Brasil II

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Eu nasci no circo
Colorido, bonito, animado
Lá todo mundo se amava
Ninguém ficava pra baixo
Sempre amei o circo
Seu movimento mantinha meu coração agitado
Até que cresci e notei que só existia o mesmo espetáculo:
A cafonice é moda
Ser educado é ser assanhado
Quem estuda é de outro planeta
Quem se reboca é descolado
A bola no pé é distração das contas
Compensação do salário mal pago
O pobre assaltando o pobre
O rico investindo no rico
O agiota vestido de terno
Comida é luxo, é paparico
Esse não era o meu circo
O circo onde havia crescido
O circo que havia me criado
Meu jovem circo caía em ruínas
Mas todos estavam muito concentrados no espetáculo
Aplaudiam eufóricos os tolos
Eu me esquivava de lado
O malabarista havia caído da corda
O palhaço havia perdido o seu nariz vermelho
Os dançarinos haviam quebrado seus tornozelos
As barras de ferro todas enferrujadas
O fogo do mágico perdido o efeito
Estava tudo em chamas
Os cenários caíam
Contanto que o samba tocasse
Pros tolos, nada estava perdido
Eu gritava ao máximo da minha voz
Puxava as pessoas ao máximo da minha força
Dizia: "Salvem-se!"
Mas no cenário destruído elas ainda viam graça
Lavei minhas mãos na frente do povo
Diante do palhaço limpei minhas costas
"Conduza o seu espetáculo até a próxima geração
Até que não seja mais possível ouvir-se risadas."

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08/11/2017
01:39 p.m.

Polliana Oliveira

Prelúdios de uma poeta livreOnde histórias criam vida. Descubra agora