em direção ao ponto de ônibus. Aí então me lembro que estou usando uma roupa de Rebeca, que pode ou não ser considerada como pijama. Mas, ah, quem se importa com isso quando sua cabeça está bolando diversas teorias sobre o que está acontecendo entre seu ex e a ex dele?

1) Ela estava com cara de desesperada porque sente falta do garoto e vai pedir pra voltar.

> Ele pode dizer que não, pois eles não dão certo juntos

> Ele pode perceber que, na verdade, ela se encaixa perfeitamente em sua peneira e que foi um idiota até agora, então eles ficam juntos de novo.

2) Algo ruim aconteceu com a menina e ela precisa de apoio, como o término com Pietro é algo recente, ele foi a primeira pessoa em quem ela pensou pra pedir ajuda.

> Ele pode dizer que isso não é mais da conta dele (o que o torna, automaticamente, um babaca).

> Ele pode resolver ajudá-la (o que eu sei que é o certo mas tenho medo do que possa acontecer a partir daí. Pare de ser egoísta, Marília, apenas pare).

As Duas VersõesOnde histórias criam vida. Descubra agora