XXXVII
— Hey Peg.
O animal virou a cabeça, procurando a voz.
— Aqui, garota. – Lyra se aproximou do falcão, que lhe bicou o dedo. – continua afiada, ao menos. – ela levou o dedo cortado à boca.
Peg era um belo exemplar de falcão-peregrino, que ela ganhou há dez anos. Sempre saíam para caçar pela floresta élfica.
Era noite cerrada, e Lyra não queria dormir. Subiu ao viveiro de Peg principalmente porque já estava em Raython há uma semana e ainda não a visitara.
— Desculpe não ter vindo antes. Certo, pode me bicar de novo, eu mereço, vai. Então, cuidaram bem de você? – Lyra acariciou suas penas rajadas.
— Eu me assegurei pessoalmente disso, e tenho um monte de cicatrizes pra provar. Peg e eu nos demos bem depois de umas duas semanas de, hã, brigas. – a voz divertida disse.
Lyra riu e olhou pra trás.
— Achei que ela gostava de você, pai.
— Hã, hã. Ela não gosta de ninguém. – apontou a ave.
Raziel Thrower era alto como quase todos os homens da família, e tinha um porte bem altivo, mas não era tão imponente. Seus ombros eram mais relaxados, e sempre havia um sorriso bobo entre a barba que deixava por fazer. Seu cabelo era uma juba negra, fios esparramados para todos os lados. Crescidos, mas não tanto. Como a avó dizia? O imperador do desleixo. Só que tudo isso desaparecia quando se fitava os olhos dele. Azuis como céu de verão, limpos e faiscantes.
Ele estava sem o casaco e o cajado que o denominava imperador. Vestia uma camisa preta simples, calças da mesma cor. Ele andou até a seteira que nunca foi usada e se sentou no beiral. As pernas pra fora, pendendo.
Chovia como sempre, raios caíam como sempre. Era a maldita Raython, cinza e úmida por toda a eternidade.
Lyra observou o pai e deixou Peg. Sentou-se ao lado dele.
— Você não tem saído muito esses dias, estou seriamente preocupado com você, moça.
— Ah. Eu, sei lá.
— Phyreon fez algo com você?
— Nem olhou na minha cara. Nem dirigiu a palavra. Só pegou a coisa e enfiou no… na sala.
— Hm. Quase tive que bater na sua avó pra te deixar em paz, sabia? Ô velha, viu.
Lyra riu.
— Então é por isso que Lady Elektra não está no meu pé?
— Sim. Mas Lílian andou falando demais, ela soube de coisas. E está louca para te bombardear de perguntas.
— Típico. Sabe, pai. Esse mês. Essa foi a coisa mais… mais estranha e mais fascinante que eu já vivi.
Ele assentiu para que ela continuasse.
— Era outro mundo. Não só outro lugar. Tudo era tão diferente… as casas, as pessoas… principalmente elas. E havia tantas coisas estranhas, tipo bolas de vidro que acendiam com eletricidade e iluminavam tudo sem magia. Eles… eles faziam coisas mágicas sem usar magia, entende?
Lyra fez uma expressão confusa, e seu pai a imitou.
— Não…
— Esquece então. – ela suspirou. Era a primeira vez que falava de lá. – O nome da cidade é Rhenium Valley. E havia uma escola chamada Aurum. Havia porque ela foi praticamente destruída.
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O Orbe de Reidhas - Legend of Raython, spin-off #1
FantasyQual é o seu sonho? Theophilo Steamwork sonhava com o mundo dos livros que lia, em ver todos aqueles seres mágicos. Sonhava em fugir daquela cidade de ferro e vapor, onde não cumpria as expectativas. Seu sonho era impossível, porém. Christopher Fair...