Capítulo 6 - O filho volta

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Rafael

São exatas 17 horas e a ansiedade me corrói. Passei a semana toda aguardando por esse sábado, desde segunda que anseio por esse culto, pois é bem verdade que mal consegui dar atenção as coisas da empresa ou as aulas na faculdade, com tanta expectativa que criei. Algumas vezes durante essa semana pensei em desistir pela vergonha de tudo o que fiz e como abandonei Deus por tão pouco. É tão cedo e já estou me arrumando de tanta vontade que estou de encontrar meu pai.

Entro no closet meio perdido, não sei o que vestir, faz tanto tempo que não vou a igreja que nem sei por onde começar. Decido por fim ir como nos velhos tempos. Peguei uma calça jeans de lavagem escura, quase preta, uma blusa branca de gola V, engraçado eu ainda a tenho, esse foi um dos presentes que Hanna me deu no nosso 6 meses de compromisso e eu não a dei nada - suspiro - ou baixinha como sinto falta de você e da sua alegria - falo para mim mesmo - pego meu sapatênis e finalmente pronto. Quando checo o relógio vejo que só se passaram 15 minutos. Não aguento mais ficar em casa. Acabo por decidir tomar um café na padaria da esquina e de lá vou para a igreja, afinal o culto começa só as 18:30 e não quero chegar cedo, não quero todos me olhando e me julgando. 

Dirijo até a esquina, desço do carro e vou atras de um cappuccino e um croissant. Depois de pagar pelo lanche decido por comer lá mesmo para fazer hora. 

[...]

Faltam 5 minutos para o culto iniciar e eu estou aqui em frente a igreja. Vejo os jovens entrando para se assentarem. Quando não tem mais ninguém do lado de fora desço do carro. Ando até ficar de frente aos degraus para entrar no templo e um medo me invade. O medo de ser julgado, de não ser aceito, de Deus não me querer de volta, um calafrio percorre a minha espinha e sinto um fardo sobre mim. Pensamentos de que não sou digno de sentir a Deus novamente vence e eu Desisto. Giro sobre os calcanhares e sigo retornando para o carro. Quando estou abrindo a porta sinto uma mão grande e pesada no meu ombro.

- Ei fique. Não vá - Era o Rodrigo

- Pensei que ninguém tinha me visto - Giro - me para encará-lo.

- Eu vim aqui fora atender uma ligação e te vi. Cara não desista. Não dê ouvidos ao diabo na sua mente, Deus tem algo para falar com você essa noite.

- Cara eu não sei se devo ficar. Deus é tão puro e santo. Não sou digno de estar na presença dele. Acho melhor eu ir embora. - Afirmo de cabeça baixa

- Não Rafael. Deus te ama. Ele te quer aqui. Não existe coincidência, tenho plena convicção de que Deus me fez atender o telefonema para te ver e não deixar você ir embora. Vamos. - Ele me estende a mão, dou a ele que me puxa para um abraço e o escuto fungar e em seguida sinto algo molhado na minha blusa, só então percebo que ele está chorando. 

- Que saudades de você cara. Oro tanto pela sua vida. Te amo meu irmão. - Ele me larga, enxuga os olhos e me deixa passar na frente e vem logo em seguida me seguindo.

Sento no último banco da igreja, escondido no canto e Rodrigo senta ao meu lado. O louvor já está rolando. Olho para cada canto da igreja, só então percebo como sentia falta desse lugar. No começo me sinto enferrujado e não sei muito o que fazer. Vejo a galera celebrando, pulando, cantando, adorando e me sinto tão perdido. Rodrigo me encara e me empurra, fico rindo com sua atitude, me solto aos poucos e começo a pular com ele e a cantar a letra da música.   

Então começam os louvores lentos, fico encarando as pessoas o adorando e percebo que não sei mais como fazer isso. Me sinto tão sujo, tão perdido. Como era do louvor sei que vai ter a terceira música lenta e em seguida a palavra. Aos primeiros toques da canção sinto um arrepio. Não acredito que é essa música. Logo essa que eu adorava tocar para Deus. Olho para o altar e vejo o Arthur tocando e o Rodrigo com o microfone na mão. Só então percebo que ele não está mais ao meu lado.

Um só caminho - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora