xxv.

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Quando criança, Harry sempre quis se tornar algo impressionante. Ele pensava em ser um astronauta, mas depois de perceber que isso era totalmente cliché, ele queria ser um piloto de corrida. Contudo, sua mãe não gostou muito da ideia do seu filho correndo por uma trilha a mais de 200km/h. "É muito perigoso", ela exclamou. Harry concordou e, depois resolveu ser o presidente dos Estados Unidos, porque conseguiria fazer todo mundo pagar pizzas para ele.

Não foi até a adolescência que Harry pensou em ser um detetive e trabalhar dentro da lei e do sistema judiciário fez essa profissão se destacar para ele. Então, decidiu estudar para vivar um detetive. Ele não tinha certeza de que tipo de coisas ele teria que resolver, mas, como se vê, ele se saiu muito bem com casos de assassinato.

No entanto, Harry era um menino que estava constantemente sonhando, planejando e replanejando seu futuro. E quando ele beijou um garoto no seu segundo ano do colegial, Harry percebeu que ele queria passar o resto a vida dele com um homem, não nenhuma mulher.

A parte mais difícil foi contar isso para sua família. Afinal, Harry era o filho bom deles. Ele quase nunca se metia em problemas (a única vez que aconteceu foi quando estava defendendo uma coisa que acreditava) e ele conseguia A's por todo o boletim. Ele fazia o que seus pais mandavam e pedia por permissão para o que quer que precisasse. Ele era o orgulho e a alegria deles. Harry pensou apenas que tudo iria mudar por causa desse pequeno detalhe sobre quem ele era.

Assim que contou sua sexualidade, seu pai alegou que era uma mentira. Ele falou que nenhum garoto poderia amar outro garoto, pois era pecado. Sua mãe estava sentada no fundo, chorando por causa do seu bebezinho.

Quando tudo parecia estar indo por água a baixo, Harry levantou e disse: "Sexualidade não muda nada em mim. É apenas um adicional em quem eu sou. Eu gosto de beisebol e jogar cartas. Eu gosto de almôndega e salada de batata. Sou apaixonado por fotografia e música. O fato de eu gostar de meninos não muda nada. Ainda sou filho de você e ainda os amo. Eu só... Eu espero que possam aprender a me amar também."

E, cara, aquelas palavras cortaram como uma faca. Seus pais sabiam que ele estava certo. Eles sabiam que não era esse fato subjacente que determinaria se eles o amavam ou não. Eles teriam o amado mesmo se dissesse que se casaria com três mulheres, por que não o amariam quando a única coisa que disse foi que gostava de meninos? Se Harry quisesse ser uma garota, eles o apoiariam. O que tinha de tão errado em gostar de outro menino? 

"Falem alguma coisa, por favor." Harry havia implorado após um longo período de silêncio.

Seus pais olharam um para o outro e, então, seu pai se manifestou. 

"Nós te amamos, Harry. Amamos de verdade. E é por conta disso que queremos o melhor para você. Se gosta de garotos, então gosta de garotos. É isso."

Harry não sabia o que aquilo significava. Ele não entendeu muito bem o que seu pai estava tentando dizer. Mas, quando encontrou Harry e seu namorado mais velho gemendo na cama do filho, ele não segurou um berro e arrancou o garoto de cima do Harry. Quando o namorado já tinha ido embora, ele se dirigiu a Harry, "Se você quer namorar meninos, precisa ter as mesmas regras de namorar meninas. A porta do seu quarto deve ficar aberta enquanto vocês dois estiverem lá. Você deve perguntar se ele pode vir aqui para casa. Não haverá nada escondido. Entendeu?"

Harry assentiu e aprendeu a viver de acordo com essas regras enquanto namorava garotos na época do ensino médio. Ele sabia que seus pais não gostavam muito. Ele imaginou que aquilo era difícil de engolir considerando que eles haviam planejado toda sua vida e incluíram um casamento com uma linda mulher.

Um dia, durante seu primeiro ano no colegial, Harry ficou terrivelmente curioso sobre onde seu pai passava a maior parte do tempo. O fato de dificilmente ele estar na hora do jantar fez Harry se perguntar onde estava.

Com cuidado, seguiu seu pai para um bar, no qual ele se sentou para beber numerosos copos de cerveja. Pelo menos ele não está traindo a mamãe, Harry havia pensado na hora. Ele voltou para casa com provas o suficiente para usar contra seu pai no dia seguinte. Só que isso iria se provar ser uma péssima ideia.

Na outra manhã, Harry se sentou na mesa para conversar com seu pai. "Onde estava onde a noite, pai?"

"Fiquei até tarde no trabalho, tive que lidar com alguns números."

Essa era a parte um da mentira.

Harry mastigou seu cereal. "Por que não avisou a mamãe?"

O pai de Harry continuou lendo o jornal. "Não preciso falar para sua mãe. Além disso, ela tem outras coisas para se preocupar."

Essa era a parte dois.

"Por que o senhor estava no bar, pai?"

Isso prendeu a atenção de seu pai. Ele dobrou o jornal e o colocou na mesa, "como você sabe disso?"

"Por favor, eu te segui. Se torna um pouco suspeito quando o senhor aparece para jantar, sei lá, uma vez por semana. Eu pensei de verdade que estivesse traindo a mamãe, então, pelo menos, não é isso."

"Eu nunca trairia sua mãe."

"Se estivesse bêbado o suficiente talvez fizesse", Harry apontou. Seu pai se levantou, levando seu prato para a sala, tentando sair de perto do filho. Harry o seguiu. "Entendo sair uma vez por semana, mas todos os dias, pai? Isso é ridículo."

"Olha", gritou, "isso não é do seu interesse."

"Interessa quando sou parte dessa família!" Harry rebateu. "Você quer saber o que encontrei quando mexi no seu guarda-roupas? Você quer saber o que encontrei no seu carro ontem à noite? Você quer saber o que encontrei embaixo da pia, no armário da cozinha, ou na garagem? E aposto que se eu for para seu trabalho também encontrarei a mesma coisa lá."

"Isso não é sobre você--"

"Está certo. É sobre você! O senhor tem um problema, pai. Precisa tratar isso e tentar melhorar as coisas. Isso não é saudável. O senhor está doente e precisa procurar um médico."

"Oh, o que você sabe? É apenas um boiola."

Harry permaneceu parado na frente de seu pai com uma expressão de puro choque. Como seu própria pai poderia dizer uma coisa dessas? "Você... Você não quis falar isso. Está apenas irritado, não quis falar isso", Harry murmurou, tentando achar uma desculpa para o comportamento do pai.

"É claro que quis", exclamou. "Que tipo de homem eu sou para ter criado um filho que gosta de beijar, foder, e imaginar uma vida com meninos? Eu falei como pai e como homem."

Harry puxou o cabelo, com raiva percorrendo cada veia do seu corpo. "Quem eu amo não determina o tipo de homem que o senhor é. O fato de eu amar garotos não significa que falhou como pai. Minha sexualidade não tem nada, absolutamente nada, a ver com você ou com qualquer outra pessoa. Apenas interessa a mim, entendeu? Eu sou o único que tem a ver com isso."

Harry respirou fundo. "Mas você disse uma coisa boa, falhou como homem e como pai, porque é um covarde. É muito mais que um covarde para não perceber que tem um problema sério. É muito mais que uma porra de um covarde para nem mesmo falar com sua família sobre isso e procurar por tratamento médico. Por causa disse, você falhou como homem. Você não falhou somente como pai, mas também como marido."

"Saia da minha casa. Saia da porra da minha casa e nunca mais volte", seu pai ordenou com o rosto vermelho de fúria.

A partir desse momento, Harry nunca mais deixou o pensamento de ninguém sobre ele o influenciar. Ele não era definido por sua sexualidade, mas sim pela personalidade. Ele tinha que ser julgado pelo modo como tratava os outros, não por quem ele gostava. E, mesmo que não conseguisse ajudar seu pai, ele sabia que havia feito a coisa certa, mesmo que parecesse a decisão errada. Talvez procurar por Louis não tivesse sido a melhor decisão, porém ele sabia que era a coisa certa a fazer, e foi por conta disso que continuou dirigindo.

Clean Criminal » Larry (Portuguese Version)Onde histórias criam vida. Descubra agora