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[Freda]

       O problema de receber um bilhete anónimo (brilhantemente recheado de palavras poéticas referentes ao melhor autor do mundo) e um pêssego desconhecido é este: não conseguir parar de pensar no dito cujo bilhete e no supramencionado pêssego. E eu juro que até me esforcei para mudar de conteúdo cerebral, mas cada vez que respirava fundo e dizia a mim própria que aquilo não tinha acontecido, que aquilo tinha sido um erro de cálculo, que aquilo tinha sido a partida mais genial da história, o meu coraçãozinho apertava-se de ansiedade, a minha taquicardia tornava-se exorbitante (a um ponto em que um médico se poderia assustar) e um sorriso estúpido aparecia nos meus lábios, cujo batom do cieiro encobriu grande parte das caretas provenientes destes – eu digo isto pois de cada vez que os meus neurónios davam ordem aos meus lábios para sorrir, eu sacava do meu fiel batom com aroma a pêssego e humedecia muito desgraciosamente a minha boca peganhenta. Ao menos não me podia queixar das queimaduras e da secura.

       A meio do caminho uma pergunta substancial percorreu o meu encéfalo ofendido: era suposto comer o pêssego ou guardá-lo como recordação e/ou possível prova? Quer dizer, o dia estava agradavelmente quente e a fruta tinha um ar realmente sumarento e doce, pois quando os meus dedos faziam pressão sobre a casca careca conseguia denotar a moleza e a substância ternurenta e carinhosa do pêssego. E já que o trazia na mão escusava de parar no bar para comprar uma garrafa de água ou umas bolachas e reabastecer-me de combustível bioalimentável. Este pesseguinho, e a pessoa que o deixou para mim, podiam salvar-me a vida. Mas não. Eu teria de ser forte e esperar, pelo menos, até encontrar alguém minimamente racional que me comprovasse a realidade da situação, pois se alguma vez eu contasse a alguém que um admirador secreto me ofereceu o pêssego as pessoas rir-se-iam na minha cara e dir-me-iam que tinha apanhado sol a mais.

       Fui rápida a avistar o bloco dos dormitórios. Queria despachar-me e acabar com este sofrimento. A verdade é que, na minha vida, na minha monótona vida, nunca nada de excitante e intrigante acontece, e, quando algo deste género toma lugar, a primeira coisa que se deve fazer é encontrar a pessoa mais próxima de ti e contares-lhe TUDO o que sabes acerca desse excitante e intrigante acontecimento, pois se o fizeres tarde demais, poderás estar a deitar ao lixo uma grande história. E bem, foi o que eu fiz. Não a parte de deitar a história ao lixo, pois eu nunca seria tão ignorante a esse ponto, mas a parte de me despachar a encontrar alguém próximo. E o que fiz foi o seguinte: corri até à porta número seis (também conhecida como a Porta de Entrada no Mundo Encantado de Freda e Leah), rodei a maçaneta com força supersónica, bati com a porta e causei um estrondo que se deve ter ouvido por todo o campus, atirei-me sobre a minha companheira de quarto, esfreguei-lhe o pêssego na cara e sorri vitoriosamente, como se tivesse acabado de ganhar a lotaria dos pêssegos.

       – OLHA SÓ, LEAH! – gritei, afastando-me do seu corpo. Ela parecia assustada, mas só reparei nisso quando puxou o cabelo castanho para longe da cara e me fitou com uns grandes olhos esbugalhados. No seu colo encontrava-se um caderno, que talvez devido à minha distração, acabou cheio de gatafunhos impercetíveis.

       – Mas que raio... – murmurou ela, rodando a cadeira na direção da secretária. Pousou os objetos em cima desta e levantou-se, visivelmente furiosa com a minha felicidade desmesurada. – O que é isso? Foste ao refeitório roubar fruta?

       – Leah, ouve-me com atenção, pois estás prestes a ouvir a cena mais incrível e estranhamente sinistra de sempre! – empurrei-a de modo a que se sentasse na sua cama, o que a fez suspirar e revirar os olhos. Leah era diferente de mim em muitos aspetos, e um deles era a pacatez e a... como dizer? Intolerância a gestos e atos menos corretos e irreverentes. Por outras palavras, Leah é uma menina certinha e não gosta que lhe estraguem a rotina.

       – Freda... – a sua voz fez-se ouvir, carregada de condescendência e descrença. – Essas tuas histórias acabam sempre por ser uma desilusão. Da última vez tu nem sequer tinhas razão e acabaste quase na esquadra da polícia por nada. Eu sei que gostas de defender os teus direitos e tal mas...

       – Desta vez não tem nada a ver com os meus movimentos ativistas! – defendi-me, permanecendo à sua frente. Os meus braços sempre tiveram esta capacidade de dramatizar as situações, e, sempre que eu dizia algo, eles lá se movimentavam muito enfaticamente, como se eu fosse uma cantora lírica. – Estás a ver este pêssego!? – Leah balançou a cabeça, enfadada. – ADIVINHA DE ONDE APARECEU!

       – Estás a gozar? Eu acabei de dizer que tu o foste roub...

       – Não é esse o tipo de entusiasmado que eu procuro. – suspirei, rendendo-me. – Isto veio do nada! Eu estava na biblioteca, sentadinha a ler o Folhas de Erva, como faço todos os dias, e quando acabo levanto-me para o ir arrumar. Infelizmente não havia espaço para o arrumar por isso eu ainda o tenho aqui comigo, pois uma preciosidade destas não pode ser colocada num sitio qualquer, ainda fica danificada ou qualquer coisa e...

       – Freda!

       – Ah... sim. – sorrio. – Então, eu volto a ir para a mesa onde estava e não é que encontro este pêssego!? E há mais! – sobre o olhar atento de Leah, as minhas mão trémulas esforçam-se por encontrar o bilhete rasgado que eu tomei o cuidado de guardar no bolso do casaco. Quando o ergui no ar, Leah retirou-mo das mãos e leu em silêncio, sempre muito cética e apática. – Não é incrível!? Eu, Freda, com um admirador secreto... Mas sobretudo: eu, Freda, com um admirador secreto que conhece e aprecia a poesia audaz de Walt Withman.

       – Tu tens a certeza de que isto é para ti? – Leah interrogou uns segundos depois, desiludindo por completo o meu pobre coração. Ela parecia não acreditar que alguém se deu ao trabalho de fazer tamanho gesto por mim, mas as provas não o desmentem.

       – Claro que tenho a certeza de que isto é para mim! – retirei-lhe o bilhete das mãos, pressionando-o contra o meu peito. – Quem mais nesta espelunca vai à biblioteca ler Withman!?

       – Freda, já pensaste no quão assustador isto é? Podes ter um perseguidor...

       – Um perseguidor cheio de amor para oferecer. – sorri enternecidamente, fantasiando alto demais. – E eu até já sei quem é.

       – Sabes!?

       – Sei pois. – suspirei.

       – Então quem é!?

       Um sorriso petulante curvou os meus lábios, enquanto eu, de forma muito teatral, fitava a peça de fruta presa na minha mão.

       – Alguém da minha aula de literatura. – respondi. – E alguém dotado de um tremendo bom gosto.

       – Oh rapariga... – Leah riu-se, levantando-se para me dar uma pancadinha nos ombros. – Assenta mas é os pés na terra ou ainda cais e quebras o coração.

»»»»»»»»

eu ADORO a Freda. eu meio que a criei sozinha e idk, ela é uma criaturinha incompreendida selvagem cor de pêssego. O michael podia casar-se já com ela, mas isso fica para outra história lmao

ok, prosseguindo (eu estou exausta, socorro) espero que tenham gostado e já sabem que podem comentar, tanto eu como a Rita adoramos ver as vossas opiniões!! 

e temos uma nova personagem, eheh... espero que tenham ficado com uma boa impressão da Leah, pois ela vai regressar às nossas vidas e não digo mais senão a rita mata-me :)))

GOSTO MUITO DE VOCÊS, PESSEGUINHAS (o computador quer corrigir para "pessegueiros" vamos rir)

ATÉ BREVE x

eLLA. ~ 18-05-2016


Peach » michael cliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora