O encontro (parte 1)

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Era um dia qualquer, daqueles que você acorda com a rotina pré fixada. Eu levantei às 07h, como de costume, cara inchada, duas olheiras enormes e o cabelo tão bagunçado que mais parecia um ninho de pássaros. Enquanto tomava banho, planejei meu dia de trabalho, estudos e faculdade, como de costume. Também pensei um pouco na vida, como qualquer ser humano faz quando está debaixo do chuveiro, ou deitado no travesseiro. Pra mim, era uma quarta feira qualquer, mas eu mal sabia que o destino havia preparado uma surpresa para aquele dia, que iria interferir diretamente em toda a minha vida. Terminei o banho, me troquei, peguei meus livros e sai correndo, rumo ao meu primeiro estágio, e, diga-se de passagem, já super atrasado.

Naquela época, ainda no início do meu curso de Direito, fazia 2 estágios, um pela manhã e outro a tarde, intercalados por 1 hora de almoço, mas que muitas vezes virava um lanche, tendo em vista a dificuldade de andar 20 minutos pra chegar em casa e na volta, gastar mais 20 minutos pra chegar ao trabalho. Sequer dava tempo de engolir o almoço, e das vezes que arriscava a comidinha da mãe, chegava tão suado no segundo estágio, que dava a entender que eu havia corrido uma maratona. E realmente era! Mas eu me esforçava! Era meu futuro em jogo.

Já eram 15h40, tudo estava indo bem, sem muita novidade. Atendimento ao público, advogados e serviços internos, essa era a minha rotina diária. Pausa! Era hora do café, e uma voz vinda do fundo da sala sugeriu comprar pão de queijo. Sim, isso é lei em Minas, e super indico para os turistas que desembarcarem por aqui. Era a minha vez de ir na padaria buscar o lanche da turma, então, recolhi o dinheiro e fui. Eu nunca vou me esquecer daquela quarta feira! Nem Ela!

Cheguei na Padaria na hora do apito - as padarias daqui soltam tipo uma buzina quando o pão quente fica pronto -. Ela já estava lá, bem no cantinho, meio acanhada! Me aproximei do balcão, fiz o meu pedido e, enquanto contava o dinheiro, escutei um barulho vindo das gôndolas. E uma menina mais desastrada que eu, havia derrubado quase que a prateleira inteira de biscoitos. Segurei o riso, mas fui ajudar. Ao me abaixar, o perfume dela automaticamente me deu um tapa no rosto, e na alma. Lembro até hoje daquele cheiro maravilhoso, indescritível, de arrancar suspiros até de quem não tem um bom olfato. Já seria assustador a forma como aquilo havia paralisado meus sentidos, mas o pior, ou melhor, ainda estava por vir.

__Não se preocupe moço! Eu pego. E com essa simples frase, ela travou meu psicológico, não pela simplicidade das palavras, mas pela consequência produzida. Ao decidir respondê-la, tive que lhe olhar nos olhos, e confesso, até hoje não me esqueço daquele olhar. Eu poderia ficar ali, por horas ou dias, apenas encarando, paralisado com tamanha beleza. Que porra estava acontecendo comigo?! Fiquei tão sem graça que lhe ajudei, e simplesmente fui embora. Que tipo de idiota faria isso? Eu fiz! E o que havia acontecido comigo? Ou melhor, o que estava acontecendo?! Eu cheguei no estágio sem o bendito pão de queijo. Ora, eu sai pra buscar o lanche, voltei sem o lanche, mas com uma sensação tão boa que saltava aos olhos. Mas as perguntas que me cercavam eram essas: __ Por que eu não puxei conversa? Por que eu não perguntei o seu nome? Por que não elogiei aqueles olhos? E a principal de todas... O que eu estava fazendo ali, que ainda não tinha voltado pra buscar o pão de queijo e as respostas dessas perguntas!

Eu fui, apressei os passos no receio dela já ter ido embora, e quando cheguei (...)

Se apega, sim!Onde histórias criam vida. Descubra agora