A pista

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Capítulo treze

Naquela noite, eu não dormi. Meu sentimento de revolta contra a mãe de Stefanni era grande. Bastava ela não ter expulsado sua própria filha de casa, a quem ela deveria amar, e isso poderia ter sido evitado.

Ao mesmo tempo, eu sentia raiva de mim. Eu não sabia que isso aconteceria, mas eu escrevi a carta que causou tudo isso e a deixei a mostra. Bastava eu ter a escondido, e isso poderia ter sido evitado.

Existia, além dos últimos dois fatores, uma pequena parte de mim que alimentava uma indignação por Stefanni. Bastava ela ter me contado que não era assumida, e isso poderia ter sido evitado.

Eu passei horas pensando no que bastava para a situação ser evitada e isso não me levou a nada. Só serviu para alimentar minha raiva e culpa. Determinada a fazer alguma coisa para achar minha namorada, decidi que estava disposta a conversar com os pais dela.

Levantei da minha cama e me vesti rapidamente. Não fui à faculdade. Saí de casa sem comer nada. Meus pais estranharam, mas não perguntaram nada. Peguei um ônibus para a casa de Stefanni.

Durante o trajeto, planejei exatamente o que dizer. Eu não deixaria nenhum dos dois fugir. Quanto mais eu me aproximava, mais forte o meu coração batia.

Eu engolia em seco e o nervosismo havia subido até minha garganta, que estava seca. O caminho era relativamente pequeno, então eu cheguei rápido.

Vi o ponto em que eu teria que descer e sinalizei para que o motorista parasse. Desci e meu coração batia mais rápido que nunca. Senti um desconforto no estômago, como borboleta na barriga, e andei em direção ao prédio de Stef.
Cheguei e entrei na portaria.

- Pra onde você vai? - perguntou o porteiro.

- Ahm... Pra casa da Sra. Rocha. - respondi, sem jeito.

- Qual é o seu nome?

- Será que você poderia não dizer o meu nome? Tenho algo a dizer sobre o caso da filha dela.

- Bom... Tudo bem, vou tentar - ele respondeu - mas fique avisada que vou estar observando pelas câmeras.

Engoli em seco. Eu sabia que não estava ali pra fazer algo errado ou assaltar o prédio, mas me senti nervosa após ele ter dito aquilo. Esperei enquanto o porteiro ligava para o apartamento de Stefanni. Ele confirmou que eu podia subir.

- Quarto andar, 402. - o porteiro disse.

Entrei no elevador e subi. Ao chegar ao quarto andar, Andrea já me esperava na porta. Senti raiva, mas ao notar sua expressão, vi que ela realmente estava muito preocupada. Seus olhos estavam inchados, dava pra perceber que ela escondia as olheiras com maquiagem.

- Quem é você? Vamos, diga o que tem a dizer. - ela foi logo falando.

- Meu nome é Pietra. Sou a namorada de sua filha, e acredito que você talvez queira me convidar para entrar para conversarmos. - eu disse, firmemente.

- Então aquela carta era sua... Você é a culpada disso tudo! Você influenciou a minha filha!

Naquele momento, minha empatia por ela já havia desaparecido.

- Olha só... Sua filha já era lésbica quando me conheceu. Ela sempre foi e sempre vai ser. Esse tipo de coisa já vem desde o nascimento, não é uma escolha ou fruto de influência. Eu amo a Stefanni e quis demonstrar isso. Você a expulsou de casa. Preciso dizer que tenho muita raiva de você por isso, mas não é isso que eu vim dizer. Nós duas temos um interesse em comum, que é encontrar a Stefanni. Vamos colaborar uma com a outra. - ela me olhava, calada e de olhos arregalados - Quando ela desapareceu, ela estava indo pra minha casa, ficar lá...

Contei a ela todas as informações que tinha. Data, hora, trajeto... Tudo. Eu estava disposta a encontrar Stef com ou sem a ajuda da polícia. Ela anotou, pegou meu número, agradeceu forçadamente, por ainda guardar rancor de mim, e eu fui embora.

Dois dias se passaram até a mãe de Stefanni me ligar de novo. Nestes dias, eu tentei coletar o máximo de informações que consegui para contar à polícia, além de ter verificado várias vezes o trajeto dos ônibus que iam da casa dela até a minha.

- A polícia acabou de ligar para cá dizendo que conseguiu algumas pistas graças a você. Parece que encontraram o motorista do ônibus que ela pegou. - Andrea contou.

- Obrigada pela informação. Assim que te contarem o que o motorista tinha a dizer, me ligue. - eu disse.

Ela desligou sem falar nada. Estranhei, mas sabia que ela não gostava nada de mim por causa de sua mente homofóbica. Apesar disso, pela primeira vez, tive mais esperanças. O que quer que aquele motorista tinha a dizer poderia ser muito útil para o caso.

"Vou te encontrar, Stef", eu pensei, emocionada. "Eu te amo."

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