Explicação

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Como é que se explica algo que não pode ser explicado?
Como posso me permitir conhecer outros
Se eu mesma não me conheço?
Eu sou a escória e o resto podre de tudo o que há
Em minha mente, lamento
Em meu coração, sangro
Boto os dentes pra fora
Ninguém pode desconfiar
A vontade de sumir é imensa
Mas sumir... pra que lugar?
Não existe telha que tampe a Sua vista
Nem venda que possa acobertar
Queria às vezes não saber quem Tu és
Então eu não me cobraria tanto
Mas se me cobro é porque sei que posso dar mais de mim
Quando tudo o que eu quero é desaparecer
E nas linhas insanas que eu escrevo mergulhar
Queria mesmo é ser uma fagulha pequena e mirrada e ridícula
Ninguém poderia me enxergar
Mas quando acordo pela manhã
E também nas madrugadas
O rosto pálido no espelho me conta outra história
Uma história de fé, esperança e determinação
Não quero jogar a toalha
Não sei o que estou fazendo
Nem mesmo sei por que vim à vida
Mas se me foi dado esse presente
O que mais eu poderia fazer, senão usufruí-lo?
Poetizo o outono e desertos
Estou de olhos fechados
O coração aberto
Não há ninguém aqui agora
Não quero ninguém por perto
O ser humano é tão inteligente
Que eu me sinto ignorante
Porque tudo é tão vasto
E eu sou tão pequena
Tudo é tão grandioso
E eu sou tão mirrada
Tudo é tão... tudo!
E eu sou tão nada
Tropeço, e chuto as pedras que encontro pelo caminho de terra
Vou chegar em algum lugar
Chegar em lugar nenhum
O outono foi embora depressa
E me deixou pesar
Mamãe e papai não entendem
Nem eu mesma entendo
Por que eu tive que nascer?
Por que tive que crescer?
Por que não posso sumir?
Desaparecer...
Evaporar...
Tudo que eu quero é devorar a minha sede de vida
Não há mais o que fazer
No fim das contas, é só jogar a toalha
E esquecer
Cobrir o rosto e os olhos inchados
Fingir que não é comigo a piada
Não sair da cama, ver ninguém
Ver o sol raiando e saber que deveria estar lá fora
Tudo isso acima é extremamente idiota!
Ninguém tem culpa do meu excesso de tristeza e pesar
O peso que corrói meus ossos e as pálpebras
Não dou orgulho pra quem me cuspiu na terra
Agora, que o vento leve esse cuspe maldito
Sou só um esporro mal compreendido
Em mim não há veracidade
E hoje à noite, quando olhar nos olhos de todos e sorrir
Vou jurar a mim mesma, em secreto:
"Hoje vou partir"
Porque cansei de sonhar com os alpes, e florestas e lagos
Estou farta de não ter Romeu ao meu lado
Cansei de não ser quem nasci pra ser
Adeus, mundão!
Adeus, pai e mãe!
Adeus, todas as pessoas com quem fui estúpida!
Eu sinto muito.
Não leve em conta nada do que disse de mal
Lembrem apenas que eu amo o outono
O azul do mar, e os dias chuvosos
Café cedo pelas manhãs, pés descalços
Árvores nuas...
Assim como minha alma agora exposta
Esteja certo de ouvir minha voz no canto dos pássaros
Eu nunca deixarei de acordar

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02/05/2018
05:45 a.m.

Polliana Oliveira

Prelúdios de uma poeta livreOnde histórias criam vida. Descubra agora