Madrugada no hospital (parte 7)

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(...) Mas você é um trouxa! Afirmou bravamente Fer, e saiu andando. Eu não pensei duas vezes, fui correndo em direção ao hospital, sem me preocupar com o fato da Fernanda voltar sozinha para casa aquela hora. Era perigoso. Se alguma coisa acontecesse com ela, eu jamais me perdoaria.

Cheguei ao hospital, fui direto na recepção obter notícias da Camila, a enfermeira que ali estava tentou me acalmar:
"__ Você é o namorado dela? Marido?" Me perguntou a enfermeira.
"__ Não, ela é só uma amiga." Respondi, querendo saber como ela estava.
"__ É que a última ligação do celular estava salva como "Amor", por isso te ligamos."
Por um instante, vidrei naquela informação e um amontoado de dúvidas surgiram instantaneamente. Última chamada? Contato salvo como "Amor"? Será que aquela ligação de número confidencial era a Camila querendo falar algo comigo? E as outras tantas ligações que eu recebi nos últimos meses, de números confidenciais que não falavam nada, apenas me ouviam reclamar e xingar, será que era ela? Por que meu contato estava salvo como "Amor", se ela nunca demonstrou qualquer carinho ou sentimento em relação à nós?! Afinal, que Camila era essa que estava ali? Que Camila era aquela que chorou na festa? Que me convidou pra sair de uma hora pra outra?

As dúvidas ficaram suspensas até saber o real estado de saúde dela, e o que havia acontecido. A enfermeira pediu para que eu me sentasse e começou a explicar o ocorrido.
Segundo o resgate, foram chamados para atender uma ocorrência de um acidente de carro. O pai da Camila, que havia buscado dela, perdeu o controle da direção e capotou o carro. Infelizmente o pai dela não resistiu aos ferimentos. Camila também tinha se machucado, e até o momento não sabia o que tinha acontecido com seu pai. Estava sedada, havia passado por uma cirurgia no abdomem, mas não corria risco de morte. Camila morava com o pai, não tinha muito contato com a mãe, o pai dela era tudo pra ela, o herói, guardião, protetor. E ela era o xodó dele. Eu não conseguia parar de imaginar a reação dela ao saber dessa notícia triste.

Camila sempre foi o tipo de menina mimada, eu fui apaixonado nela por muito tempo, o que ela pedia, eu fazia sem pensar duas vezes. Ela era um doce quando estava sozinha, mas perto dos amigos e amigas, me tratava com indiferença. As melhores surpresas da vida dela, fui eu quem fiz, os melhores presentes, fui eu quem dei. Adorava surpreendê-la, ouví-la, falar com ela. No começo eu morria de medo do pai dela, mas com o tempo, ele se tornou um aliado meu. Tentou de tudo para que ficássemos juntos, mas Camila foi na cabeça das amigas patricinhas, e acabou se envolvendo com um estudante de arquitetura, na época. Eu ainda fui obrigado a ouvir de uma amiga próxima dela, que eu não seria ninguém na vida, e que rela havia falado isso diversas vezes pra Camila, que era melhor se envolver com alguém que tivesse futuro, que fosse crescer com ela, ao invés de alguém com futuro incerto, obviamente se referindo a minha situação financeira, que não era das melhores, mas nunca faltou nada. Essa amiga enfiou esse estudante de arquitetura, bem de vida, no meio da nossa história. Na época, eu podia até não ter dinheiro pra uma faculdade, mas tinha competência e dedicação suficiente pra entrar onde eu quisesse. Nos distanciamos, eu passei no vestibular com as melhores notas, iniciei a faculdade, consegui bons estágios e o rapaz lá, abandonou ela quando ela mais precisou, na separação dos pais. Eu estive presente, principalmente nos piores momentos. Acho que isso fez bem para a memória dela. Fernanda acompanhou de perto tudo isso, e as duas nunca se gostaram, o que justifica a revolta dela ao saber que eu estava indo para o Hospital.

Agora, o destino me colocou novamente na vida dela, quando eu já estava de saída. É certo que eu nunca abandonaria ela. Fui até o quarto, ela estava lá, de um jeito que eu nunca vi na vida, meu coração partiu em ver aquela menina alegre, sorridente, brava, agora deitada, impotente, e o pior, sem o herói dela. Entrei, sentei do lado, peguei nas mãos dela, estavam frias, mas se encaixavam perfeitamente nas minhas, eu sempre brincava com ela, falando isso. Eu precisava saber o porquê ela havia me ligado naquela noite, pouco antes do acidente, o porquê ela havia salvo meu número como "Amor" e o que estava acontecendo com ela nos últimos dias, que ela mudou tanto. Eu estava ali. E permaneceria quanto tempo fosse necessário, afinal, era um pedaço da minha história, da melhor história, que estava deitada ali. Liguei pra mãe dela, que morava em outra cidade, e rapidamente estava se dirigindo para o hospital, e avisou que chegaria pela manhã. Ela poderia demorar 2 semanas pra chegar, dali eu só sairia com a Camila.

Olhei no celular, tinha 11 mensagens e 3 chamadas perdidas da Juh, o que será que aconteceu naquela festa?!

Se apega, sim!Onde histórias criam vida. Descubra agora