Capítulo Vinte e Seis

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MARY

VISITO REEVE noite após noite. Eu o encontro em seus sonhos. Toda vez, eu digo que é a última vez, que eu preciso acabar com a vida de Reeve de uma vez por todas. Mas quando é de manhã eu volto para casa, leio um pouco mais dos livros da tia Bette e aguardo até que a lua saia novamente.

Assusto-me com o tilintar de chaves na porta da frente e, em seguida, uma debandada de sapatos de salto alto que cruzam o limite para do hall.

Em um flash eu estou em pé no topo da escada. São cinco mulheres da Sociedade de Preservação, vestidas como se tivessem acabado de sair de um almoço chique – com casacos de pele, saltos e meias, e bolsas acolchoadas penduradas em correntes de ouro nos seus ombros. Elas estão amontoadas como uma matilha, olhando em volta, com os olhos arregalados. Uma mulher, a mais nova, procura na parede o interruptor de luz.

Eu fico olhando para o interruptor enquanto ela clica. Nada acontece. Ela tenta novamente algumas vezes.

"Eu acho que eles já cortaram a eletricidade", diz ela.

Não, sua idiota. A eletricidade ainda está ligada. Eu só não vou deixar você usá-la.

Desde que minha mãe levou tia Bette daqui, a Sociedade de Preservação veio por muitas vezes para bisbilhotar. Normalmente, elas rondam pelo exterior, circulando a casa, fazendo anotações em seus cadernos, colocando as mãos em torno de seus olhos para tentar enxergar pelas janelas.

Elas nunca entraram antes.

"Eu não posso ver muita coisa," a mulher mais velha reclama. Ela dá um passo e quase tropeça com uma pilha de correspondências que foram empurradas

através da abertura na porta da frente. Outra mulher de cabelos brancos a segura.

"Ooh, eu tenho uma ideia!", uma jovem mulher diz impertinente. Ela pega seu celular e usa a tela como uma lanterna. O lugar ainda está uma confusão de quando minha mãe arrastou tia Bette daqui. O sorriso alegre da mulher desaparece. "Oh meu Deus."

A mulher mais velha é também a mais baixa. Seu peito está coberto por um babador de pérolas. "Vamos deixar a porta da frente aberta e se ater apenas ao térreo." Ela pisa sobre um tapete no corredor formado em ondas. "Eu estou mais ansiosa para ver o estado da sala de estar. Eu sei que os Zanes fizeram algumas reformas, e eu rezo para que eles tenham sido espertos o suficiente para terem mantido a lareira intacta."

O que essas mulheres pensam que estão fazendo? Eu sei que elas querem transformar o lugar em alguma casa de bonecas vazia com mobiliário falso onde ninguém pode viver, mas esta casa tem pertencido a minha família há mais de cem anos. Não há nenhuma hipótese de minha mãe ou tia Bette terem vendido. O que significa que estas mulheres estão invadindo.

Elas se movem em conjunto para a sala. Não está em sua melhor forma. Mas a tia Bette e a mamãe vão limpá-la quando voltarem neste verão. Espero estar no céu, ou onde quer que seja, até lá. Mas ainda me faz feliz pensar que minha família vai estar nesta casa, que a tia Bette e minha mãe ainda têm uma a outra.

"Polly, certifique-se de tirar muitas fotos. Isso definitivamente vai mostrar às pessoas o porquê precisamos levantar esses fundos".

"Nós vamos ter que mergulhar de cara nesta imediatamente. Danner, tome algumas notas e vamos obter um orçamento."

"Tudo bem. Precisamos contatar a empresa de água e a companhia de gás para desligar tudo durante a reforma. Enquanto a isso, todas as luminárias devem ir. Eu não acho que essas prateleiras embutidas sejam originais, mas podemos consultar o projeto quando voltarmos ao escritório. Precisamos dele para reparar as molduras e. . . oh bom Senhor. Este papel de parede é abominável!"

Ashes to AshesOnde histórias criam vida. Descubra agora