IV

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IV 

         Theo não conseguia tirar os olhos dos cabelos brancos daquela menina. Ela estava deitada nos trilhos, fios espalhados para todo lado. Usava um vestido azul claro, provavelmente de seda. Estava desacordada, os lábios entreabertos, a pele lisa. As sobrancelhas eram alvas. Os cílios. Era irrevogavelmente uma garotinha, não uma senhora.

Forçou-se a olhar os outros. Mais uma garota, saia preta curta demais e botas de cano alto, de bruços. O cabelo era negro como piche, longo, espesso. Os braços eram doentiamente pálidos.

         E havia um rapaz. Theo engoliu seco ao ver que o cabelo dele era o mais vermelho que já viu na vida. Era muito vermelho, irreal. Na verdade, ele já imaginou alguém com exatamente aquele tom de vermelho nos cabelos. E assim como a garota de cabelos brancos, as sobrancelhas do rapaz eram vermelhas também. Além disso, o cabelo era curto e espetado pra cima. Usava uma roupa quente demais para primavera. Um casaco longo, bordô, que de acordo com o que Liv lhe dissera uma vez, era veludo. Tinha duas fileiras de botões dourados e belos, a gola era alta. Havia bordados em dourado no tecido. Calças longas e botas pretas.

         — Awwnn – a garota da saia curta gemeu e apoiou as mãos no chão, se erguendo. Jogou os cabelos pro lado, olhou o rapaz à sua esquerda e berrou:

         — Pyro, seu idiota maldito! Olha o que você fez! – ela se pôs em pé num salto e bateu as mãos uma na outra.

         Estava de costas, não vira Theo, Liv ou Archie.

         E num ataque de fúria, chutou o lombar daquele que ela chamou de Pyro, com força.

         — Onde a gente tá? – ela voltou a gritar. E a chutar. – Levanta!

         Ele gemeu.

— Chega, Lyra! – ele ergueu o tronco, mas se manteve sentado. Olhou os lados, e pareceu ignorar as três pessoas à sua frente. – Eu não sei que lugar é esse. Mas eu acho que esses caras aqui sabem. – apontou o indicador direto para Theo.

A garota chamada Lyra se virou com fúria, e Theo vislumbrou seu rosto. Pálido como os braços, a testa enrugada. Os olhos eram azuis, muito azuis, mais que os de Archie. Pareciam pedaços de céu. Destacavam-se pelo negro dos cabelos. Os lábios estavam cobertos de batom vermelho forte, e apertados numa linha cruel.

Ela parecia furiosa.

Theo ainda reparou que os ombros dela estavam nus, e que usava apenas um corpete cinza-chumbo, bordado delicadamente, mas que mostrava muito a curva dos seios.

— E quem são vocês? – ela perguntou com autoridade.

Theo não sabia onde estava sua língua, e se ele estava assim, Archie estava vinte vezes pior.

— Eu- – Liv começou a falar, mas ouviu um barulho conhecido.

O trem das quatro horas.

Theo olhou pra trás, e lá vinha a locomotiva, enorme, vermelha e fumacenta. O maquinista soou seu sino, alertando algo.

A garota de cabelos brancos ainda estava nos trilhos.

— Meu Deus, o trem! – Liv olhou a menina e depois o irmão. E para Lyra e Pyro, que estavam empacados olhando a locomotiva, inertes. Assustados?

Lavender largou sua pasta no chão ao ver que ninguém faria nada. Correu até o trilho e sacudiu a garota, que começou a acordar. Só então Theo conseguiu se mover e ajudar a irmã. Os dois carregaram a moça até perto de Archie, e o trem passou por eles.

O Orbe de Reidhas - Legend of Raython, spin-off #1Onde histórias criam vida. Descubra agora