Pôr do sol lilás

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Me toma
Me leva
No seu pôr do sol lilás
Onde o azul se mostrou capaz
De aquecer meu coração

Sua palha
Ilha beira
Abandona
Passa a peneira
Quem é que soma?
Quem somos?
Quem seremos?
Eis a questão.

Nesse monte
Nesse aclive
Me inunda nesse declive
Me afogue em solidão
Seu lago puro
Raso
Porém imundo
Se fará raro
Páreo para a minha isolação
Nesse verde azul que me acorrenta
Esse cinza que a minha visão acalenta
Fechem o céu
Faça chover
Não veja que sou eu
Seja você
No meu monte imundo
Seja puro
Tardio
Obscuro

Me leva nessa rampa
Lembre-se dos anos
Gangorra
Balança
Só quero dançar
No balanço dos seus braços
No gingado dos seus pés
Adormecer
Acordar com um beijo seu
Pois se é tudo
Como diz ser meu?
Nessa vastidão de cores inexplicáveis
Me arrasta
Me ata
Me prenda
Me faça sua
Me acalenta
Só sei te amar

No seu - meu monte
Subir
Dele afluir
Me abrigar
Poesia maldita!
Não quero parar de cantar
Na sua canoa
Minha cama
Me avoa
Se apoete comigo
E garoa será minha lágrima perdida
Do lado de lá

Meu ponto
Meu final
Meu princípio
Quem garante que estará comigo
Quando essa jornada se encerrar?
Me perdoa
Enxergue e desfoque
Voz de criança
Respiração ofegante
Minha casa flutuante quer me afogar
Minha casa junta a margem do rio
Do rio baixo
Sim, me abandonar
Dessa paz serena que me engana
Ela irá me apagar

Meu pôr do sol lilás,
O que dizer de ti e de suas sombras claras
Para variar?
Virá ao meu encontro
No meio da estrada
Me tomará nos braços
Me rodopiará feito menina
Fazendo lembrar a mulher em mim
Que uma parte de mim
Nunca, nunca cresceu
Ainda ingênua
Carente
Inocente
Quero perdoar

Meu pôr do sol lilás,
Deixe-me prostar-me diante de ti
E te assistir enquanto o dia vira noite
Enquanto a noite te leva de mim

Ó, meu pôr do sol lilás
Por que é tão difícil dizer o que é fácil?
Te ver saber o que sinto
Como faço
Não conseguir expressar
Cores
Balanços
E traços
Neles irei
Me perderia
Me encontrarei
No seu branco cinza negro de calmaria
Seu azul de imensidão
Seu verde de intensidade
Seu monte que de alto a baixo me domina
Me faz pequena
Não quero crescer
Quero sentar-me quieta e mansa diante do meu pôr do sol ofuscante
Meu pôr do sol lilás brilhante
Para poder dormir em paz

+++
2016

Polliana Oliveira

Prelúdios de uma poeta livreOnde histórias criam vida. Descubra agora