All we do is think about the feelings that we hide, all we do is sit in silence waiting for a sign, sick and full of pride. (Tudo que fazemos é pensar nos sentimentos que escondemos, tudo que fazemos é sentar em silêncio e esperar por um sinal, doentes e cheios de orgulho) - Drive, Halsey.
Os olhos castanhos finalmente me vêem e se arregalam. Dou um meio sorriso para Pietro que ainda parece me encarar em choque. Tah percebe que ele está olhando em minha direção e diz:
— Tem um lugar vago atrás da... - Ela para tentando lembrar meu nome, o que é inútil, já que eu não cheguei a falá-lo. — Qual é seu nome mesmo? - Ela me pergunta, abro a boca para responder, mas Pietro é mais rápido:
— Marília, mas ela prefere que a chamem de Lia, não gosta que a comparem com a Marília de Dirceu, sabe como é... - Ele diz e Tah me olha confusa.
— Prazer, Marília. - Ela diz sorrindo. — Algo mais que possamos saber sobre você?
— Bem, eu tenho dezoito anos, vou começar o curso Relações Internacionais e não gosto que falem por mim. - Digo, olhando para Pietro, que passa diante da minha mesa no mesmo momento, não entendo o porquê disso, afinal, tem tantos outros lugares vazios...
— Desculpa. - Ele diz enquanto se senta na carteira atrás de mim.
— E você, apresente-se. - Alberto volta-se para Pietro.
— Bom, eu vou cursar engenharia química esse ano, na mesma faculdade que a Marília, por sinal, tenho dezoito anos e gosto de falar pelos outros. - Diz dando uma risadinha, eu reviro os olhos. PERAÍ! Ele disse que vai para a mesma faculdade que eu?! Arregalo os olhos e faço um "O" com a boca, então me viro para ele e pergunto sem hesitar:
— O quê?! Você não queria fazer faculdade no Rio de Janeiro? - Pelo menos foi isso que ele sempre disse, morar no Rio era o sonho de Pietro. O que mudou?
— Mudei de ideia. - Não sei se é possível, mas meus olhos arregalam ainda mais. Quero perguntar o motivo dessa mudança, mas o professor volta a falar. Se bem que eu acho que já sei o porquê... Começa "Gabri" e termina com "ela". Argh.
O professor faz a introdução ao francês e explica como será o ritmo das aulas mas tudo o que eu consigo pensar é: Pietro está tão próximo, até posso sentir sua respiração quente batendo em minha nuca e isso começa a me deixar arrepiada.
— Lia? - Pietro me cutuca, fazendo com que os pensamentos insanos que passavam pela minha cabeça desapareçam.
— An? - Pergunto ao me virar parcialmente para ele.
— O professor está te chamando. - Eu arregalo os olhos, céus, por quanto tempo estou presa nesse transe?
— Ah, oi! - Sorrio envergonhada.
— Está tudo bem? Você parece um pouco aérea.
— Está tudo ótimo! - Falo, mas sei que minhas bochechas estão coradas, tento indicar para que ele prossiga com a mão, mas acabo derrubando todo meu estojo, que estava aberto. Merda. Tah franze a testa, provavelmente pensando em como alguém pode ser tão desastrada. Eu saio da cadeira e agacho para poder pegar as coisas que estão espalhadas pelo chão, depois de guardar tudo de volta, começo a me levantar, mas bato a cabeça na mesa e solto um grunhido de dor. Me levanto por completo e percebo que todos, sem exceção, estão olhando para mim, aparentemente Alberto parou a aula por minha causa. Dou um sorriso sem graça e me sento novamente. Que vergonha.
— O senhor estava dizendo...? - Pergunto, tentando desviar os olhares de mim.
— Ah... - Ele fala com uma expressão de estranheza. — Você poderia repetir essas palavras comigo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Duas Versões
Fiksi RemajaSe a vida de Marília fosse um livro, ela certamente saberia qual a versão de Pietro sobre aquele reencontro; saberia o que se passou na cabeça dele no momento em que a viu atravessar a rua movimentada da escola onde estudaram e saberia como ele se s...