Can'7 Hate You

Neve

Mark estava me visitando periodicamente, sempre em dias ímpares ele vinha me ver e Jackson estava sempre ocupado naqueles dias; a noite era melhor, ele sempre tinha tempo de noite. As férias de inverno tinham chegado e por isso estávamos passando mais tempo juntos sabe? Eu gosto de estar com Jackkie e de falar com Mark sobre coisas que me incomodavam, gostava muito mesmo dos dois comigo juntos.

Fiquei olhando de novo pela janela daquela lanchonete enquanto esperava Jackson voltar com meu pedido para comermos e irmos ao parque admirar o tempo bom que estava, não nevava nem nada, e o Sol estava um pouco mais aparente do que nos outros dias. Mesmo estando frio, e eu amando isso, eu queria estar de novo naquele parque com o Jackson... Sentir a nostalgia daquele primeiro dia me atingir como uma onda do mar frio e depois meu corpo esquentar por conta própria, será ótimo com certeza.

– Aqui está Bamzi.
– Obrigado Jackkie. – sorri e voltei a encarar o lado de fora antes de comer.

É muito lindo a paisagem, e alguns dos fragmentos da memória mais doces com ele me animavam um pouco mais. Me lembrei então de como eu parecera uma criança naquele dia, e também do dia na neve... Eu sou tão criancinha assim? Será que Jackkie me vê como um neném para ele cuidar? Aigoo que vergonha, queria não ser assim tão infantil e não precisar tantos das pessoas, não gosto mesmo de ser um incômodo... Pensando bem, eu acho que fiz isso com meu cabelo exatamente por ser infantil assim não é? Eu queria muita atenção mesmo... Que vergonha de mim.

Senti minhas bochechas se aquecerem com meus pensamentos sobre meu próprio ser e existência, queria sumir por causar tantos problemas para meus amigos, apenas evaporar de vez ou virar pó na luz do Sol igual aqueles vampiros de antigamente, que pelo que percebo nos dias de hoje, eram bem menos resistentes do que os que chamamos de "vampiros" atualmente. Peguei uma mecha de meu cabelo que estava bem na minha frente, loira e brilhante refletindo a luz do Sol em todo o recinto, sem dúvida bem chamativo em meios a tantos cabelos escuros, torci em meus dedos aqueles fios já meio ressecados e os espremi um pouco. Além de estarem loiros quase brancos, precisava cortar logo, já chegava a tampar meus olhos e a pinicar os mesmos, eu estava quase que um cara largado até nas roupas que usava.

...

Quando Jackkie finalmente acabou seu trabalho, ele sentou comigo e comeu um lanche porque estava morrendo de fome, ele parecia um ogro comendo naquela velocidade e voracidade; um ogro muito lindo. Ele atacava o pão e carne como um lobo, mas tinha certa suavidade em sua mão segurando aquelas duas fatias, eram meio delicadas, não sei ao certo explicar. Suas bochechas com comida e o maxilar se movimentando com a mandíbula para triturar o alimento em sua boca, suja de ketchup em seus cantos e brilhosa por causa do pouco de óleo, estava hipnotizado por aquele bico que ele fazia enquanto comia com a boca cheia, pela expressão em seu rosto cheio de prazer e satisfação, por tudo nele, talvez até pelo lanche quase acabado em questão de minutos.

Ele acabou mesmo aquele lanche em questão de minutos, e fomos juntos àquele parque, lado a lado na rua, andando quase colados na calçada com a neve de alguns dias atrás nos cantos. Olhei o céu a fim de pedir que nevasse novamente, porque tudo era mais especial ainda com aquele neve branca no recinto, tocando a pele mesmo que a arranhando um pouco e descendo derretida em água gelada. Enquanto eu devaneava sobre esse tipo de coisa, nem notei na aproximação que nossas mãos fizeram já estavam dadas uma a outra, se aquecendo e derretendo meu coração. Fomos assim até o parque de árvores secas e grama branca com alguns tufos de verde meio apagado espalhados, sentamos no mesmo banco de antes, limpando a neve que estava ali antes de sentarmos, nossas mãos ainda não tinham se soltado uma da outra, estavam atadas. Ele a apertou e depois relaxou de novo, isso me arrepiou e me fez sentir o rubor das bochechas abaixo de um cachecol.