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[Michael]

       Corri e desviei-me das pessoas como se fosse o novo James Bond, contudo, com o maior sorriso pateta estampado na minha cara. Tinha conseguido entregar o pêssego e o papel, pela segunda vez, e tinha salvado o meu anonimato pela querida e conhecida bibliotecária que já me vê e cumprimenta calorosamente há algum tempo. No entanto, mesmo que estivesse orgulhoso e satisfeito comigo mesmo, pois tinha sido uma missão cumprida, algo me fazia sentir que ela sabia da minha existência ali, mesmo que o meu lugar naquela divisão fosse o mais solitário de todos. Podiam até ser filmes da minha cabeça ou a preocupação de ela me descobrir vir ao de cima, mas, quando ela recebeu aquela chamada de repente – que por acaso foi hilariante ver o seu ar atarantado – vi-a a sorrir na minha direção. Algumas questões se formaram na minha mente nesse preciso momento: é para mim? Tenho alguma coisa na cara? Será que já sabe que fui eu graças ao Calum Linguarudo? Quem será do outro lado da linha? E aí, cheguei à conclusão que podia ter sido uma piada ou uma história inovadora por parte da pessoa que faz chamadas a horas que não devia. Mesmo assim, o meu lado cauteloso enviou um alerta a anunciar que se devia ligar o quanto antes porque o meu eu ainda não tinha tomates para me mostrar à ruiva.

– Michael! Michael! – ouvi alguém a chamar-me, interrompendo a minha corrida frenética em busca de um sítio seguro e longe da biblioteca. Olhei em meu redor e dei de caras com Ashton a pedir-me para esperar, o que me fez encostar atrás de um pilar. – Então? Porque é que estás aí escondido?

– Porque é que não falas isso para um megafone? – resmunguei, preocupado com a atenção que aquela frase poderia atrair.

       Ashton estreitou os olhos e deixou escapar um suspiro carregado de irritação. – Andas a passar demasiado tempo com o Calum. Vocês parecem dois poços de insensibilidade e inconveniência. A vida não deve ser levada ao extremo, mas sim os pequenos momentos que temos. Sabes, o carpe diem? Devias acreditar mais nesta filosofia.

– Desculpa Ashton, mas quando vês que uma pessoa está a tentar passar despercebida, não perguntas o porquê de estar escondida no exato momento, mas sim mais tarde ou no dia seguinte. São regras básicas de vida. – expliquei calmamente enquanto Ashton abanava a cabeça como se estivesse a ouvir uma palestra de Filosofias Inovadoras Para Jovens.

       No instante em que desviei as minhas atenções para o corredor, percebi que a ruiva da biblioteca passava pelo mesmo com um passo acelerado em direção ao bloco das salas. Achei estranho, pois eram cinco e um quarto da tarde e ninguém tinha aulas a esta hora, no entanto, vindo dela, tudo era uma surpresa.

– Parece que vais comer a Freda com os olhos. – desta vez Ashton sussurrou contra a minha cara e senti o seu bafo contra a minha pele, o que infelizmente fez com que o seu hálito invadisse o meu nariz e me baixasse os níveis de felicidade para setenta por cento.

– Freda... Freda! Que nome tão interessante. O que será que significa? – murmurei os meus pensamentos vadios para o ar enquanto iniciava uma caminhada pelos corredores da universidade, contudo, sem destino traçado. Ashton decidiu acompanhar-me a meu lado e, do nada, juntou-se à minha divagação.

– Pelo que ela disse, Freda significa amante da paz. – o rapaz que caminhava comigo afirmou, deixando-me estupefacto.

– Tu conhece-la? – questionei com um pingo de esperança, na medida em que se tivesse um alicerce entre mim e Freda, talvez pudesse chegar a ela mais rapidamente e com mais confiança.

– Não propriamente. – disse. – Estive com ela uma ou duas vezes porque ela apoia aquelas manifestações malucas do pessoal da minha turma. – o meu colega desvendou como se estivesse na lista das compras do mês, porém, para mim, era mais um detalhe a reter sobre aquele ser fascinante. Primeiro, o amor pela poesia, depois a adoração por pêssegos, e agora, aderente a manifestações com temas absurdos. – Michael, – Ashton interrompeu os meus afazeres mentais – desde quando é que desenvolveste um interesse na Freda? Quer dizer, nunca vos vi juntos.

– Ela frequenta Literatura comigo... O Calum não te contou nada? – inquiri, de certa forma, espantado.

– Não.

– Nada de nada?

– Nada de nada.

– Aquele sacana sabe mesmo guardar segredos. – confirmei as minhas suspeitas a alto e bom som no momento em que a porta da entrada se fechara atrás de mim.

       A brisa tardia invadiu o meu espaço pessoal, aquecendo ao de leve os meus braços, pois a esta hora não podia esperar por temperaturas muito elevadas. Enquanto andávamos pelo jardim do campus, Ashton olhava para mim como se eu fosse o cristal mais raro do mundo, no entanto, conhecendo-o como conheço, nem devia estar a pensar em mim, mas sim se em Marte existem alienígenas cor de laranja ou se eram do tradicional verde. Ao fundo, num banco à beira de uma macieira, reparei em Luke que se encontrava mergulhado em pilhas de papéis e parecia frustrado com alguma coisa, portanto, decidi aproximar-me para o ajudar, dependendo do assunto em questão.

– Michael, tu fizeste um teste à fidelidade do Calum? – questionou Ashton a mirar o horizonte.

– Acho que sim. – respondi, refletindo sobre o que, de forma inconsciente, a minha frase tinha dado a entender. – Não quero dizer que não confie nele, mas ele é muito imprevisível e, como nós sabemos, diz a primeira coisa que lhe aparece à cabeça. Por outras palavras, podia ter-se descaído, sei lá.

       O rapaz abanou a cabeça afirmativamente, entrando depois no seu momento de reflexão solitário enquanto Luke, ainda sem dar por nossa conta, suspirava e praguejava sozinho uns quantos palavrões. Ashton sentou-se no banco sem dizer nada, o que fez com que o loiro deixasse que o sol lhe iluminasse a testa e, quando deu pelo meu corpo quase Danone, arregalou os olhos de alívio.

– Michael, eu preciso urgentemente da tua ajuda! Eu estou completamente fodido!

– Desde quando é que tu dizes palavrões?

– Desde que estou fodido. – reforçou a ideia. – Só consegui acabar hoje aquele resumo da treta daquele livro da treta e ainda não sei nada para Literatura e a frequência está aí à porta e não sei o que fazer!

– Calma, respira fundo e diz-me o que precisas. – ordenei enquanto me sentava na relva seca mas confortável do jardim, abrindo, de seguida, os meus resumos mais que revistos durante tantas horas que passei, esta semana, na biblioteca.

– Ajuda-me a decorar os significados dos objetos. Como o professor é, não podemos arriscar em não saber estes pequenos detalhes.

       Assenti ao seu pedido de ajuda e comecei a enumerar aqueles significados mais importantes que o professor nos tinha cedido nos powerpoints, lembrando, em segundo plano, a aula em que ela falou e revelou aquele pequeno detalhe que me fez envergar numa das maiores aventuras – escusado será dizer que a única – da minha vida. Questionava-me onde ela poderia estar, ou mesmo o que estaria a fazer neste momento, no entanto, nada estava a meu favor para eu o saber, pois toda a vergonha me consumia cada vez mais a cada dia que passava e, por muito que quisesse que ela desaparecesse como se fosse um rabisco pronto a ser apagado, não o conseguia fazer. Freda era especial, especialmente única, e um falso rebelde como eu não tinha hipóteses nenhumas com ela. Contudo, sendo assim, o anonimato tinha que continuar e, francamente, era muito mais emocionante e prazeroso desta forma.

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cucu pesseguinhas

espero que tenham gostado da presença do ashton filosófico e do luke morango atarantado

não se esqueçam de comentar! adoramos saber o que andam a achar da história :p

a ellazinha voltará num futuro próximo eheh

kisses amiguinhas

17/10/2016

Peach » michael cliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora