[Michael]
Se há umas semanas atrás tivesse tido um momento de reflexão sobre o que seria o meu futuro, nunca imaginaria viver toda esta aventura. Ter uma crush; andar a comprar pêssegos; dar os pêssegos à suposta crush; morrer de medo cada vez que olhava para ela; conversar com o Calum sobre isto; fugir dela; ganhar coragem para marcar um encontro; fugir dela, novamente; marcar o segundo encontro; beijá-la; marcar o terceiro encontro; darmos início a uma relação mais íntima. Em tão pouco tempo foi isto que vivemos devido à minha curiosidade desmedida e paixão inesperada, situação que nunca me tinha acontecido com tanta intensidade quanto foi com Freda. Ela tinha-se tornado a minha vida por muito hiperbólico que isto possa soar. Na verdade, nem queria saber o que os outros pensavam. A única e exclusiva opinião que era do meu interesse era a do amor da minha vida que, infelizmente, um dia, me disse que isto não estava a resultar assim tão bem quanto eu julgava.
Pegando nas palavras de Freda:
– Eu acho que não gosto de ti da mesma maneira que tu gostas de mim... E tu és como um oito e eu um oitenta, percebes?
Agora o oito estava deitado, não como um infinito, mas sim como um grande lago de lágrimas e ranho, com alguns lenços de papel espalhados por aí. Eu tinha mesmo a certeza que gostava dela, mas preferi não insistir porque podia perdê-la para sempre. Ficámos apenas amigos que almoçavam juntos e iam para a biblioteca. Amigos que resultavam em serem amigos. No entanto, por muito que me esforçasse a estar radiante ao pé dela, quando me encontrava sozinho, sentia-me um caco.
O Calum já me tinha advertido que isto não era vida para ninguém, pois eu nem era uma rapariga para me armar em Maria Madalena. Assim como Ashton, lá com as suas filosofias, concordava com o primeiro, dizendo que tinha que seguir com a minha vida em frente. Por outro lado, existia o Luke, que me oferecia o seu ombro para eu chorar ruidosamente, assegurando que tudo ia ficar bem, eventualmente. Mas esse eventualmente é traiçoeiro dado que não há uma data nem um momento específico para ele surgir e fazer a sua magia. Eu continuava na merda. Um oito perdido pelos cantos da universidade.
Não sabia muito bem o que fazer. Pelos conselhos que me eram dados, a única solução era esperar pelo fim dos exames e fechar-me em casa dos meus pais durante as férias inteiras a sofrer, sozinho, como um tufo de relva num oásis. Contudo, eu queria curar o vazio que se apoderara de mim, mas as minhas ideias eram escassas, nem conseguia arranjar uma para entrar no patamar do ridículo.
O meu quarto estava pior que nunca, tal e qual o meu coração. Para além da tamanha nojice que tinha criado à minha volta, resultante do ato de me assoar, tudo estava ao monte: a mochila, os livros, a roupa... Parecia que tinha voltado ao meu antigo eu, o doce antigo eu que é um desmazelado de primeira e que se vestir uma camisola lavada é um milagre dos deuses. Antes Freda andava por aqui, portanto tinha que me cuidar a todos os níveis para não a afugentar, mas agora ninguém ia querer entrar na toca do lobo solitário.
Entretanto, mesmo na exata hora em que tinha pensado que nenhuma alma ia invadir o meu espaço, vejo a luz do corredor a entrar pela divisão dentro, cegando-me por completo – escusado será dizer que a minha persiana estava fechada há uns belos dias. Adverti-me por nunca fechar o raio da porta à chave quando vejo um ser de plantão na porta, como se fosse um serial killer prestes a matar-me por puro prazer, contudo, no momento em que a pessoa decide gritar, consigo perceber de imediato de quem se tratava.
– ESTOU FARTO DESTA MERDA! – berrou o meu excelentíssimo amigo Calum. A única reação que tive foi esconder-me por debaixo dos lençóis, à espera que ele me dirigisse o seu monólogo irritado. – Tu pareces um eremita! E uma criança também, mas as crianças, ao menos, tentam comunicar com as pessoas! Que merda é que tu resolves em ficar aqui enclausurado a chorar em cima de litros e litros de lágrimas derramadas? FAZ-TE HOMEM! – sem dar por ela, o rapaz puxa a minha roupa da cama para trás, revelando-me, indefeso. – Vais tirar esse cu da cama e vir comigo, agora!
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Peach » michael clifford
Fanfiction''Irá um pêssego conseguir unir duas almas negras e transformar a relação num amor inocente?'' [2.º livro do The Fruit Series] All Rights Reserved © copyright // tulipxs & prxcrastinatus