XIX
Catherine Hemingway começou a fazer contas mais cedo que qualquer outra criança, e isso chamou a atenção de seus pais. Ela nunca se importou em queimar etapas e concluir uma graduação em matemática com doze anos.
Era melhor que todos eles, isso lhe bastava.
A ciência e seu fascínio por ela não a deixava aberta a muitos relacionamentos. Teve uma amiga uma vez, mas logo a garota se afastou. Cat pensou que ficaria melhor sem ela, e continuou.
Nas universidades que frequentou, se não chamava a atenção por sua idade e notas altas, chamava pelo cabelo incomum. Cat sempre achou uma perda de tempo tentar penteá-lo. Conseguia projetar um dispositivo novo com o tempo que gastaria ao arrumá-lo todos os dias.
Também nunca ligou para isso, aparências. Sua vida sempre foi contas, materiais, solda e chaves de fenda. O resto era simplesmente resto.
Isso incluía seus pais. Pensando bem, ela não os via há quase dez anos.
Quando entrou para o exército, Dominique ainda não era tenente. Ela foi responsável por treinar Cat na parte militar, como atirar e se defender. Logo Nicky virou amiga dela, que foi aceitando isso devagar.
Isso tudo fez Cat se lembrar de algo.
Que tinha trinta e dois anos.
E nunca tinha beijado ninguém.
E do nada essa constatação, que nunca tinha incomodado, passou a ser séria. Porque aquele não era um cara que ela estava com interesse há semanas e sonhava em ter nos braços.
Ela conheceu aquele homem há meia hora.
Estava beijando um completo desconhecido, e pior, estava gostando daquilo. A barba dele fazia cócegas no seu rosto. E era tudo tão estranho. E ele apertava-a contra o peito, tentando passar os dedos por seus cabelos cheios.
Os braços rígidos de Cat caídos nos lados do corpo atrapalhavam no abraço. Como via os casais nas poucas vezes que saía nas ruas? Lembrou-se que não reparava neles.
A ciência tinha roubado muito dela. Por tempo demais.
E com relutância, ela conseguiu fechar os braços em torno da cintura dele. Chris logo tomou suas mãos e levou-as até sua nuca, sem partir o beijo longo, e Cat agarrou seus cabelos curtos. Curtos e lisos, e eram sedosos também.
Chris soltou os lábios dela e passou para as bochechas. Beijou aquelas sardas maravilhosas, e depois o pescoço. Já ia afrouxar a gravata dela e abrir um botão da camisa quando ela o soltou bruscamente.
Ei, Chris. Ela não é uma vadia que você pagou. Calma lá filho. Mas eu não abri a camisa dela, só pensei em fazer isso. Preciso conferir a medida daquele busto, estou chutando cento e vinte.
Ela só o encarou por um segundo, pegou os óculos da mesa e saiu correndo da sala.
— Ela achou os óculos, hã? Que merda.
●●●
Dominique penteava seus cabelos negros depois de um longo banho numa banheira enorme. Usava sua camisola de verão mais leve, naquele lugar fazia um calor dos infernos.
Viu o pijama de Cat estirado na cama dela e se perguntou como a amiga conseguia dormir com aquilo naquele calor.
O espelho permitia que visse o corpo todo, assim Nicky virou de lado para ver o comprimento dos fios negros. Iam quase aos quadris, e precisavam de corte. Mas como? Estava presa ali por tempo indeterminado. E também não podia exagerar no corte, ou não conseguiria amarrar o coque e teria que cortar rente à nuca.
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O Orbe de Reidhas - Legend of Raython, spin-off #1
FantasyQual é o seu sonho? Theophilo Steamwork sonhava com o mundo dos livros que lia, em ver todos aqueles seres mágicos. Sonhava em fugir daquela cidade de ferro e vapor, onde não cumpria as expectativas. Seu sonho era impossível, porém. Christopher Fair...