21-eu tenho um plano (de novo)

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A primeira coisa que penso ao acordar é:

"Por que raios eu fui sair sozinha?"

E a segunda é:

"Por que eu sou trouxa."

Não estou mais dentro de um saco, o que já é alguma coisa, aí eu noto aonde estou.

Paredes grossas de cimento cinza, grades na janela e portas fechadas com grades também. Nada necessariamente sujo ou parecendo mal cuidado.

É a cela mais bonita que já vi.

Não tenho nada pra saber onde estou, que dia ou hora é. Estou sozinha.

Aí vem a claustrofobia.

"Calma, Margo. Não desespera, respira. Um, dois, um, dois. Respira, inspira..."

Pulo para as grades e começo a balançá-las sem sucesso algum.

-ME SOOOOOOOOLTA!!-grito para o vazio. Não consigo enxergar nada além de outras celas atrás das grades, e volto para meu canto, encolida.

Estou quase entrando em pânico quando uma voz de fora diz:

-você tem uma garganta e tanto, garota. Com esses pulmões poderia ser nadadora profissional.

Vejo o encapuzado que me capturou. Por baixo do capuz, vejo alguns cabelos louros um tanto acima do ombro...

Ah, deuses.

Levanto rápido e vou até a grade, agarrando através das grades a gola do ser em minha frente.

-Cristopher, seu desgraçado eu não acredito que...-presto mais atenção e vejo um rosto diferente à minha frente. Parece um tanto...divino.

-que...que...

O ser sorri, e minha mão afrouxa.

-que...

Solto a mão e o encaro. Ele tira o capuz, e tem o rosto moreno e os olhos esverdeados. Têm cara de surfista.

-quem é você?-cruzo os braços.

Ele sorri mais ainda.

-Ainda não me reconheceu? Compreensível. Os livros e contos me fazem parecer tão mais velho...

Continuo boiando, estupefata demais para dizer algo.

O surfista levanta uma sobrancelha.

-Apolo. Mas alguns me chamam de senhor do Sol, e há quem diga que eu sou quente.

Poderia dizer coisas como "por que diabos me trouxe aqui?" Ou simplesmente "o quê?", mas o que digo é:

-meio óbvio. Você é o deus do Sol...

Ele bufa como um adolescente contrariado.

-você é igualzinha ao seu irmão.

-já ouvi isso antes.

Aí então me lembro o que ia perguntar:

-por que diabos me trouxe aqui...Senhor? -completo.

Ele levanta um pouco o queixo com se estivesse pensando.

-você não entenderia.

Assumo uma expressão incrédula.

-ah, então quer dizer que um deus poeta me sequestra logo antes de algo muito grande que tenho que fazer, e vêm e diz que "eu não entenderia"?-faço aspas com os dedos ao fim da frase.

-não é isso. É que você vai ficar revoltada.

Cerro os punhos.

-pode crer, eu já estou.

O Semideus Perdido (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora