Onde você está ?

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Capítulo dez

Ainda com lágrimas nos olhos, pego o ônibus para a minha casa. Não consigo parar de pensar na Stef e em como essa noite foi maravilhosa. Parece que toda a minha insegurança se esvaiu para nunca mais voltar. Agora, mais que nunca, eu me sinto muito conectada a ela. Ela foi minha primeira, afinal. Eu escrevi uma carta, mas poderia ter escrito um livro sobre todos os meus sentimentos em relação a ela. Isso é amor, não aquilo que eu pensava ser. O amor é muito maior do que qualquer um pode imaginar, e o meu amor por ela é tão grande que não só se manifestou em forma de carta, mas também em incontáveis lágrimas de emoção. Chego em casa por volta das 7:30 e resolvo dormir mais um pouco. Estou cansada, não dormimos muito, se é que me entende. Fecho os olhos e rapidamente adormeço. Tenho um sonho confuso. Nada faz sentido, mas a sensação é horrível. Sinto como se tivesse perdido algo, e nele eu podia me ver soluçando de tanto chorar, agarrando meus lençóis. Em volta de mim, giram algumas imagens sem nexo e completamente aleatórias. Mal posso distinguí-las, mas sei que aquilo me deixava mais nervosa ainda. Acordo num pulo, com o meu celular tocando. Vejo a hora e me espanto: já é meio-dia! A ligação é de Stef. Rapidamente, atendo, sorrindo e na esperança de que ela tenha lido minha carta.
- Oi, meu amor! Encontrou a carta que deixei para você? - pergunto, sorrindo. Ela não diz nada, mas consigo perceber que ela está chorando. Me preocupo. Se ela estivesse chorando de emoção, ela responderia algo, certo?

- Stef... O que aconteceu? - pergunto, preocupada.

- Eu achei sua carta. Aparentemente, meus pais encontraram antes... Eu achei ela nas mãos da minha mãe, enquanto ela lia e soluçava. - ela diz, chorando.
- Como assim? Por que sua mãe estava chorando?
- Olha, Pietra... Eu não sou assumida, ok? Quer dizer, agora meus pais sabem, mas eu não era... E agora, eu tô em frente ao meu prédio com uma mala em uma mão e sua carta rasgada ao meio pela minha mãe na outra. Eles me botaram pra fora! - ela chora cada vez mais a medida que fala.
- O que , Stefanni?! Por que você nunca me contou isso? - ao mesmo tempo em que fico um pouco irritada, minha preocupação aumenta cada vez mais.

O que ela vai fazer agora? Ela foi expulsa de casa, afinal.
- Olha, eu não sei... Me desculpe, meu amor! Eu deveria ter te falado. Eu estava pronta pra me assumir e assumir você como minha namorada! Acho que se eu me assumisse, o mesmo aconteceria. Agora, eu não sei mais pra onde ir ou o que fazer. Não fica irritada comigo ainda, por favor! Me ajuda...

- Stef... Ai, ok. Eu estou irritada sim por você nunca ter me falado isso, mas agora não importa. Eu preciso que você aguente aí por mais uns minutos enquanto eu explico tudo pros meus pais e peço pra você ficar aqui, ok? Você consegue? - tento me acalmar.
- Acho que consigo... Volta logo, ok? - ela respira e chora um pouco menos.

- Vou tentar. Vai dar tudo certo. Não se preocupe. Já volto, tchau!

Ela se despede e eu desligo. Tentei não demonstrar minha irritação para ela, pois ela já estava nervosa o bastante com tudo isso. Por que ela nunca me falou? Eu nunca imaginei que isso seria um problema... Isso quer dizer que ela nunca me assumiu pros pais também, que provavelmente me apresentava como 'amiga' para todos. Respiro, tentando me acalmar. Levanto e ouço movimento em casa, torcendo para meus pais estarem lá. Quando vejo que estão, chamo os dois para a sala, aflita :

- Mãe, pai... Aconteceu algo muito ruim...

Explico toda a situação e eles ouvem, atentos. Rapidamente, minha mãe manda eu ligar para a Stef e a chamar de prontidão para minha casa. Meu pai concorda, e pede para que eu o faça com rapidez. Ambos são muito compreensivos e têm mentes abertas, eu sabia que nada ia dar errado. Ligo para Stef e ela atende aliviada.

- Stefanni, pode vir para cá. Meus pais compreenderam tudo e disseram que você pode ficar quanto tempo quiser. - digo, calmamente.
- Meu Deus! Muito obrigada mesmo! Amor... Me desculpe! - ela diz, um pouco aflita.

- Olha, Stef... Conversamos sobre isso quando você chegar, tudo bem? Agora, eu preciso que você venha pra cá.

- Ok, amor... Estou andando para o ponto de ônibus. Eu te amo.
- Eu também te amo. - digo, nos despedimos e eu desligo.
Olhei para o relógio. Era 12:30 agora, tudo aconteceu muito rápido. Ela deve demorar mais ou menos meia hora para chegar aqui. Vou até a cozinha e ajudo minha mãe com o almoço, para quando Stef chegar.

Me ocupo com algo para diminuir minha preocupação e me acalmar. - meia hora depois - "O almoço está pronto. Bem, ela já deve estar chegando. Aposto que ela pegou um pouco de trânsito para chegar aqui. Em poucos minutos, ela vai interfonar para cá!" - penso. - mais meia hora depois - Começo a ficar um pouco preocupada, mas tento afastar esses pensamentos da minha cabeça.

Tento ligar para ela, mas ninguém atende. "Ela deve estar na rua, pode ter acontecido alguma coisa que parou o trânsito e ela não quer deixar o celular exposto numa hora dessas, com a violência de hoje... A precaução é sempre bem-vinda." - uma hora depois - Depois de ter ligado mais umas 10 vezes para Stef, minha preocupação se torna um furacão em meu estômago, junto com uma ansiedade enorme. "Ela não deveria demorar tanto tempo para chegar aqui!

Não aconteceu nada hoje para ter tanto trânsito assim... Alguma coisa aconteceu com ela, isso pode explicar essa sensação de mal estar que estou sentindo desde aquele sonho estranho. Stef, onde está você?" Mais uma hora se passa. Ao todo, foram três horas desde o momento em que eu falei que ela podia vir para cá. Meus pais tentam ligar para ela e para os pais dela, mas ninguém parece atender.

Acho que os pais dela devem imaginar que são os meus, mas não tenho certeza. Choro de desespero, me perguntando cada vez mais sobre o que poderia ter acontecido com ela. Estava tão nervosa que, se ela chegasse, eu não ficaria com raiva por ela ter demorado.

Eu a abraçaria de alívio por tê-la ao meu lado naquele momento. "Stef, eu te amo..." - é só o que se passa pela minha cabeça.

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