1

11.2K 888 607
                                    

Você acredita em amor verdadeiro? Justifique.

De todas as provas que eu tive naquela semana, a de filosofia foi a que mais me intrigou. A questão que dizia algo sobre o amor, amor esse que eu desconheço, que só existe em obras literárias e cinematográficas, me pegou de surpresa mas, por esses motivos eu respondi não.

Não era uma crise existencial ou nada parecido, não pense que sou daquelas meninas que começam a pensar demais no futuro e acabam suspensas pelo pescoço no próprio quarto.

No entanto, é intrigante não acha? O tema do segundo período de filosofia ser amor, quando a pessoa por quem eu estou apaixonada é comprometida.

Essa pessoa tem nome. Vincent, mais conhecido como meu melhor amigo. Eu me encontrava olhando para ele durante o tempo que me restava para fazer a prova.

Meus olhos não desviavam de seu semblante alto e de seus castanhos fios e claros olhos que se encontravam concentrados no teste.

Assim que entreguei o teste á professora, sai de sala. Encontrei um canto no meio daquele imenso pátio escolar e sentei-me em um banco pondo meus fones de ouvido.

Era uma manhã relativamente fria mas, alguns pequenos filetes de raio ultravioleta atingiam e nutriam minha pálida pele que se recusava a receber sol por muito tempo.

Sorri ao por minha melodia preferida do Coldplay e ergui Meus olhos para o resto do pátio, que antes estava vazio. Antes.

Naquele momento, haviam três pessoas cruzando meu campo de visão, uma delas eu já sabia de quem se tratava, a diretora do colégio. As outras duas, um menino e uma senhora de idade avançada, eu não fazia a menor ideia mas, ambos demonstravam traços orientais.

Por algum motivo misterioso, o garoto, entre as mulheres que conversavam cobre algo inaudível, me cativou. Ou pelo menos, cativou-me o olhar. Talvez fosse o jeito de andar ou os ressaltáveis fios negros e orbes do mesmo calibre. Eu não sabia, apenas o observava até sua figura desaparecer de minha visão  entrando no prédio escolar.

•    •    •

Era aula de matemática quando meus pensamentos voavam pelos cantos daquela sala e minha vontade de se retirar dali aumentava, números que nunca entrariam em minha cabeça, fórmulas que eu nuca usaria na minha vida me esgotavam.

Meu belo romance com Vincent foi interrompido por algumas batidas na porta da sala de aula, a professora se aproximou da superfície de madeira e a abriu, dando á todos a visão da mesma senhora que eu vira mais cedo.

Esgueirei meu olhar e, logo atrás da idosa, eu pude ver uma figura a usar um casaco cinza e jeans. Fitei o rosto do rapaz atrás da mais velha e notei que era o rapaz de mais cedo.

Um aluno novo talvez?

A minha pergunta foi respondida na semana seguinte, em uma segunda feira que contava com a presença uma incrível prova de matemática. O menino entrou na sala enquanto todos se acomodavam.

Meus olhos o acompanharam até encontrar a última carteira da fileira do canto direito. Ele se sentou e pôs a mochila sobre a mesa enquanto mantinha os fones de ouvido grudados nas orelhas, uma delas tinha poucas e pequenas auréolas negras presas aos furos.

— O que acha do menino novo? - Vincent tirou-me dos meus devaneios sobre o calouro.

— Ele não é daqui. - Falei segura assim que meus olhos encontraram os dele, que por ventura estavam fixados na janelas parcialmente abertas da sala de aula.

— Soube, por algumas conversas da diretora, que ele veio da China. - Vincent informou e eu assenti examinando o rosto do rapaz novo.

Não pude passar muito tempo prestando atenção no menino pois, a professora havia chegado e era hora da prova, com isso, o menino saiu de sala porque não iria realizar a prova naquele dia.

Como sempre, falhei em tentar realizar todas as questões daquela prova, daquela maldita prova. Minha cabeça a estava a mil assim que saí de sala após entregar a prova.

Me dirigi até a biblioteca e respirei fundo sentindo o cheiro daqueles livros antigos que guardavam mais inteligência que qualquer questão bem resolvida de matemática.

Haviam grandes vitrais coloridos na parede perto do teto, os mesmos tinham o desenho de algum santo, a luz, então, que passava translucidamente pelos vitrais, reluzia na área dos meus livros favoritos.

Segui caminho, olhando os nomes dos livros na lombada dos mesmos, até encontrar o meu favorito, aquele que me rendia as melhores horas da minha vida.

Meus dedos encontraram Razão e Sensibilidade, na terceira prateleira de baixo para cima. No entanto, não foram só os meus.

Virei meu rosto no mesmo momento, para me certificar de que havia realmente alguém a querer o mesmo livro que o meu, e havia. Me surpreendi ao ver os traços do calouro sob o capuz cinza de seu moletom, consequentemente, deixando o livro cair sobre o carpete bege.

— Aqui. - Ele se abaixou e pegou a obra antes que eu tivesse a oportunidade de fazê-lo.

Ele estendeu o livro para mim mas, eu me senti na necessidade de deixá-lo ler. Afinal, ele havia encontrado antes e eu já havia lido aquelas mesmas páginas mais de vinte vezes.

— Por favor, leia, eu já conheço a história.

— Eu também, você o tocou primeiro, nada mais justo que fique com você. - Ele disse e eu peguei o livro em suas mãos, olhando para a bem-ornamentada capa de couro.

— Tem certeza? Por mim está tudo bem se você ficar com ele.

— Agradeço mas, pelo seu olhar, creio que esse livro valha mais para você do que para mim. - Ele falou devagar, ma dando pistas sobre seu possível cuidado com a pronúncia, revelando sua nacionalidade diferente.

— Ah obrigada... - Deixei espaço para que o menino completasse com o seu nome.

— Luhan. - Ele sorriu fraco.

— Belo nome.

Ele assentiu e voltou sua atenção para as prateleiras enquanto eu me dirigia para a poltrona mais próxima para continuar a minha leitura de ontem. Me sentei em uma das poltronas aconchegáveis do local e abri na página do livro em que eu havia parado ontem...

AMERICAN SKY 》 LuhanOnde histórias criam vida. Descubra agora