Ninguém precisa saber

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Ninguém precisa saber que eu pus a lua para dormir
Ninguém precisa saber que eu acordei com o sol
A verdade é que eu sou uma coruja humana
E eu gosto de ver as manhãs

Como as espumosas flutuam sobre o mar
Elas o dominam
Levando consigo o cheirinho de pão fresco
Da água fervendo no bule

Ninguém precisa saber que eu amo as manhãs
Pois quando elas nascem
É aí que vou dormir
Recuperar o tempo perdido
O espaço vazio que terei de cumprir

Desse vento que sobrou
E não sobrou metade
Do canto perdido de um pássaro acolá

Ninguém precisa saber que as noites são os meus dias
Porque o dia nunca acaba
Nunca começa
O dia é interminável
Desde o dia em que começou

Manteiga quente
Uma casca quebrada
Um beijo roubado
O som duma risada
E um pássaro acolá...

Há um instante atrás
Um boa noite foi dito
Os pássaros não entendem
Onde é que mora o conflito?
Bom dia para quem vier passar

Ninguém precisa saber que eu rompo a corda nos dentes
E feito lunática
Fico cantando os poentes
De todos os pôr-do-Sol que deixei passar

Óleo queimado
Uma voz mansa
Um sorriso dobrado
Um beijo profundo
E um pássaro acolá...

Buzinas intermináveis
Me fazem me sentir sozinha e vulnerável
Aqui, deitada nessa cama
Enquanto o mundo faz a vida mudar
Minha vida só muda se eu um dia eu apagar

Um canto puxado
Uma nota mais alta
Uma mão no seio
Um suspiro solto
E um pássaro acolá...

Uma legião de perturbação
Aprendi a amar as manhãs
No meu silêncio secreto
No meu secreto alvoroço
Enquanto finjo dormir
Enquanto o mundo trabalha

O roncar dum motor
Um pio estridente
Um gemido ensurdecedor
Mão debaixo do cobertor
E um pássaro acolá...

Peças jogadas ao alto
Lençol desarrumado
Travesseiro ao pé da cama
Gera-se uma bela criança
E um pássaro acolá...

#Susan
#364dias
#fiodobisturi
#depoisdevocê

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26/03/2016

Polliana Oliveira

Prelúdios de uma poeta livreOnde histórias criam vida. Descubra agora