Boa leitura!
5 anos depois
— Tônton, você viu o meu bloco de notas e a caneta vermelha? — Eu pergunto a minha filha enquanto ela penteia seu cabelo e se olha no espelho.
— Sim papai, está na sua mesa no escritório e a caneta eu perdi — Ela diz e sai do seu quarto e vai até meu escritório voltando com o bloco que pedi. Sorrio e a pego no colo.
Desde que Helena saiu de casa, tem sido apenas eu e Antônia. Depois daquele fatídico dia, eu resolvi deixar tudo pra trás e me dedicar apenas a minha filha, e hoje sinto orgulho dela. Mesmo com todas as dificuldades, ela cresceu uma menina linda, e inteligente. Acho que um pouco madura demais pra sua idade, mas nunca deixando de ser criança.
Meus pais faleceram quando Antônia completou dois anos, e isso só deixou tudo mais difícil, porém, mais uma vez enfrentamos tudo e hoje estamos aqui. Felizes.
Mudamos-nos pro interior do Rio de Janeiro, consegui um emprego numa Faculdade Federal, onde dou aula de economia e estatística, e assim nos mantemos. Em cinco anos devo ter tido apenas dois encontros, mas quando sabiam que eu era um pai solteiro, as mulheres logo corriam. O que eu posso fazer? Não foi a vida que eu escolhi, mas eu não mudaria nada nela. Pois os erros do passado, me fizeram ser a pessoa que sou hoje.
— Hoje nós vamos ao parque distribuir pães pro patos, papai? — Antonia pergunta e eu confirmo com a cabeça. Todos os finais de semana colocamos comidas pros patos no parque Estadual de Seropédica, e depois sentamos embaixo da arvore e fazemos um piquenique
— Iremos, mas primeiro eu quero que você troque sua roupa, e depois poderemos tomar nosso café da manhã, panquecas com morango e então iremos ao parque. O que acha? — Eu digo e ela comemora no meu colo. Coloco-a no chão e ela vai direto pro seu quarto e eu sigo pra cozinha, onde começo a preparar o café da manhã e arrumo a nossa cesta com sanduiches, frutas e suco pro piquenique.
— Eu amo suas panquecas papai, são as melhores do mundo — Minha filha diz colocando o ultimo pedaço na boca e em seguida tomando seu suco de laranja. Eu fico feliz quando a vejo comendo assim, pois passando um grande sufoco quando ela era mais nova. Descobri no seu primeiro ano de vida que ela sofria de refluxo e deveria começar o tratamento o quanto antes melhor, e assim foi feito, e hoje é uma ferinha.
— Eu sei, o seu pai é demais né? — Eu digo brincalhão e ela dá uma risadinha em resposta. — Arrumei a nossa cesta, só vou trocar de roupa e nós poderemos ir ao parque, combinado? — Eu digo beijando sua cabeça e saindo da cozinha, e sinto que ela vem me acompanhando.
***
Já estamos ao caminho do parque e Antônia está entretida ouvindo uma música qualquer no rádio e olha pra fora da janela. Ela sempre adorou estar em contato com a natureza, talvez seja por estar acostumada com isso desde pequena. É sempre a mesma coisa, quando chegamos ao parque, ela corre por todo o local e sempre volta com uma mudinha de alguma planta que ela acha pelo caminho, e nos levamos pra casa e a plantamos no quintal. Ela já tem um belo jardim, e a nossa vizinha a cada quinze dias a ajuda a limpar as flores e a ensina como cuidar de tudo.
— Será que hoje vamos achar alguma plantinha nova, Tônton? — Eu pergunto e ela volta sua atenção pra mim.
— Eu acho que sim. Dona Dorothy disse que eu deveria procurar pela onze horas, ela disse que é uma plantinha que acorda todos os dias onze horas e que ela é roxa. Ou será rosa? — Ela coloca seu dedinho gordinho na boca, como se realmente estivesse tentando se lembrar sobre o que a nossa vizinha havida falado, mas dá de ombros e continua a olhar pra fora da janela.
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PERDAS E DANOS
RomanceAos 25 anos, Daniel é abandonado pela esposa, e se vê assumindo a responsabilidade de cuidar de sua filha de apenas 3 meses de idade. Aos poucos, sua vida vai entrando nos eixos, e no final, ele consegue se sair como o melhor pai de todos. Com o te...