Somos tão diferentes

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Capítulo seis

Os dias foram passando, e cada vez mais, Stefanni me transformava em alguém melhor. Ela era diferente de todas as garotas que eu já havia conhecido.

Ela dançava ballet, cantava, atuava, tocava seis instrumentos diferentes, era voluntária no abrigo de animais e ainda era bolsista de uma das melhores faculdades do Rio de Janeiro. Aos cinco anos de idade, já sabia ler e falava em dois idiomas. Era brilhante em tudo o que fazia! O que me deixava um pouco preocupada em não ser o bastante para ela; eu não sabia fazer metade do que ela fazia e, para ser sincera, o que me salvava era ser bonita, alta e rica (não que ela ligasse para bens materiais), mas era só um "a mais" para eu ter uma certeza de que conseguiria dar uma vida digna a ela, e isso meio que me confortava.

Na faculdade, as coisas iam bem. Escolhi fazer engenharia mecânica, já que eu era muito boa em cálculos e exatas. Na hora do almoço, sentei em uma mesa vazia e então comecei a conversar com Stefanni por mensagem; ela fazia muita falta na semana, já que nos víamos apenas de sexta, sábado e domingo. Estava distraída quando uma garota sentou à minha frente:

— E aí! Lembra de mim?

— Oi... é... Hellen, né? — perguntei, com um sorriso no rosto.

— Isso aí! Cadê a sua namoradinha? — perguntou ela, enquanto bebia Coca-Cola de canudinho.

— Ela está na aula de violoncelo.

— Uau, mas e você... Toca alguma coisa também?

— Não sou muito ligada em tocar instrumento; na verdade, eu não nasci com o dom da coordenação motora.

— Sei... — ela disse. — Na moral, você é de São Paulo? — perguntou ela, parecendo estar interessada.

— Sou sim! Como sabe disso?

— Seu modo de falar, é maneiro! Só os paulistas falam maneiro, assim. — Respondeu Hellen, sorrindo. — Olha, você quer sair um dia desses? Curte andar de skate?

— É claro, tenho um board em casa. Não uso tem um tempo, mas é igual a andar de bicicleta, não é?

— Maneiro! Me liga qualquer dia desses. Falou, paulista. — disse Hellen, saindo da mesa e deixando um papel com o número do seu celular.

— Até mais! — Exclamei.

Peguei o papel e coloquei no bolso de trás da minha calça. Depois de algumas horas, fui até a escola de ballet de Stefanni buscá-la para tomarmos sorvete e andarmos na praia. Ela ficava linda com o cabelo molhado e o rosto vermelho por causa do cansaço; na verdade, ela ficava linda de qualquer jeito.

Fomos andando pela praia com os pés na areia e aquela brisa que passava entre a gente tocando nossos corpos e deixando o pôr do sol cada vez mais lindo. Paramos em um canto da praia, e ela me abraçou e me beijou por alguns minutos. Eu estava completamente apaixonada por Stefanni Rocha:

— Eu te amo! — disse ela, abraçada comigo.

— Eu também te amo, Stef. Amo muito!

Stefanni continuou abraçada comigo e então colocou a mão em meus bolsos, até que ela retirou um papel de dentro, e era o número de Hellen:

— O que é isso, Pietra? — perguntou ela, olhando para mim com cara de brava.

— É... o número daquela garota que acordou a gente.

— Eu sei quem é ela! Quero saber o que você faz com o número de celular dela no seu bolso.

— Ela me deu para a gente sair um dia desses. Você por acaso ficou com ciúmes?

— É óbvio que sim, Pietra. Tá achando o quê?

— Olha, eu posso explicar! — disse, olhando para ela. — Não é isso o que você está pensando.

— E o que é que eu estou pensando? Que uma garota chamou minha namorada para sair e deu o número dela pra você?

— Stef, amor... para com isso, você não precisa ter ciúmes de mim. Eu amo você e só você.

— Eu também te amo, esse é o problema. Eu já sofri com isso; não vou passar por tudo de novo, Pietra.

— Amor...

— Olha, eu vou pra casa esfriar um pouco a cabeça. Tudo o que eu menos queria era sentir ciúmes de você, acredite. Me desculpe. Depois eu ligo pra você.

Ela saiu andando sem ao menos me deixar explicar nada. Fui para casa me sentindo uma babaca com um pedaço de culpa na cabeça. Obviamente, eu poderia ter segurado ela pelo braço e forçado a me escutar, mas não o fiz. Desse modo, eu poderia ter sido ainda mais babaca. Meu pai sempre me disse que jamais podemos obrigar alguém a nos ouvir. Todos têm seu tempo, e é melhor assim.

Após chegar em casa, subi direto para o meu quarto e fui tomar banho para tentar esfriar um pouco a minha cabeça, o que não deu muito certo. Muitas coisas vinham em minha mente: "O quão babaca você é, Pietra? Pela primeira vez você ama alguém e deixa a garota pensar que você é uma galinha que pega número dos outros? Larga de ser trouxa, garota." E, claro, meu subconsciente estava mais do que certo.

Após sair do banho, pedi para que Alan fosse comigo até a casa dela, para tentar explicar as coisas e nos acertarmos. Ao andar pela rua e passarmos por uma loja de conveniência no centro da cidade, vimos pela janela dois colares que juntos formavam um coração:

— Que lindo isso, acho que ela vai adorar — disse Alan, pegando os dois e indo pro caixa.

— Talvez esteja cedo para usarmos uma aliança; isso vai servir, por enquanto. — Disse.

— Pi, não importa o objeto! Isso pode ser a aliança de vocês!

Eu não disse nada, apenas sorria enquanto olhava para os pingentes e andava pelas ruas até chegarmos em um ponto de ônibus.

Depois de alguns minutos, chegamos no ponto na rua de baixo da casa de Stefanni e, ao subir a rua, vi ela sentada em outro ponto de ônibus:

— Pietra?! — gritou ela, do ponto. A garota veio até nós, limpando o rosto. Certamente, ela estava chorando ali sentada.

— Stef! Oi... Eu... só vim conversar com você... eu não...

— Eu sei, meu amor! — disse ela, me interrompendo. — Eu estava indo fazer a mesma coisa! Não queria ter brigado com você. Eu nunca desconfiaria de ti.

— Sério? — Perguntei, um pouco surpresa. Saber que ela não era uma pessoa orgulhosa aquecia o meu coração.

— Sim! Desde quando eu estava sentada na praça ali embaixo e vi a Hellen de mãos dadas com uma garota que ela namora há dois anos e meio! — Respondeu Stefanni, envergonhada. — Desculpa? (risos)

— Eu nunca trairia você ou cogitaria te trocar por alguém. Saiba disso. — disse, abraçando-a.

— Eu sei que não!

Nos beijamos e então eu tirei os pingentes do bolso e coloquei um deles no pescoço dela, um dos lados do coração que no meio estava escrito "sempre". Consequentemente, ela também colocou em meu pescoço o outro lado, onde se lia "para":

— Não existe tempo o suficiente ao seu lado, mas "para sempre" é uma ótima maneira de começarmos. — disse ela, olhando em meus olhos.

— Isso é do filme "Crepúsculo"?

— É sim... Eu detesto aquele filme! — Ela riu, me abraçando.

— Eu também detesto... Mas eu te amo.

— Eu também te amo.

A forma de dizer Eu Te Amo Onde histórias criam vida. Descubra agora