Ashes to Ashes

Capítulo Cinco

MARY

A PARTIR DO PICO do telhado do farol, Ilha Jar parece pequena, como uma cidade de brinquedo com jogo de pessoas. É onde eu estou empoleirada, como uma gaivota esperando uma tempestade. Estou tão perto do céu como eu jamais estive, e tudo é pequeno. Um homem que anda com seu poodle, um carro dirigindo-se para Main Street, uma criança que chora por sua mãe. Eu estou longe demais para me importar. Isso importa? Nada disso importa?

Antes, eu teria medo de estar tão alto. Agora eu não tenho medo. Não estou nem mesmo triste. Eu não sou nada.

É engraçado como toda a minha vida, eu nunca quis sair da Ilha Jar e agora, na morte, eu não posso. Eu me lembro quando vim pela primeira vez para cá, acordando na balsa, uma vez que tinha chegado a Ilha Jar. Ou eu tinha saído? Houve esse tempo, após os primeiros dias de escola, quando eu tinha-o com Reeve. Eu queria estar de volta com a minha mãe e meu pai. Eu arrumei a minha mala e desci para as docas, pronta para sair, mas incapaz de ir. Eu não sei por que, mas agora eu faço.

Por alguma razão terrível eu estou presa aqui. Eu estive presa aqui, talvez desde o dia em que eu me matei.

O que eu quero saber é o porquê. Por que ainda estou aqui? Rennie conseguiu sair. Ela está no céu? Ou ela vai direto para o inferno? Espero que o meu pai esteja no céu. Ele era um bom pai. Ele merece estar lá. Eu gostaria de ser com ele.

Começa nevar. Eu não estou vestindo um casaco. Eu não tenho meias, nem sapatos. Tenho apenas um vestido branco simples. Se eu fechar meus olhos, eu quase posso sentir o vento frio em torno de mim, eu quase posso sentir o frio da água do mar de inverno. Quase.

Todos esses meses de fingimento, encenação como se eu estivesse viva, como se eu fosse alguém. Só que eu não sabia que era fingimento. Eu pensei que era real. Parecia real.

Minha amizade com Lillia e Kat era real. Em seus olhos eu estava viva. Eu nunca tive amigos como elas antes. Foi a única vez em toda a minha vida em que me senti parte de algo.

Fizeram-me real. Por um tempo, de qualquer maneira.

Se eu deixá-las, talvez então eu possa finalmente seguir em frente. Para o céu, o inferno, para onde for. Contanto que não seja a Ilha Jar.