Capítulo III

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Me olhei no espelho e tentei mais uma vez arrumar meu cabelo, sabendo que não adiantaria nada. Não sabia o porquê dos meus pais resolverem fazer um jantar em família, ainda mais em uma segunda-feira, mas como sabia que seria importante não apenas para mim, mas também para o Gustav, eu não me importei de ir.
Pegando os três presentes, ao qual mandei Richard comprar, entrei no meu carro e fui para a Wrigth's House, como meus pais gostam de chamar.

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- Meu filho, que bom que você veio. - saiu de dentro da casa uma mulher idosa, porém bem vaidosa, minha mãe.
- Olá, mamãe. É claro que eu viria, mesmo ninguém me avisando o motivo.
Aproximei-me dela e lhe dei um beijo na testa da mulher e entrei  na casa a procura do Gustav.
- Se você está procurando seu irmão, ele está lá em cima. Ele não participará do jantar, pois vamos tratar de assuntos de negócios.
- Em primeiro lugar, mãe: o Gustav não é meu irmão e sim meu filho... ainda não sei o porque escondemos isso por tanto tempo.
- Para sua segurança, e continuaremos escondendo até o momento que acharmos que ele está pronto.
- Mãe, ele já está pronto. Não é porque o garoto tem oito anos que ele não pode saber que eu sou seu...
- Will - gritou um garotinho alegre que vinha correndo da escada em minha direção para abraçar-me - Por que você não me disse que você ia vir?
- Porque eu queria fazer uma surpresa, campeão. Vem cá dá um abraço no seu irmão.
Imediatamente, senti uma grande alegria ao ver meu filho, mas em minha cabeça eu nunca entendi o porque dos meus pais ainda esconderem esse fato do menino. Sim, eu sabia que quando tive o Gustav era ainda um garoto de 18 anos, sabia também que minha religião não permitia terem filhos antes do casório, ainda mais um adolescente que não tinha emprego e responsabilidades.
- Aqui, Gustav. Comprei alguns brinquedos para você. - sorri alegremente quando vi o olho do meu menino brilhando de felicidade.
- Obrigado, Will. Olha, mamãe - mostrou os brinquedos à minha mãe, que sorriu.
- Vai pro seu quarto querido. Hoje teremos um jantar importante e precisaremos do seu irmão aqui. Boa noite.
- Ah... tudo bem então. Boa noite, mãe. - abraçando-me - Tchau, mano.
- Tchau, campeão. Dorme bem.

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Quando o convidado, que eu esperava ser muitos, mas era apenas o meu primo Lucke, chegou sentamo-nos na mesa e fomos discutir assuntos de negócios. Não consegui parar de olhar no meu relógio, pois não estava me sentindo confortável no rumo que a conversa levava, para mim já havia passado uma hora, mas segundo o relógio só tínhamos nos sentado à mesa havia cinco minutos.
- Sim, tio Jonas. Eu já tentei convencer o Will a cuidar da sua loja, mas ele só pensa em arquitetura. Eu já não posso fazer nada.
- Eu sei, eu sei. A culpa não é nossa se Will é cabeça dura.
- Eu não sou cabeça dura, só porque o senhor quer que eu siga os seus passos e não os meus próprios.
- Tudo bem, então. Não falarei mais nada e daqui à alguns anos você me dará razão.
- Hum. Tá bom, então.
- Claro que dará, Will. Olha só esse Império que o tio construiu.
- Império? Para mim isso é apenas uma casa.
- Você diz isso porque a sua casa se parece com essa, mas para mim, que mora em um simples apartamento, isso aqui é um castelo.
- Ah, por favor - eu rebati, debochando - Você diz isso como se seu apartamento não fosse como um hotel cinco estrelas. Se está tentando impressionar o meu pai, acho que já disse o suficiente.
- Você se acha o melhor né, Will. Mas saiba que o melhor aqui sou eu, pois eu sim seguirei os passos certos, os passos da família, os passos do pai.
- Pai? Como assim pai?
O meu pensamento estava em turbilhão e eu não sabia o que pensar, o por quê do meu primo estar chamando meu pai de pai? Será que eu estava tão cansado que estava ouvindo coisas?
- Acho melhor você contar pra ele logo, pai.
- Ur ur... Então, como seu primo disse, ou melhor dizendo, seu irmão disse, sim, ele é mesmo o meu filho, sendo assim, seu irmão.
- Mas.... como?
- Ah, pelo amor, Will. Vai dizer que você não sabe como se faz uma pessoa? - disse Lucke, rindo.
- Lucke, cala a boca e deixa que eu mesmo cuido disso. Bom, Will... como eu vou te contar isso... hum... acontece que antes de eu me casar com a sua mãe,  eu me envolvi com outra mulher, a mãe do Lucke no caso, alguns meses depois, quando eu e a sua mãe já tínhamos casados a mãe do Lucke apareceu com uma criança no colo e disse que estava muito doente e que em poucos dias morreria e que, por isso, eu teria que cuidar do garoto. Sua mãe, é claro, não aceitou o menino como seu filho, dizendo a todos que era um sobrinho dela, e que a sua irmã havia falecido. Minha família acreditou, mas a família da sua mãe, que sabia que Rute não tinha nenhuma irmã, apenas aceitou uma boa quantia para ficar de boca fechada.
" Lucke, até os 10 anos, acreditou ser realmente nosso sobrinho, mas ele encontrou uma carta da mãe dele para mim e me perguntou sobre ela, eu e Rute conversamos e decidimos contar a ele a verdade. Claro que no começo ele não aceitou..."
- Calma aí, foi naquela época que o senhor fazia tudo que ele pedia?
- Sim, exatamente por isso. Ele falava que ia lhe contar, e como eu não gostaria que você soubesse... Mas, continuando... Depois ele foi se adaptando, me chamando de pai logo em seguida e, por isso eu estou dando a ele a minha loja.
- Ou seja, de qualquer forma, eu seguindo sua carreira ou não, a loja seria do Lucke?
- É claro que sim. - disse Lucke
- Não, é claro que não, a loja seria sua... mas, desde você falava em arquitetura. Sendo assim, já estava óbvio que você não seguiria meus passos.
- Ah... certo... que seja, acho que já fiquei sabendo demais sobre o passado, e minha cabeça está latejando. Vou para casa. Boa noite.
A minha cabeça estava latejando de dor, lembrei-me que meu pai já contou essa história uma vez antes de dormir, mas nunca cheguei a imaginar que era a história do próprio.

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Já deitado, fiquei pensando na mulher que conhecera mais cedo. Lembrava dos seus olhos verdes e do seu sorriso que poderia curar qualquer doença, lembrava da sua boca avermelhada que, mais cedo, sentira vontade de beija-la. Nunca eu tinha conhecido uma moça tão bela quanto. Até a mãe do Gustav, ao qual na época fui muito apaixonado, não tinha me causado esse efeito que a Mary causava.
Sabia que estava apaixonado, só não sabia como, pois não conhecia ela, apenas sabia seu nome. Mas, idependentemente disso, eu sabia que ela viraria minha vida de cabeça para baixo.

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