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[freda]

      Existem duas coisas que me irritam. A primeira é não saber quem se esconde por detrás dos segredos ocultos, como foi o caso do amoroso desconhecido dos pêssegos, que agora caminhava pacificamente a meu lado com um sorriso tonto no rosto pálido, mas rosado. E o segundo lugar na categoria as coisas que me irritam vai para as pessoas que fazem demasiadas perguntas quando eu peço explicitamente que não as façam e me dizem para ter calma, algo que devido ao meu signo é provavelmente impossível. Mas perguntam vocês: quem é que fez perguntas a mais e te disse para teres calma? Não, o Michael não o faria, mesmo apesar de eu mal o conhecer e achar que a sua inexperiência é muito mais vasta do que ele tenta dar a entender. Portanto, sim, a única pessoa que existe na minha vida, a única amiga, digamos assim, Leah. Quando lhe enviei mensagem a explicar a situação do encontro imprevisto com Michael e lhe disse, muito cuidadosamente, que já não podia ir ter com ela, a rapariga teve um esgotamento. Porquê? Não faço a mais pálida ideia; mas que me irritou?, sim, irritou muito.

      – Pareces distraída... ou é impressão minha?

      Fui apanhada de surpresa pelo rasgo de voz débil e confusa do rapaz que me acompanhava, cujos olhos me miravam vivamente. Eram verdes e grandes como os daqueles peluches amorosos que oferecem aos bebés. Ainda assim desviei-me deles, não querendo perder-me e cegar-me na sua imensidão. Talvez lhe estivesse a passar uma ideia errada, algo negativo e que me poderia colocar numa situação muito constrangedora e catastrófica, tendo em conta que a última coisa que eu desejava era ver-me livre deste rapaz, mas não conseguia evitar colocar-me em situações destas. Limitei-me por isso a aclarar a garganta e a sorrir de forma cordial.

      – Não é nada contigo. – apercebi-me do que disse no momento em que as suas sobrancelhas levantaram, e apeteceu-me esconder-me num buraco. O meu jeito para conversas estava definitivamente fora do prazo de validade e isso era preocupante. – Quer dizer... é contigo! Mas... não é exatamente contigo... ou seja... não tem a ver contigo. – esbracejei confusamente, causando uma enorme má impressão. – É isso... não tem a ver contigo. Sou eu. Eu sou... assim.

      – Ah. Claro. – riu-se. Uma gargalhada linda, melódica e divertida. O melhor som que ouvi nos últimos tempos. – Engraçada. É o que tu és.

      – Uns dizem engraçada, outros aguçadamente direta e desinteressada. Bem, as opiniões divergem. – um sorriso normal curvou os meus lábios, e agradeci ao Deus dos Pêssegos por Michael ser um rapaz tão compreensível e educado. Se fosse outro provavelmente mandava-me ir dar uma curva ao ver que o meu verdadeiro eu não é tão poético e delicado quanto parece.

      – Vamos sentar-nos? – ele apontou para a relva verde e fresca, que para dizer a verdade não me parecia assim tão apelativa. Ainda assim assenti com a cabeça, seguindo-o em silêncio até ao chão. Com as pernas cruzadas e os nossos rostos frente a frente, vi-o sorrir como uma criança, e esqueci de imediato todos os disparates que me andavam a passar pela cabeça. Aquele encontro podia não ser o mais normal, mas ao menos a pessoa que me acompanhava parecia adorar-me sinceramente, e isso bastava para a adorar também.

      – Fala-me um pouco sobre ti. – pedi, lembrando-me que pouco ou nada sabia a seu respeito.

      – Falar sobre mim? – desviou o olhar timidamente, com um sorriso medroso a dirigir-se ao chão. – Não há muito para falar... eu não sou assim tão interessante.

      – Garanto-te que para mim és a pessoa mais interessante num raio de cinco quilómetros! – exclamei efusivamente, fazendo-o rir-se novamente. – E para dizer a verdade, eu é que podia dizer isso acerca de mim. Não tu. – contive-me, deixando o meu tom de voz fluir de forma calma e quase provocante. – Tu passaste semanas a enviar-me bilhetes anónimos com poemas... e onde raio é que foste buscar a ideia de me dares pêssegos!? Quem faz uma coisa destas é mais do que interessante!

Peach » michael cliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora