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O último sinal do dia bateu, interrompendo a professora de história que acabou por deixar o final da guerra civil da Rússia para a próxima aula.

Me levantei já com o material guardado na mochila e me aproximei da carteira de Luhan mas, antes que eu pudesse chegar ao meu destino, senti uma mão tocar em meu pulso e me virar.

— Hey, Haz! - Vincent falou sorrindo e me deixando bem perto dele, tão perto que eu tive medo que  ele podia sentir meus batimentos irregulares. — Eu tava afim de tomar um picolé hoje, quer vir comigo?

Senti aquela pontada de arrependimento atingir minha consciência, por que eu concordei em levar o novato até o ponto de ônibus? Droga, eu tinha feito uma promessa e tinha que cumpri-la.

— Não vou poder hoje, Vinny, amanhã eu posso. - Falei me desvinculando de se toque, algo que surpreendeu Vincent.

— Sério? Tem algo para fazer? - Ele perguntou e eu assenti. — Não queria ir sozinho mas, tudo bem, nós vemos amanhã.

Ele se despediu de mim e me abraçou. Assim que terminamos a despedida eu segui caminho até a mesa de Luhan vendo-o sentado sobre ele mexendo em seu celular.

— Vamos? - Perguntei tirando sua atenção do aparelho.

— Ah... claro. - Ele sorriu e nós fizemos um caminho em silêncio até o portão de saída da escola.

Aquele silêncio estava me incomodando mas, eu não sabia do que conversar com o calouro, talvez perguntar-lhe sua nacionalidade que me deixava ainda em um pouco de dúvida entre a japonesa e a chinesa. Ou, quem sabe, sobre a bela caligrafia que eu havia visto em seu caderno de manhã, ou melhor, seu gosto peculiar ser semelhante ao meu, para livros e músicas.

No entanto, ele foi mais rápido.

— Eu poderia ter vindo sozinho, desculpe-me por atrapalhar seus planos com aquele rapaz. - Ele comentou fazendo-me parar de pensar naquelas possíveis perguntas e focar-me apenas na dele.

— Vincent? Ah, não se preocupe, teremos outras oportunidades. - Falei sorrindo e liberando-o da possível culpa que estava a sentir.

O silêncio reinou em nós outra vez mas, não por muito tempo pois, eu estava curiosa demais sobre aquele misterioso garoto, que cativou-me olhar na semana passada e, naquele dia, havia me surpreendido mais que qualquer outra pessoa.

— Você leu Razão e Sensibilidade? - Perguntei e ele assentiu.

— Creio que você também, não quero tirar conclusões precipitadas mas, você parece ter lido a obra mais de uma vez. - Ele comentou me fazendo rir fraco mas, me sentir ligeiramente surpreendida pela esperteza do menino é o poder de percepção do mesmo.

— Acertou. - Ri e decidi não me estender muito no assunto pois, queria saber mais sobre ele. — E você?

— Já li algumas vezes e todas me cativaram do mesmo jeito, acredito que Austen seja uma das melhores escritoras que já li um livro de. - Ele falou e eu assenti.

— Quantos anos tem? - A pergunta saiu involuntariamente da minha boca, que fez a dona dela, vulgo eu, se arrepender por ter pego o menino de surpresa.

— Dezessete. - Ele respondeu.

— Dezesseis. - Referi-me á mim e ele sorriu um pouco desacreditado.

— Você parece ter mais. - Ele falou e eu assenti colocando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.

— As pessoas sempre dizem isso. - Afirmei e continuamos nosso caminho até o ponto de ônibus mais próximo.

Chegamos ao nosso destino e o moreno se sentou no banquinho do ponto para esperar o ônibus, por alguma razão, decidi me juntar à ele até que seu ônibus chegasse.

Aqueles vinte minutos em que fiquei ali, foi o suficiente para minha vontade de conhecer mais Luhan aumentasse. Nosso assunto começou nos livros de Jane Austen e terminou nas nossas músicas clássicas favoritas.

No começo, o menino se sentiu um pouco incomodado por falar daquelas coisas com uma total desconhecida como eu mas, como o passar dos minutos foi se sentindo confortável ao conversar comigo.

Aquilo era um indício de que eu acabara de encontrar uma pessoa com quem eu podia conversar sobre meus assuntos prediletos, sem que acabem em mulheres ou futebol americano, o que acontece quando converso com Vincent.

Talvez Luhan fosse ser o meu, como chamo de, amigo de interesses em comum dali pra frente.

• • •

Eu havia acordado com meu despertador, sai da cama quase que rastejando e tomei uma ducha rápida pondo uma blusa qualquer é uma calça jeans que eu achei no fundo do meu armário.

Peguei minha mochila e calcei meia tênis brancos. Passei pela cozinha cumprimentando a minha mãe e sentando-me na mesa do café da manhã.

Assim que terminei a refeição, me despedi de minha progenitora e fiz meu caminho, com os meia grandes amigos, os fones, no meu ouvido.

Cheguei não tão tarde a escola e me sentei em um dos bancos tirando um livro que eu havia pego para ler em casa enquanto esperava o sinal bater.

Alguns minutos se passaram e eu estava mergulhada nas palavras daquele autor desconhecido. Até que meus olhos rolaram sob o livro é eu vi uma cena que me fez levantar do banco e colocar meu livro de volta na mochila.

— Me larguem! - Luhan gritou sendo segurado por Henry e seu grupo de amigos que riam.

— Vamos lá, asiático, você deve ter alguma grana! Estou morrendo de fome! Me dê logo isso. - Henry falou segurando o colarinho do moletom de Luhan enquanto o moreno tentava afastá-lo.

Eu já corria para impedir Henry de fazer algo com Luhan. Cheguei até o grupo de valentões e me pus entre Luhan e Henry fazendo-o largar o moletom do novato.

— Henry! Não! Ele não tem nenhum dinheiro para te dar. - Eu falei pondo minhas mãos no peitoral do mais velho.

— Não se mete Hazel, você sabe como é, os calouros estão sempre me devendo. - Henry falou olhando ameaçador para Luhan que, respondia semicerrando os olhos para o moreno.

Henry era insistente e não perderia a chance  de entrar em uma boa briga com Luhan que, claramente, sairia ferido e no prejuízo. Notando isso, rapidamente peguei minha carteira em um dos bolsos da calça jeans e tirei uma nota de dez dólares estendendo-a  à Henry.

— Tome e vá embora, é tudo o que eu tenho. - Falei guardando a carteira  de volta enquanto Henry sorria lançando-me um olhar  desconfiando mas, ainda sim, aceitando o dinheiro.

— Sei que posso contar com você, obrigada pela grana, docinho. - Henry tocou na ponta do meu nariz e eu recuei afastando-me de seu toque. Ele riu para os amigos e voltou a olhar fixamente para Luhan. — Você foi salvo dessa vez calouro, na próxima ela não irá estar aqui para lhe salvar...

AMERICAN SKY 》 LuhanOnde histórias criam vida. Descubra agora