O dia da alta (parte 26)

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(...) Peguei no sono, e fui acordado pela minha mãe, assim que o médico chegou no quarto pra liberar a minha alta médica.

__ Vamos embora campeão? Sua alta está liberada. Disse o médico, enquanto preenchia toda aquela documentação.

Chegou o dia de esclarecer algumas coisas! Ainda com a cara inchada e alguns hematomas, troquei de roupa vagarosamente, enquanto pensava as mil e uma formas de abordar Juh na casa dela.

Antes de juntar todas as minhas coisas no quarto, fui surpreendido por um Policial Civil, que trouxe uma intimação para comparecimento naquela delegacia, em 48 hras. Assinei, agradeci e caminhei junto com o policial, em direção a saída do hospital.

__ Você sabe se já ouviram alguém nesse inquérito? Perguntei ao Policial.

__ Meu jovem, trabalhamos feito loucos nesse inquérito. O que aconteceu com você foi gravíssimo, e o delegado só está aguardando pra te ouvir e tomar providências.

__ Entendi! Irei sim, com maior prazer. Conclui e tomamos rumos opostos.

Ali, logo na recepção, estava Camila me aguardando, juntamente com o resto da família. Naquele momento, até minha mãe, que sofria de ódio da Camila, estava amando ela, pela prestatividade e companheirismo que ela demonstrou nesses dias.

Juntamos tudo, e fomos embora. No caminho, fiquei em silêncio, pensando nas diversas possibilidades daquele afastamento repentino.

Eu sempre fui daqueles que acreditavam que a distância, somada ao tempo da ausência, são fatores essenciais para o desapego. Se uma pessoa não quer ficar, ou está indecisa, devemos sempre lhes mostrar o caminho da saída, caso ela tenha dificuldade em nos deixar. Evitar sofrimento desnecessário é um acréscimo de vida.

Chegando em casa, após aquela recepção boa de amigos e parentes, fiz o que tinha que fazer e peguei um taxi em direção a casa da Juh. Era a primeira coisa que eu iria resolver após a alta. Poucos minutos depois eu cheguei, e fui recepcionado pela mãe dela, com um abraço aconchegante, daqueles que você sabe que a pessoa sentiu falta.

__ Fico feliz em te ver bem meu querido.
Disse Isabel, chorando, talvez por me ver naquele estado cheio de hematomas.

__ Agora quem sabe a Juh não volta ao normal?! Comentou o pai dela, também me cumprimentando.

__ Vá! Ela está no quarto.

Cheguei na pontinha do pé, pra fazer uma surpresa pra ela, que estava deitada só de lingeri na cama, com um fone de ouvido. Ela não me viu entrar.

Cheguei vagarosamente por trás dela, e sussurrei no ouvido:

__ Já estava com saudades!

Imediatamente ela deu um pulo da cama, ao susto, mas evidentemente surpresa por me ver ali.

__ Eu não disse pra você não vir aqui?

__ Até disse, mas você sabe como sou teimoso. Quero saber o que está acontecendo?

Juh levantou da cama, se afastou em direção a janela, tirou os fones do ouvido e começou:

__ Eu faço isso por sua segurança! Eu gosto de você, e eu sei o que aconteceu contigo. Não foram ladrões, foi meu ex e os amigos doentes dele.

__ Eu sabia que era isso! E a propósito, fico muito feliz que seja somente isso. Achei que você estava começando a me esquecer. Retruquei.

Ela virou pra mim, como no primeiro dia em que nos conhecemos, com aquele olhar difícil de desviar, e continuou:

__ Você não tem que se envolver nisso por mim. Eu te meti nesse rolo, eu sou a culpada de você estar assim.

__ Quando gostamos de alguém, assumimos os riscos e as consequências disso. Você não me meteu em nada. Eu entrei por conta própria, e vou sairemos juntos dessa! Respondi.

__ Ele disse que se me ver com você novamente, ao invés de te mandar pro hospital, vai te mandar pro cemitério. Estou preocupada.
Disse Juh, com os olhos aráguados, enquanto me abraçava.

__ Fique calma! Eu estou aqui, e vou resolver isso do meu jeito.

__ Ele te encostou a mão? Perguntei, enquanto levantava o cabelo dela, deixando aquela marca aparente.

__ Deixa isso pra lá! Estou acostunada. Por favor, não comente com meus pais.
Pediu Juh, ainda chorando.

__ Ok! Tenho que ir, mais tarde nos falamos Juh.

Me despedi de todos ali, e novamente pedi um táxi. Agora, o destino não seria a minha casa. Eu precisava resolver aquela pendencia, e de preferência, antes de depor na Delegacia, pois certamente o meu depoimento seria o suficiente pra levar aquela otário pra cadeia.

Ainda no caminho, liguei pra um amigo, que sempre se prontificou a me ajudar, pra tudo o que precisasse. Eu sempre agradecia e aos risos dizia que não precisaria, mas também não dispensaria.

Conheci João Carlos no balcão da Vara Criminal do fórum que eu fazia estágio. Ele sempre ia até lá ver como estava o andamento dos seus processos, e eu auxiliava, e até fazia alguns pedidos pra ele. Ele sempre me tratou muito bem, e chegou a hora de pedir uma ajudinha pra ele.

__ Alô, João, tudo bem? Não sei lembra de min, sou o estagiário do fórum.

Do outro lado, uma voz recheada de gírias, mas demonstrando contentamento ao me ouviu, respondeu:

__ Fala irmão! Claro que lembro. O que manda meu caro?

__ Você disse que eu poderia contar com você quando precisasse, então...

Imediatamente fui interrompido:

__ Na hora! Pode falar que já dou o "salve" pra rapaziada. Respondeu João.

__ Obrigado. Vou te explicar.

(...)

Se apega, sim!Onde histórias criam vida. Descubra agora