2

280 49 10
                                    


[Michael]

        Deambulava pelas ruas perto da cidade em busca de concretizar a minha ideia, levando com a brisa quente no rosto como se fosse a minha companhia nesta aventura. Tinha apenas uma hora para realizar a tarefa que estipulei a mim mesmo, pois ainda tinha uma longa tarde de estudo pela frente na biblioteca. Sempre gostei de cumprir os meus horários à risca visto que assim acabava por fazer tudo o que tinha a fazer no dia, mesmo que a vontade não fosse muita. Era uma forma de introduzir um pouco de disciplina na minha vida, apesar de não conseguir obter resultados excelentes devido à minha constante distração.

       Todas as lojas de conveniência pelas quais eu passava pareciam iguais, o que me estava a dificultar a vida. Não sabia onde me dirigir e nem fazia ideia de qual seria o melhor estabelecimento para comprar aquilo que pretendia. Honestamente, eu podia ter pedido ajuda durante o almoço, todavia, ou iam gozar comigo e não iam acabar por me resolver o problema, ou iam fazer um questionário interminável para averiguar se me auxiliavam ou não. Por isso, decidi vir sozinho, porém não me estava a correr nada bem. Tomei toda a minha atenção nos clientes que saíam das várias lojas, analisando de seguida o conteúdo que se encontrava dentro das suas sacas plásticas. Nenhum sinal de fruta.

       Suspirei derrotado, porém continuei a andar pelas ruas. Não ia desistir assim tão facilmente e ainda tinha quarenta minutos até à abertura da biblioteca. Permaneci a olhar para ambos os lados em busca de um milagre, no entanto, ele somente apareceu quando eu parei na rua graças à frustração que já me estava a incomodar e dei por mim a observar uma banca com frutas reluzentes junto a um pequeno café. Festejei baixinho e corri até lá, adentrando no estabelecimento. Observei todo o espaço enquanto penteava os meus cabelos rebeldes, procurando pela fruta preferida da rapariga de cabelos ruivos. A senhora que estava ao balcão lançou-me um sorriso convidativo e eu apenas retribuí de forma tímida enquanto me dirigia para o expositor onde se encontravam os pêssegos. Analisei os alimentos alaranjados um a um, acabando por pegar num careca que tinha bom aspeto, seguindo depois para o balcão. Depois de pagar a fruta à senhora, coloquei a mesma na minha mochila com cuidado e dirigi-me até à escola rapidamente.

       Para meu infortúnio, quando alcancei a entrada da universidade, Calum encontrava-se sentado num banco a apanhar com os raios solares na cara e fez um sinal quando me viu. Contrariado, encaminhei-me para a beira do moreno, sentando-me ao seu lado. O rapaz retirou os seus óculos escuros enquanto eu reparava nas horas no meu relógio de pulso. Tinha apenas dez minutos.

– Não te preocupes que não te estrago o horário. Apenas fica aqui comigo enquanto o Luke está a falar ao telemóvel. – ele pediu, fazendo-me assentir.

– Sabes quem é? – questionei-lhe, apontando para o rosto do loiro que continha um sorriso de orelha a orelha.

– Acho que é a Anna? Andrea? Aquela rapariga que ele conheceu.

– Alice. – corrigi, relembrando-me das poucas conversas em que Luke nos falou dela quando voltou para a cidade.

– É isso! – Calum concordou, estalando os dedos de seguida. – Já agora... Qual foi a tua de desapareceres ao almoço? Num minuto estavas lá, noutro já não estavas... Desconhecia essa faceta de ninja.

       Estreitei as sobrancelhas perante a sua questão, pois não sabia se lhe devia dizer ou não. Para ser sincero, era um pouco embaraçoso contar-lhe a história toda porque eu nunca fizera este tipo de coisas na minha vida e, apesar de Calum ser o meu melhor amigo, acho que não consigo confessar tudo de uma só vez. Clareei a garganta e analisei as folhas verdes de uma árvore a tilintar, olhando para ele segundos depois.

– Fui passear Calum. Apanhar ar fresco.

– Sim, está bem... O único ar que tu apanhas é aquele tóxico do dormitório. Já pensaste em lavar a roupa interior que está espalhada naquele chão? – resmungou, transparecendo a insatisfação face à minha simples resposta.

        Apenas desviei o olhar e encolhi os ombros, não dando mais oportunidades para alimentar o assunto. Cinco minutos depois Luke terminara a sua chamada telefónica e regressou para a beira do moreno, fazendo com que este se se levantasse do banco. Despedi-me deles os dois e dirigi-me para a biblioteca que já se encontrava aberta há sete minutos. Entrei na divisão, absorvendo a serenidade que emanava naquele lugar e caminhei para o meu sítio habitual, pousando a mochila com cuidado na cadeira à minha beira devido à pequena fruta e fui retirando o meu material de escrita, o manual e o caderno para rever a matéria dada esta semana, começando assim uma hora e meia exaustiva de estudo.

        Quando ouvi a porta a ranger, destruindo o ambiente silencioso da biblioteca, olhei de imediato para o relógio que estava pendurado na parede e verifiquei que eram três horas e meia da tarde. Olhei de esguelha para a entrada, acabando por ver que era a rapariga de cabelos ruivos. Um sorriso cresceu nos meus lábios ao vê-la e apenas conseguia agradecer-me por me ter instalado num local escondido desde o início da semana. Segui-a com os olhos, vendo-a a pousar a sua mala numa cadeira e a dirigir-se imediatamente para a mesma prateleira de todas as vezes, indo buscar o mesmo livro de todas as vezes.

       Os seus cabelos ruivos caíam delicadamente sobre os seus braços, as suas mãos de tez clara tocavam as páginas de ''Folhas de Erva'' de Walt Whitman, como se a sua vida dependesse daquele contacto, e os seus olhos, de cor que ainda não tive a oportunidade ou a coragem de ver, deslumbravam-se à medida que avançavam nas palavras escritas pelo poeta do século XIX. Era incrivelmente estranho ver uma rapariga com um estilo tão negro a ser sensível à poesia, mas, para ser honesto, talvez tenha sido essa peculiaridade a razão que me levou a desenvolver esta certa curiosidade em conhecê-la desde a primeira vez que a vi na biblioteca.

       Não conseguia perceber o quão estranho e repentino fora a minha mudança de sentimentos para com ela desde que a vi aqui, mas não podia negar a minha vontade de a conhecer. Contudo, a minha timidez tornou-se um grande obstáculo, deixando-me sem ideias de como a podia abordar sem me engasgar e deixá-la ter uma má impressão sobre mim, até hoje.

        Durante a aula de literatura, consegui ouvir que o seu fruto preferido é o pêssego. Por acaso, a meio da semana, tinha reparado que ela tinha sempre um batom com aroma a essa mesma fruta e tive uma ideia. Se eu a tivesse partilhado com Calum na hora de almoço ele de certeza que a teria classificado como pateta, e, muito provavelmente, acabaria por acrescentar que ia assustar a rapariga de cabelos ruivos. Na verdade, eu ia acabar por lhe dar razão.

        No entanto, mesmo que isto pudesse dar para o torto e eu acabasse por arruinar todas as hipóteses que tinha para falar com ela, sentia que tinha que arriscar. De modo a ganhar coragem, ergui o meu olhar até ao relógio pendurado na parede da biblioteca e verifiquei que faltavam dois minutos para as cinco da tarde. Constatando as observações que realizara durante esta semana, ela ia guardar o livro daqui a um minuto e aí seria a minha oportunidade para colocar a ideia em prática.

        Quando a vi, tristemente, a fechar o ''Folhas de Erva'' e, de seguida, a encaminhar-se para a estante de onde o tinha retirado, o meu coração começou a palpitar de tal maneira, como se estivesse a dizer-me que tinha que o fazer. Era agora ou nunca.

        Rasguei o melhor que pude um bocado da folha final do caderno e escrevi a frase que acabei por criar no final da aula de Inglês rapidamente, pegando no pêssego de seguida. Coloquei a alça ao ombro, o estojo e os livros num braço e o resto nas minhas mãos, dirigindo-me o mais depressa possível até ao seu lugar, pousando o bilhete sobre a mesa e o pêssego por cima do mesmo, acabando por desaparecer dali sem dar nas vistas.


•••••••••

michael aventureiro e corajoso sim senhora

espero que tenham gostado e aguardamos pelo vosso feedback ♥

próxima quarta a ella estará aqui :p

beijinhos 

27 de abril

Peach » michael cliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora