[Michael]
Abandonei o meu dormitório e dirigi-me em direção à lavandaria para levar o monte confuso de roupa que ontem tinha recolhido enquanto Calum especulava teorias idiotas em relação à minha ausência propositada. Ao longo do caminho, pus-me a calcular quanto tempo deveria gastar nas máquinas de lavar para que depois pudesse, sem qualquer tipo de pressas, ir à mercearia comprar mais um pêssego e, pelo meio desses afazeres, arranjar alguma frase original para escrever num bilhete. Pensei em pegar num dos versos de um poema do Folhas de Erva, pois seria algo que ela já conhecia e, mesmo assim, tinha a oportunidade de dar um toque meu. Porém, o meu lado crítico dizia-me que devia arriscar mais apesar de nada me ocorrer na mente no momento.
Adentrei pela lavandaria e fui para uma das máquinas de lavar gigantescas e coloquei toda a roupa lá para dentro, tratando depois de a pôr a trabalhar e, quando alcancei essa proeza, decidi encostar-me numa das mesas de metal que se encontravam no centro da divisão para que nos fosse possível dobrar a roupa ou realizar qualquer outra atividade doméstica da qual eu não sou perito. Honestamente, eu não era detentor do conhecimento de nenhuma, por isso é que limpava o quarto de longe a longe e devia ser a terceira vez neste ano que metia cá os pés. Podiam chamar-me o que quisessem, mas eu entendia-me bem com este método e, aliás, tinha vindo para a universidade estudar e não passar a ferro os meus boxers – apesar de que era necessário, todavia, eu tentava poupar na roupa interior e o mais importante desta teoria era que ninguém via a minha roupa interior porque 1) não exercia esse tipo de atividade há algum tempo e 2) não fazia questão de andar em trajes menores no corredor dos dormitórios.
– Clifford! És mesmo tu? – rodei a minha cabeça na direção da origem da voz e dei de caras com Calum que carregava um grande saco de plástico. Ao seu lado estava Ashton descontraído como sempre.
– Quantos rapazes com cabelo verde existem nesta universidade? – ripostei, cruzando os braços à frente do peito.
– Bem visto. – ele concluiu, começando por desapertar o nó do seu saco e despejar todo o seu conteúdo para a máquina. – E tu só tens um fã, que por acaso sou eu, mas eu nunca ia seguir essas tuas pegadas.
– Ias parecer um ananás humano Calum, deixa-te estar assim. – conclui enquanto seguia as voltas e voltas que a roupa estava a dar na máquina com o olhar.
– Estás a dizer que sou amarelo?
– Não, eu acho que ele quis dizer que tu és lindo e maravilhoso ao natural. – Ashton respondeu-o por mim da forma mais natural possível.
Calum vangloriou-se com gestos de concorrentes de concursos de beleza como se estivesse a ser avaliado pelos jurados naquele exato momento enquanto eu fazia a contagem decrescente para me ir embora. Faltavam dez minutos. Nove minutos e cinquenta e nove segundos. Nove minutos e cinquenta e oito segundos. Nove minutos e cinquenta e sete segundos... Contudo, caso já não fosse suficiente estarmos nós os três no mesmo espaço, Luke apareceu completamente concentrado no seu pequeno telemóvel. No momento em que quase foi contra uma das máquinas pesadas, levantou o olhar e encarou-nos de uma forma bastante confusa, como se fosse bastante raro encontrarmo-nos todos ali – o que, por acaso, era.
– O que é que estão aqui a fazer? – perguntou o loiro tranquilo enquanto pousava o telemóvel na mesa onde eu estava encostado.
– À tua espera é que não era de certeza. – Calum retorquiu com o seu humor singular ao mesmo tempo que estalava os dedos.
– Tu podias pensar antes de falar a primeira coisa que te aparece na cabeça. Ficava-te melhor. – foi a vez de Ashton intervir, no entanto, eu apenas estava mais interessado em ver os números a diminuir do que entrar naquela mini conversa.
– Mas eu disse alguma mentira? – Calum bufou.
– Deixa estar Ashton, – ouvi a voz de Luke algures – já estou habituado às piadinhas do nosso querido amigo.
O monitor ainda estava nos cinco minutos, o relógio marcava as treze e trinta e dois e eles os três tinham começado a falar sobre uma confusão gerada por uma aluna na cantina esta manhã, mas nada que despertasse a minha atenção. Eu só queria sair daqui. Ir pelas ruas banhadas pelos raios solarengos até à frutaria e regressar até à biblioteca, acabando por observá-la horas a fio sem me cansar uma única vez. Tinha saudades dela como se não a tivesse visto durante anos, mas na verdade tinha observado todos os seus movimentos ao longo da tarde de ontem. Para ser sincero, só estas pequenas horas sabiam-me a pouco. Era como comer aquelas lasanhas pré-cozinhadas com tamanhos ridiculamente pequenos. Em palavras bonitas e filosóficas: era um prazer escasso.
Quando a máquina de lavar começou a apitar como se fosse uma velha rezingona presa no trânsito no seu pequeno carrinho de 1980, abri a porta e coloquei tudo no saco mais uma vez, passando à fase número dois que era a máquina de secar, pois eu já não tinha tempo para a realizar. E, afinal de contas, eu tenho um dormitório e ele tem o dever de dar para pôr a roupa a secar. Coloquei o saco às costas e caminhei para fora da lavandaria, de encontro ao meu quarto onde ia apenas pousar as roupas e buscar a minha mochila.
Após uma enorme correria atrás da mercearia, mais uma vez, já tinha em minha posse o fruto laranja sumarento dentro da minha mochila pronto para lhe dar quando fossem quase cinco horas da tarde. Pelas minhas contas, faltava mesmo pouco tempo para ela atravessar a entrada da biblioteca e se dirigir à mesma prateleira de sempre, para depois se sentar na mesma cadeira de sempre e começar a ler o mesmo livro de sempre enquanto eu, que estava aqui com o intuito de rever a matéria de literatura para a frequência que se avizinhava, esquecia-me desse propósito e observava a rapariga até ao final da tarde.
Às vezes penso como será se, hipoteticamente, ela me descobrir. Se, alguma vez, ela olhar para trás e vê que estou num dos cantos da sala a encara-la como se fosse uma criança numa loja cheia de doçaria. Imagino a sua reação de várias formas e feitios, pois a rapariga é imprevisível. Pelo menos penso que sim... Para mim, ela é uma caixinha cheia de surpresas prontas para serem exploradas. E quem me dera explorá-las! Se eu não fosse tão tímido; se não tivesse tanto medo; se fosse mais confiante... De certeza que já a conhecia como a palma da minha mão.
Às três e meia da tarde, a ruiva adentrou pela biblioteca e, de repente, senti-me mais calmo como se a presença dela fosse algum tipo de estimulante para me fazer relaxar. Contudo, hoje ela tinha um ar desconfiado e os braços muito juntos ao peito. Observava o seu lado direito e o seu lado esquerdo frequentemente ao mesmo tempo que ia até à estante recheada de livros de poesia e, quando dei conta, ela retirava o Folhas de Erva de dentro do seu casaco. Quis lançar uma gargalhada pelo momento icónico, mas não estava no local indicado para tal e poderia arruinar o meu disfarce. Depois de ter simulado a retirada do livro, colocou um sorriso rasgado na cara e voltou para a sua mesa habitual, começando a leitura. Como se fosse possível, fiquei ainda mais fascinado com ela e com a sua personalidade, lembrando-me, assim, de uns versos do penúltimo poema do livro.
Só a queria conhecer, mesmo que ela não me conhecesse e desejava, apenas, quando tivesse coragem, que ela não tivesse medo de mim.
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preparem-se para uma nota muito grande ou talvez não
Olá caros amiguinhos. Primeiramente, como é que vocês estão? Em segundo lugar, espero que tenham gostado. Por último, peço desculpa por estes meses todos de inatividade, mas eu não consegui escrever por demasiadas razões e se calhar vai-me acontecer o mesmo daqui para a frente como me aconteceu em strawberry, mas uma coisa vos garanto: eu nunca desisto, portanto, mesmo que demore anos a publicar, eu volto aqui porque escrever faz parte da minha querida e tenra vida e gosto muito de vocês e, CLARO, não vou desapontar a minha queriduxa ellazinha!
Daqui em diante só me vou concentrar nos livros de séries e na Greenlight, por isso, vamos ver como corre. eheh
A Ellazinha estará aqui no próximo, as always, adoro-vos pesseguinhas ♥
4/9/2016
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Peach » michael clifford
Fanfic''Irá um pêssego conseguir unir duas almas negras e transformar a relação num amor inocente?'' [2.º livro do The Fruit Series] All Rights Reserved © copyright // tulipxs & prxcrastinatus