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[Michael]

– Michael? MICHAEL!? Onde é que tu vais? – questionou Luke no momento em que eu deixei de acompanhar os seus passos.

       Aqueles cabelos ruivos... Aquela cara rosada que me faz companhia durante os sonhos... A Freda estava a falar com Ashton à frente da porta dos nossos dormitórios e a primeira coisa que me passou pela cabeça foi dar meia volta e fugir para bem longe dali, como se o meu anonimato fosse por água abaixo e ela descobrisse que eu estava redondamente apaixonado por ela apenas com um sorriso idiota vindo da minha parte. Não conseguia pensar numa questão possível para que ela se dignasse a dirigir-se até este bloco, mas, na realidade, eu não a conhecia tão bem quanto eu gostaria. Por muito que me custe pensar nisto, muito provavelmente tenho uma ideia errada da rapariga veneradora de poesia e só pedia para que, quando confrontasse a verdadeira Freda, não tivesse um choque tão grande perante a minha criação e a realidade.

– Importas-te de parar de fugir? – Luke voltou a insistir, mas desta vez tentou travar-me com um puxão no meu braço. Depois de me equilibrar, encarei o semblante confuso do loiro. – Já não queres ir comer? Estás bem?

– Desculpa-me. – pedi, francamente. – Sabes se o Calum demora?

– Não faço a mínima ideia, mas se passar por ele, eu digo-lhe que o queres ver.

       Agradeci-lhe e cada um seguiu caminhos opostos. Caminhei de volta para o meu dormitório, onde outrora estava a ajudar Luke a dar a última vista de olhos nos apontamentos de Literatura para a frequência de amanhã, e sentei-me na minha cama a mirar o abstrato nada, à espera de Calum. Como ele se encontrava perto da entrada, talvez me pudesse dizer o que é que ela estaria ali a fazer. Ela poderia estar a reunir pessoas para criar um grupo de busca a um tarado universitário, que, neste caso, era um rapaz terrivelmente tímido chamado Michael Clifford que se sente bem a mudar o cabelo consoante o estado de espírito e tem uma obsessiva tendência em planear tudo ao minuto.

       Após uns longos momentos a imaginar nuvens no teto, a porta do meu modesto dormitório foi aberta de rompante, dando de caras com Calum deliciando-se, ainda, com uma das sobremesas da cantina. Pelo cheiro que se infiltrou no pequeno espaço podia deduzir que era uma fatia de bolo de bolacha, o que me deu uma certa fome.

– Credo, Michael, que posição de enterro é essa? – Calum questionou, invadindo a minha cama com o seu rabo gordo. – O que é que aconteceu na minha ausência? Não me digas que não conseguiste apanhar um Pokémon shiny e estás assim!

– Não é em relação ao Pokémon Go. – confirmei, batalhando contra a minha vontade de lhe roubar aquele prato de plástico. Ele pegou mais uma garfada daquela doçaria dos deuses e colocou-a na boca, fechando os olhos de satisfação.

– Então, o que é que se passa caro amiguinho? O Doutor Calum Hood está aqui para resolver os teus problemas e, como é para ti, nem te cobro a consulta. – ele sorriu-me, com vestígios do doce nos dentes, o que me deixou triste, e um pouco enojado.

– Tu ouviste o que é que a Freda estava a falar com o Ashton? – no momento em que Calum adotou a sua expressão pensativa, arranjei uma maneira de aprender a rezar para que as minhas dúvidas tivessem algum tipo de resposta, no entanto, ele não me estava a dar esperanças nenhumas.

– Meu querido paciente, se quer que lhe diga, eu só a vi caída no chão. Agora, vindo do Ashton, ele apenas nos perguntou se nós conhecíamos algum Walt para além do Disney.

– EU NÃO ACREDITO NISTO! – levantei-me de repente da cama com as mãos na cara enquanto o mundo caía aos meus pés. A Freda andava atrás de mim, certamente! E agora? – O MEU TRABALHO ÁRDUO ESTÁ A IR PELO CANO ABAIXO!

– Mas é suposto eu perceber sozinho porque caraças estás assim? – o portador do meu segredo do momento questionou, alimentando-se com o único pedaço de bolo de seguida.

– Walt Whitman, poeta do século dezanove, publicou Folhas de Erva em 1855 que, por mero acaso, é o livro preferido da Freda! O qual, por mero acaso, eu já li algumas vezes e uns versos ficaram presos na minha memória. Os quais, por mero acaso, foram usados por mim nos bilhetes que lhe tenho deixado com um pêssego. – explanei atarantado, e Calum olhava de um lado para o outro como se eu fosse um pêndulo ambulante. Suspirei profundamente e sentei-me na cadeira de madeira, aterrando a minha cabeça nas mãos.

– O meu diagnóstico é que estás completamente fodido. Fim da consulta. – ele concluiu, triunfante. – Agora de amigo para amigo, se eu fosse a ti, arranjava coragem sabe-se lá onde e marcava um encontro com ela. – o rapaz levantou-se da cama com o seu pratinho na mão e foi de encontro à porta. – Porém, o problema é teu, portanto, nada melhor que fazeres à tua maneira. Até amanhã.

       Ele bateu com a porta, deixando-me sozinho.

       Eu não estava preparado para falar com ela... Será que eu vou estar algum dia? Geralmente, os conselhos do Calum devem ser seguidos. Também devo levar esta situação em consideração? Para ser honesto, eu nunca pensei na hipótese de ela se interessar nestes pequenos bilhetes na primeira vez que pensei nisto. Sempre imaginei que ela os ignorasse, ou tentasse avisar o reitor que um tolo qualquer estaria à solta nas instalações universitárias e a estivesse a arrastar para uma rede de tráfico de mulheres.

       A minha cabeça estava feita em água, no entanto, algo se ligou em mim e peguei na minha esferográfica preta e num pedaço de papel, começando a escrever três versos que induziam a um tipo de encontro. Eu não estava totalmente à vontade com esta minha ideia, mais do Calum, mas mais-valia eu entregar-me do que Freda me encontrar sem eu dar conta e começar a fazer-me um interrogatório. No entanto, para seguir este meu ritual, precisava de um pêssego, e a estas horas da noite a minha única hipótese era assaltar a mercearia à senhora, o que não era, de todo, bom para o meu currículo.

       Por fim, anotei nos confins do meu cérebro que deveria acordar meia hora mais cedo amanhã para me arranjar para que tivesse tempo de ir à cidade comprar o fruto alaranjado de sempre para oferecer à mesma pessoa de sempre, contudo, teria que ser num sítio diferente. Pensei para com os meus botões, e o melhor momento para nós nos vermos era depois do teste de Literatura, o que implicava ter de o entregar de manhã.

       Muito provavelmente vou ter que pedir ajuda a Calum para colocar o bilhete nos dormitórios das raparigas sem ser visto, e eu só espero que ele alinhe. Ainda assim, se é para levar tudo pelo cano abaixo, a minha dignidade que vá também.


•••

cucu pesseguinhas

espero que tenham gostado! o que acham que vai acontecer no próximo? eheh

acho que não publicamos antes do natal, portanto, em nosso nome desejamo-vos um feliz natal :p cuidado com os docinhos

no próximo estará cá a ellazinha, as always

kisses ♥

21/12/2016

Peach » michael cliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora