capítulo 3

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Eram quase seis horas quando chegou à margem com vista para a praia. Havia um petroleiro ao longo descendo vagarosamente para a baía, e algumas crianças brincavam na areia sob a supervisão dos pais.

Gaivotas seguiam pela superfície das águas e moviam suas asas em arco gracioso. Era uma cena de paz, uma cena de que ela desesperadamente precisava para abrandar a dor de sua recente perda. Havia muito para ser organizado, uma família com quem se entender.

E agora havia vanesa

Tudo se acabara. E tinha de cicatrizar suas feridas.

Mentirosa.

Era só pensar nela para se lembrar do que havia acontecido entre ela e vanesa , Não se passava um dia em que ela não surgisse em sua memória, não invadisse sua mente, não tomasse posse de seus sonhos, e não se transformasse em seu pior pesadelo.

Com freqüência Yasmim acordava suando, sentindo as mãos de vanesa , os lábios dela numa sensação tão real que quase juraria a ter em sua cama.

Contudo, estava sempre só, o sistema de segurança intacto. E passava o resto da noite lendo ou assistindo a um filme na tevê, numa tentativa de espantar fantasmas.

Ocasionalmente encontrava-se com ela em alguma reunião social. Cumprimentavam-se, trocavam algumas palavras... e se afastavam. Porém Yasmim ficava sempre consciente daquele olhar insistente dela , do poder que emanava daquele corpo, do calor sensual...

Mesmo agora, uma sensação vinda do interior se espalhava por todo seu corpo como uma língua de fogo, ativando cada zona erótica sua.

Isso era loucura. Ela suspirou fundo uma, duas, três vezes.

Por Deus, dizia a sim mesma, lembre-se da razão pela qual se afastou dele.

Como podia se esquecer da notícia confirmada pela ex-amante de vanesa

Aline Felix, modelo cuja linda imagem enfeitava a capa de várias revistas. A data da informaçoes coincidia com o tempo em que a vanesa estive fora do país, ha negócios.

Aline garantia que o affair entre as duas nao era de hoje ... E, apesar da insistência de vanesa de que aquilo não era verdade, Yasmim fez suas malas e mudou-se para acomodações temporárias.

Mesmo agora, passado meses, a lembrança da dor, eram tão intensas como haviam sido no dia em que o deixara.

O telefone celular soou no silêncio, interrompendo sua solidão. Era um chamado de sua mãe.

- mãe

- Querida, esqueceu-se de que iríamos jantar juntas esta noite para depois irmos ao teatro?

Yasmim fechou os olhos e disse:

- Podemos pular o jantar? Apanharei você às sete e meia. Ou melhor, sete e quarenta e cinco.

E Yasmim conseguiu fazer isso, apesar do tempo exíguo. Juntas, elas entraram no auditório e, apenas sentaram-se, o pano ergueu.

Entre os atos ela e a mãe foram ao saguão, tomaram um refrigerante e conversaram. Sua mãe tinha uma butique muito exclusiva na Double Bay. Adquirira-a depois do divórcio e se transformara numa mulher de grande sucesso nos negócios.

- Separei algumas roupas de minha butique para você - disse Luiza

- Obrigada. Vou lhe escrever um cheque.

- É um presente, querida.

Naquele instante, yasmim sentiu qualquer coisa. Apenas um mulher tinha aquele efeito nela. Virou-se devagar e deparou com a vanesa num grupo de amigos. Dois homens, duas mulheres. Um grupo perfeito.

Vanesa inclinava a cabeça na direção de uma morena linda. Ela desviou o olhar e viu-a.

Vanesa tinha uma altura mediana, corpo perfeito que chamavam a atenção de qualquer um.

Ela tinha uma aura de poder como uma segunda pele. Os cabelos negros, mais longos do que se usava no momento

Mas, se ela pensava que iria intimidá-la, estava enganada . Yasmim ergueu a cabeça e seus olhos brilharam como chama no instante em que ela de propósito deu-lhe as costas.

A campainha eletrônica soou, avisando que o show iria continuar.

Yasmim não conseguiu prestar mais atenção em nada. Tentou focalizar a vista nas pessoas que passavam por ela, na saída, para não ir de encontro ao homem que sacudira suas emoções, que a desequilibrara.

-Não... - ela sussurrou, quase chegando à porta.

-Yasmim! Luiza!

A voz dela era como cetim negro, perigosa, sob o sofisticado verniz de cortesia.

- Ora, ora, vanesa - disse luiza com prazer, enquanto ela roçava os lábios no rosto dela. - Que bom ver você!

Traidora, yasmim disse mentalmente. Luiza havia sido uma das pessoas conquistadas por vanesa desde o início. E ainda era.

- Igualmente - ela respondeu. - Jantar amanhã à noite. Às sete? - Ela perguntou a Yasmim

MalditaA palavra sumiu na garganta dela à vista da surpresa da mãe. Quanto a vanesa maldita seja ela , apenas ergueu a sobrancelha.

- yasmim não lhe contou nada?- perguntou.

- Não!- Foi yasmim quem respondeu.

- Renato - yasmim achou melhor falar a verdade à mãe, mas o fez com ironia -, em sua infinitasabedoria, impôs uma condição em seu testamento, que eu morasse na mesma casa com vanesa durante um ano. Se eu não fizer isso, vanesa terá total controle das indústrias . Farei de tudo para evitar que isso aconteça.

- Oh, por Deus! - Luiza exclamou.

Ela conhecia muito bem seu ex-marido. Havia uma vontade de ferro por baixo daquele charme irlandês. Havia muito que o perdoara. Pois uma coisa que resultara daquela união fora Yasmim

- Seu pai era um louco. Mas um louco inteligente - comentou Luiza . Oh, sim, Renato fora um homem astuto. E ela gostara muito do grego com quem a filha se casara.

Luiza, como você pode me fazer tal coisa?, yasmim disse a si mesma. Enquanto tento matar meus próprios dragões esperava que você ficasse ao meu lado, e não recebendo bem meu inimigo, com toda sua graça e charme.

Vanesa observava sua esposa com cuidado. Ela emagreceu , estava pálida, e no momento controlava sua fúria.

- Boa noite - Yasmim disse.

A despedida foi fria. Gelada, com um quê de desdém.

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