xviii.

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Harry dormiu muito pouco, talvez um total de quatro horas. Porém, no seu ponto de vista, foi o suficiente. Na noite anterior ele tinha ficado acordado por mais uma hora analisando tudo que Abigail mandou por email. Ele até mesmo procurou no Google, na esperança de que o mecanismo brincasse de Deus e o contasse tudo o que precisava saber. Isso fazia parte do seu trabalho, pensou. Você perde o sono em algumas noites, talvez durante semanas, mas, no final, tudo compensa quando você consegue dar uma conclusão à uma família. Então, é assim que funciona. 

Detetives poderiam te contar que o trabalho deles se baseia em simplesmente achar fatos para perseguir criminosos, mas não é bem isso. Eles poderiam te contar que o trabalho deles também envolve encontrar e comparar manchas de sangue para descobrir como a vítima foi morta, mas não é bem isso. O trabalho de um detetive é encontrar assassinos com o objetivo de trazer justiça e paz. Eles confortam famílias. Eles falam, um a um, com cada amigo próximo durante o dia inteiro. Eles conhecem o morto através da sua rotina e isso é uma coisa que poucas pessoas conseguem fazer.

Assim, Harry perdeu um pouco do sono e, na manhã seguinte, se encontrava bebericando preguiçosamente um copo de café quando Cris se aproximou. "Você tá uma merda", Cris comentou, pegando um dos copos de isopor para colocar seu próprio café.

"E continuo estando melhor do que você", Harry disse sorrindo. "Não fechei muito os olhos na noite passada."

"Ocupado demais fodendo alguém? Oh, espera, você não tem ninguém." Cris quase derrubou o café quando Harry tentou bater em seu peito. Ele soltou uma risada, "O que te virou de cabeça para baixo?"

"Esse caso, cara. Ele me dobrou em todas as direções". Harry respondeu, tomando um gole do seu café. "Por que alguém que foi sequestrado, abusado, e depois deixado no meio do nada abusaria de outra pessoa?"

Cris colocou algum tipo de creme em cima do seu café. "Parece ser uma pergunta para Smith. Se você quer saber o que eu penso, acho que talvez essa pessoa quisesse se sentir no controle. Não gostava mais de ser o submisso. Ela achava que era melhor. Como isso se aplica no caso Malik?"

Harry deixou escapar um suspiro assim que os dois começaram a andar em direção à mesa do Harry. "Nossa vítima foi abusada sexualmente quando era criança pelo amigo do seu pai. Ele foi devolvido um ano e meio depois. Há muitos artigos sobre ele, sobre suas experiências traumáticas. A mídia empurrou seus métodos para dentro da vida do garotinho, na verdade. Estou surpreso por eles não estarem em cima desse meu caso agora."

"Engraçado você dizer isso". Cris resmungou, gesticulando com a cabeça na direção de uma repórter com um gravador na mão. "Acho que falou cedo demais."  

Harry acenou um adeus para Cris e fez seu caminho até a repórter. "Oi, sou o detetive Styles", cumprimentou chacoalhando a mão dela.

"Camille Jackson, jornalista do New York Gazette. Estou aqui para te perguntar à respeito da morte de Zayn Malik. Você acha que pode responder minhas perguntas?" Camille questionou.

"Não estamos recebendo perguntas. Esse caso está fechado para qualquer tipo de mídia". Harry disse, gentilmente escoltando Camille para a porta.

"Senhor Styles--"

"Detetive, por favor". Harry corrigiu.

"Detetive Styles, acho que as pessoas gostarão de saber que tem um assassino solto por aí. Como um pai, você não iria querer saber da existência de um criminoso pelas ruas?" Camille perguntou.

Harry ignorou o comentário da jovem moça e continuou tentando a empurrar para a porta. "Não houve mais nenhum assassinato então o público não precisa se preocupar. Temos tudo sob controle."

"Se você tem tudo sob controle, então não se importaria com as minhas perguntas". Camille apontou.

Harry revirou os olhos enquanto Camille passou por ele e endireitou sua camisa enquanto tirava a tampa de uma caneta, esperando para escrever tudo o que ela achava que as pessoas queriam saber.

"Já falei que não. Esse caso não é de preocupação pública", Harry repetiu, "Por favor, dê algum respeito ao falecido e sua família."

Camille ficou parada ao mesmo tempo em que Harry andava de volta para sua mesa. A repórter o seguiu, mesmo que ela não devesse. "Isso pode dar um fechamento para a família, os deixe saber o que aconteceu."

Harry rapidamente se virou para encarar a jornalista insolente. "Você está apenas agindo como uma vadia imprudente ou é assim mesmo que você normalmente é?"

Camille foi pega desprevenida com a fala de Harry. "Licença, detetive, mas eu acredito que isso tenha sido totalmente fora de contexto."

"Fora de contexto é você marchar essa sua bunda para cá na esperança de que eu responda suas perguntas, que serão retorcidas assim que chegarem nas bancas de jornais!" Harry disse um pouco alto. "Não, eu não vou responder nenhum das suas perguntas e essa é a última vez que falo isso. Se você não ir embora, terei que te prender por estar interferindo em uma investigação privada."

Camille não falou mais nada. Ela, silenciosamente, deu meia volta e saiu do prédio, se sentindo envergonhada por ver ido até lá.

"Isso foi meio desnecessário, detetive." Paul apontou. "Parece que você está irritado com algum outro tema. Qual é o assunto?"

Harry correu a mão pelo seu cabelo e permitiu a saída de um suspiro. "Estou cansado." Se jogou na cadeira e começou a mexer nos papéis.

"Acredito que seja bem mais do que isso. Você está tornando esse caso muito pessoal. O que acontece?"

"Não é nada, Smith, sério. Apenas deixe rolar."

Paul colocou seu copo de café na mesa e puxou uma cadeira para se sentar ao lado de Harry. Gentilmente tocou o braço do detetive, ganhando sua atenção. "Você passou por alguma situação como a do Zayn?"

"O que? Não, claro que não. É só... Triste, sabe? Esse caso inteiro é absolutamente depressivo e eu nunca pensei que estaria tão próximo à ele."

"Isso é por causa do garoto? Louis?"

Harry encolheu os ombros. "Ele, a família, apenas não consigo parar de pensar sempre sobre isso. Quero dizer, foi o próprio amigo de Louis que-- bem, você sabe. Como eu deveria lidar com isso?"

Paul tomou um gole de café e se inclinou para trás. "Não acho que tenha um jeito de lidar com isso. Você meio que equilibra as coisas. Tudo termina bem no final. E se não estiver bem, então não é o fim."

"Eu li essa merda de frase na internet, mas você está certo. Vou só tentar fazer tudo isso funcionar, acho. Por favor, me diga que encontrou algo sobre abuso sexual que possa me ajudar aqui."

Paul abriu sua pasta e entregou alguns documentos para Harry. "Não tenho certeza de que vá ajudar, mas vale tentar."

Clean Criminal » Larry (Portuguese Version)Onde histórias criam vida. Descubra agora