Can'7 Hate You

Mais Problemas

Jackson e Yume tinham ficado um dia e uma noite inteira, revezando até a saída de BamBam ser liberada. Jackson não conseguia parar quieto um minuto sequer. Sua preocupação, ansiedade e tudo era maior que seu sono, enquanto Yume descansava um pouco deitada sobre três dos bancos do hospital, ele andava pelo saguão da recepção, imaginando o que diria assim que visse o garoto, se ele o abraçaria ou se daria um beijo em sua testa, se ele diria "fiquei preocupado com você" ou "não faça mais isso comigo". Eram muitas indecisões para uma mesma pessoa, ele não conseguia decidir.

– Pare de andar por um minuto, pelo amor. – Ela resmungou, com os olhos ainda fechados.
– Desculpa... Não estou conseguindo ficar parado.
– Você devia descansar... Faz mal ficar tanto tempo assim sem dormir.
– Eu não estou com sono...

Ela se levantou, cambaleando um pouco e coçando seus olhinhos espremidos, se direcionando pelo andarilho preocupado, ele tinha parado um pouco para encarar o piso lustrado e verde, vendo o brilho do Sol sobre ele e refletindo em seus olhos. Ela o pegou por trás, envolvendo o maior em seus bracinhos, ficando com o rosto em suas costas fortes e largas, encostando a bochecha nele para descansar sua cabeça.

– O-o que você está fazendo? – suas bochechas coravam e ele ficava sem jeito.
– Vem logo sentar e descansar... Kunpi-kun já está bem, só temos que esperar aqui pra levarmos ele até o apartamento.
– Eu estou preocupado com ele...
– Você não é o único... – sua voz soava um pouco mais triste. – Vamos descansar. Não precisa dormir, mas não fique andando igual um maluco.

Ela arrastou Jackson até um dos bancos, onde ele se sentou e ficou de braços cruzados e um olhar fechado, como se quem estivesse com sono mas não quisesse estar ali. Yume sentou ao seu lado, ficando com os olhos quase fechados, bocejando e deixando a cabeça cair um pouco. "Ela é chata mas é fofa quando tem sono..." Ele pensava, dando um sorrisinho sarcástico e olhando para as demais coisas naquele lugar. Estava vazio e frio, mesmo que com sua jaqueta ele sentia o seu nariz e sua boca ficarem congelados pelo ar condicionado, mesmo que o Sol estivesse brilhando lá fora.

Eles ficaram lá, até Jackson sentir algo em seu ombro, ele já estava dormindo a alguns minutos quando foi despertado por aquela pressão em seu ombro esquerdo, que o deu um leve susto. Ao olhar para o ombro esquerdo, ele viu a cabeça da garota de cabelos escuros, adormecida em seu ombro, torta e relutante em seu sono, "isso é tão fofo" pensava enquanto observava o modo como ela segurava o cobertor que pegara, um macio e felpudinho, que tinha uma cor esverdeada, como tudo dentro daquele lugar.

– Você deve estar com sono mesmo hein? – ele sussurrou. E sorriu ao ver a cena.

Ele tinha se ajeitado para ficar mais abaixo, permitindo que ela dormisse melhor com o pescoço não tão torto, os dois estavam juntos mesmo não se suportando tanto, Jackson sentia ciúmes dela por BamBam, mas sabia que ele era importante na sua vida, afinal, eram amiguinhos de infância e se conhecem a muito mais tempo. Mesmo que ela fosse chata e fosse muitas das vezes bem irritante, ela se preocupava até com os amigos de BamBam, sem conhecê-los.

Eles ficaram ali, por algum tempo, Yume adormecida no ombro de Jackson, e ele admirando o modo como ela ficava mais bonita dormindo, sem uma palavra em sua boca. Mas foram interrompidos pela enfermeira, que disse sobre a situação de Kunpimook, liberado para estar em casa, de repouso e com algum vigia 24h, no caso de tentativa de suicídio ou algum tipo de surto pós-traumático que ele poderia ter. A garota acordou após a saída da mulher.

– M-m-me Desculpa... Eu não queria incomodar você com minha cabeça em seu ombro.
– Está tudo bem, não me incomodou. – ele disse sorrindo para ela, o que a fez corar.
– Kunpi poderá sair agora? – ela ajeitava seus óculos,  de forma desleixada.
– Sim, ele já foi liberado para sair, trarão ele para cá assim que ele se levantar.
– Uff... – um longo suspiro – que alivio, não é?
– Com certeza, é um alivio mesmo.

Eles aguardaram cerca de 6 minutos, tempo suficiente para a garota se recompor e ficar mais acordada, preparada para fazer o que fosse possível para seu amigo de infância não vê-la com cabelo bagunçado daquele jeito e com cara inchada pelo sono. Jackson apenas colocou os cabelos loiros para trás e ajeitou sua blusa.

BamBam apareceu no saguão, com as roupas que tinha saído do apartamento. Apenas com a camisa larga branca, quase cinza, uma calça preta e os tênis beges dele. Parecia um modelo, menos pelo fato de seus olhos estarem fundos e com olheiras, pálido, suando frio em baixo de seu cabelo e em todo seu corpo, ele estava acabado, em vários pedaços. Ele se quebrara como uma porcelana que atinge o chão, demoraria para juntar ele todo de novo e colar as partes. O médico se aproximara dos dois que estavam aguardando o garoto em pé.

– Qual de vocês é o mais próximo a ele? – Yume ergue a mão em resposta. – Aqui está os medicamentos dele e o diagnóstico que nós fizemos de acordo com o estado em que ele se encontrava ontem a noite. – Ele entregou os papéis e foi embora. Yume guardou os papéis na bolsa depois de uma olhadela.
– Não posso nem ver os papéis? – Ele perguntou, enquanto via BamBam se aproximar. Ela lançou um olhar de repreensão e depois apontou com os olhos para o menino que cambaleava. – Okay, entendi. Vamos pra casa dele.
– Não, deixe ele na sua casa por algum tempo. Eu irei no apartamento dele arrumar tudo antes. – ela disse, segurando nos braços dele. – Posso ir na frente para comprar os remédios?
– Okay, vai antes que eu me arrependa.
– Obrigada. – ela saiu, dando um beijo na bochecha tanto de Jackson como de Kunpimook.
– Jackiiiee! – resmungou o menininho – me leva pra casa... Por favooor – ele fazia um biquinho adorável e fofo.
– Vamos. – ele deu um beijo na testa do garoto, e um abraço forte. – Estava preocupado com você. Nunca mais faça isso comigo.
– Desculpa Jackie. Não farei mais isso com você, mas vamos...

E eles começaram andando, lado a lado, Jackson apoiava BamBam, que estava quase caindo no chão, ele cambaleava tanto que não parecia ter nenhum tipo de osso em seu corpo. Depois de BamBam quase cair no chão pela 10ª vez, o homem de cabelos loiros se cansou e pegou o menino de corpo esguio e leve no colo, como se o mesmo fosse um tipo de princesa.

– V-você não precisava fazer isso... – reclamou BamBam, num biquinho.
– Não reclame, estou te levando pra passar uns dias comigo na minha casa.
– Dias?? Vou ficar na casa de Jackie Hyung??
– Sim, e eu vou passar uns dias na sua também. Vamos ter muito tempo juntos.
– Que bom... – ele disse antes de adormecer no colo dele.