Marcos e Ian se levantaram num pulo enquanto Veridiana circulava pela sala avaliando tudo com uma classe que Elise achou exagerada.
-Carolina... Então você está de volta. – comentou passando o chapéu de uma mão a outra.
-Como minha noiva Veridiana. – Ian anunciou voltando a se sentar e passando a mão sobre os ombros de Carolina.
-O que faz aqui Veridiana? – Marcos inquiriu vendo o pouco da paz que tanto ansiou indo embora.
-Cheguei extremamente cansada ontem para vir à festa, mas fiz questão de acordar cedo hoje para vir te vê. – falou olhando fixamente para Elise. –E quem é essa? Devo me preocupar?
-Essa é Elise... É minha convidada. – Mia falou fazendo a outra olhá-la de lado.
-E quando vai embora? – Veridiana questionou deixando Elise sem palavras.
-Quando ela quiser. – Marcos rebateu. –Não permitirei que venha aqui ofender os convidados Veridiana.
-Ora Marcos... - ralhou indo até ele e o beijando no rosto. -Assim vou pensar que não sentiu saudades. Será que interrompi alguma coisa? - ela perguntou passando o chapéu de uma mão a outra.
-Claro que não, só ficamos surpresos com sua chegada. - Mia Justificou dando dois beijinhos na visita.
-Com certeza já sabiam que eu tinha retornado. - disse olhando para Carolina e Elise.
-Você pegou a todos de surpresa. - Ian justificou a grosseria do primo.
-Cheguei muito cansada ontem então não pude vir à cerimônia ai pensei em almoçar aqui. - respondeu sentando-se no sofá perto de Mia. Marcos ouvia a conversa fútil de sua irmã com a jovem que seria sua esposa contrariado. Não gostava de se sentir contra a parede e a presença de Veridiana lhe dizia que estava chegando o dia que tanto tentou evitar. Sua atenção foi desviada para o olhar de pena de Carolina que entendida o que estava acontecendo. Ela fez um gesto de pesar que ele rechaçou em silêncio. Calada Elise encarava a moça tão bem vestida com certa inveja. Lhe parecia uma linha mulher despreocupada, de boa família e feliz, tudo o que ela foi um dia. Desviando a atenção viu que Marcos a olhava sério e seu desejo de infância de ter o poder de ler a mente das pessoas retornou. Constrangida, pois também percebeu que a visita a olhava de tempos em tempos focou a atenção nas próprias unhas.
-Licença senhores, o almoço já foi servido. - Coral informou aparecendo pela primeira vez como empregada da família num traje azul escuro com a bandeira da ilha em relevo no lado esquerdo. Elise não escondeu a felicidade em ver a jovem despertando a curiosidade de Veridiana. Todos se levantaram em silêncio e seguiram em direção a sala de jantar. Elise fez questão de ficar por último e apertou a mão da criada com um sorriso. Veridiana franziu o cenho ao ver o gesto.
-Pensei que chegaria a tempo de encontrar meu pai aqui, mas não tive a sorte. - ela comentou abrindo uma cuia e sentindo o aroma da sopa de lentilhas tradicional da ilha.
-Ele saiu no início da manhã. - Marcos respondeu a conta gosto.
-Eu deveria ter mandado um mensageiro avisar da minha chegada assim ele me esperaria. - lamentou observando os movimentos de Elise ao se servir.
-Não se preocupe que mandaremos um dos nossos melhores oficiais para acompanha-lá. - Mia afirmou.
-Veio para ficar Veridiana? - Ian perguntou olhando de soslaio para o primo.
-Claro... Esse é um ano muito importante para mim. - Justificou sorrindo. -Para o Marcos e para a nossa amada Antares.
-Com certeza. - Mia concordou afastando-se para Coral e outros criados retirarem as cuias e servirem o prato principal. Sem querer Coral deixou o copo com água virar ao servir Veridiana, que levantou de um pulo.
-Toma cuidado sua desastrada. - reclamou se limpando.
-Desculpa senhora. - pediu temerosa.
-Que desculpa nada... Incompetente. - gritou. -Sabe quanto custou esse vestido? Eu exijo que seja descontado do salário dela.
-Foi sem querer... - falou aflita.
-Você não precisa falar assim com ela. - Elise se meteu levantando-se e causando surpresa em todos principalmente em Mia e Marcos.
-E quem é você? - Veridiana inquiriu irritada. -Confraterniza com uma criada... Com certeza não deve ser alguém que mereça minha atenção.
-É água. - afirmou derramando um pouco do conteúdo do copo na própria mão. -Sua roupa é lavada com água, se não sabe.
-Não se meta. - pediu ainda sacudindo a roupa.
-Ela está certa Veridiana. - Marcos concordou passivo. -É apenas água.
-Vai dá razão a ela? - inquiriu indignada.
-Ele não precisa me dá razão... - Elise falou fechando a cadeira. -Com licença.
- Elise... - Mia chamou, mas Elise se retirou sem dá atenção.
-Eu exijo...
-Você não exije nada Veridiana. - Marcos afirmou silenciando-a. -Agora sente e volte a comer... Inferno.
-Calma Marcos. - Carolina pediu recebendo um olhar enfezado. Assim que Coral começou a servir Marcos se levantou e saiu. Elise tinha alcançado o segundo degrau da escada quando ele a alcançou.
-Preciso falar com você. - ele disse indicando que ela o seguisse. Respirando fundo ela o fez. Marcos entrou na biblioteca e parou perto da pasta que negligenciou durante os últimos dois dias.
-Eu peço desculpas pelo jeito que tratei sua amiga. - falou parando perto da cadeira sem se sentar.
-Tem uma coisa que preciso lhe perguntar e já adiei demais. - continuou ignorando suas desculpas.
-Diga. - murmurou encarando-o.
-Quando pretende voltar para o seu marido? - indagou sustentando o olhar impassível dela. Elise continuou apenas encarando-o em silêncio esperando pelo momento que ele falaria o real motivo por tê-la chamado, mas ele continuava sério. -Não vai responder?
-Não sei a que você pode está se referindo. - Justificou.
-Ao que eu soube você supostamente está em férias... Seu marido afirma isso. - contou paciente.
-Não sei nada dessa história. Não sou casada. - afirmou categórica fazendo-o abrir o envelope.
-Então vai me dizer que não é esposa de Sebastian Crafth? - perguntou sarcástico.
-Não. - afirmou num suspiro.
-Mandei investigar você Elise.
-Você não sabe nada sobre mim. - falou chorosa.
-Aí é que se engana. Sei que seus pais morreram e que você e sua irmã são as únicas herdeiras de quilômetros de terras. Sei que saiu da faculdade para cuidar da sua irmã e retornou quando o seu pai casou novamente. Voltando a largar tudo quando o mesmo morreu. Sei que namorou esse Sebastian por quase dois anos e mesmo não tendo relato do casamento, sei que são casados. - concluiu.
-Não... Não nos casamos. - afirmou passando a mão pelos cabelos desesperada. Era irreal que ele soubesse tanto e não soubesse nada ao mesmo tempo. -Eu não vou falar sobre o Sebastian. - afirmou indo até a porta e olhando-o com os olhos marejados. -Tem alguma noticia da minha irmã nessa sua investigação?
-Só que ela é uma das herdeiras Rabanne. – disse contrafeito.
-Não diz onde ela está agora? - inquiriu colocando a mão na boca para contar o choro quando ele negou com a cabeça. -Como eu disse você não sabe de nada.
-Parece que não. - ele concordou quando ela saiu. Jogou a pasta de volta na mesa e se sentou. Estava tão cansado. Teria que reunir o conselho para resolver os problemas em relação ao casamento se não fizesse isso Veridiana ou o pai fariam. Pegou a pasta novamente e a folheou, realmente não havia nada ali sobre a irmã de Elise, nem mesmo o nome da menina. Mas era claro que ela estava casada, mesmo negando o seu marido assumia todos os assuntos das empresas da família. Ela não delegaria isso a ninguém se não fosse íntimo.
Elise bateu a porta exasperada. Deveria ter imaginado que a família Dalfom procuraria investiga-la, mas as respostas que ele procurou foram deturpadas.
-Ela será de quem puder pagar... Logo após o nosso casamento. - lembrou-se de Sebastian falando e um arrepio a percorreu. Não casou com ele, fugiu antes. O que será que aconteceu após a sua fuga? E sua irmã? Onde estaria sua irmã? Chorando ela se deitou e se cobriu. Precisava sair de Antares.
-Veridiana já foi. - Mia falou entrando na biblioteca.
-Graças a Deus. - exclamou sem levantar a cabeça. -Coloquei a Elise contra a parede sobre o conteúdo da pasta.
-E ela? - inquiriu surpresa.
-Ela negou, mas não falou nada. - contou.
-Porque ela negaria?
-Porque é uma mentirosa... Como todas as mulheres. - desdenhou dando um leve sorriso ao ver a expressão da irmã. -Tirando você irmãzinha.
-Hum. O que vai fazer? Vai marcar o casamento? - perguntou.
-Não sei... Quando eu fizer isso não poderei voltar atrás. - lamentou suspirando.
-Eu sugiro que adie o máximo possível. Por lei você só será intimado a casar após completar trinta anos. Até lá não tem obrigações com a Veridiana. - aconselhou.
-Esta certa. E daqui até lá um milagre pode acontecer. - falou sem convicção.
-Marcos? Será que podemos conversar? - Carolina perguntou da porta.
-Não temos o que falar Carolina. - respondeu entre dentes.
-Por favor. - suplicou entrando.
-Esta bem. Vá, fale o que quer? - perguntou grosseiramente.
-Poderia ser a sós?
-Argh...
-Pode. Já estou saindo. - Mia disse dando um beijo no irmão e se retirando.
-Estou esperando.
-Não sei se o seu comportamento é por causa da minha presença, mas se for eu peço que me perdoe. Não fazia parte dos meus planos me apaixonar pelo Ian nem ter que ficar em sua casa...
-Chega. - pediu irritado. -Você se acha muito não é mesmo? Estou cheio de problemas, mas você ou sua presença em nada me abala. - afirmou sarcástico.
-Fico feliz. - falou ofendida. -Não sei se o Ian te contou, mas estou gravida.
-Falou. - concordou serrando o maxilar.
-Ficarei aqui até a criança nascer... É nos casamos em Amarra também. - contou Constrangida.
-E o que eu tenho com isso? - perguntou estressado.
-Sei que não teremos uma convivência harmoniosa, mas pelo menos podemos tentar conviver em paz. - sugeriu.
-Você será esposa do meu primo e ao contrário dele eu respeito a mulher de um parente.
-Ele nunca me faltou ao respeito. - defendeu.
-Mas a mim sim. No dia que tocou em você... - rebateu. -Mas isso agora é passado. O tempo que você estiver aqui será tratada como um membro da família e com a cordialidade que merece. - afirmou erguendo-se.
-Agradeço.
-Não precisa, não faço nada por você. - retrucou retirando-se.
Elise não saiu do quarto e Marcos se trancou no escritório. Embora o ritmo na mansão tivesse voltado a normalidade a tensão era palpável. Mia continuou fazendo sala para o primo e sua noiva e Ian continuou tentando fingir que sua relação com seu primo continuava normal.
-Onde está Elise? - Mia perguntou no jantar.
-Mandou avisar que não estava com fome senhorita. - Coral falou solicita.
-Ela não desceu hoje. - Carolina comentou.
-Será que está doente? - Ian inquiriu.
-Eu vou falar com ela. - Carolina disse saindo. Marcos continuou em silêncio, mas seguiu a moça com os olhos.
-Marcos, amanhã quero ir no amparo. - Ian falou mudado de assunto e atraindo a atenção do primo. -Quero ver como anda as novas instalações.
-Conferir se não estou roubando seu dinheiro? - inquiriu ácido. Ian sorriu e se serviu de uma taça.
-Confio em você. - falou apenas.
-Vocês dois precisam se entender. - Mia disse.
-Estamos fazendo isso, mas confiar é algo que realmente não dá. - Marcos falou.
-Por enquanto caminhamos com o que temos. - Ian afirmou levantando-se.
-Agora ele é o coitado. - desdenhou.
-Você precisa esquecer isso e seguir em frente. - Mia sugeriu também se levantando. -Não dá pra conviver com essa animosidade a vida toda.
-Também acho. - ele resmungou desistindo da comida.
Elise ainda pensava em como deixaria a ilha. Lembrava que passou mais de uma semana no mar até chegar ali então não tinha ideia de como conseguiria. Seu maior medo era que Marcos entrasse em contato com Sebastian e lhe dissesse onde encontra - lá.
-Elise? - Carolina chamou batendo na porta e fazendo-a se sobressaltar.
-Entre. - falou parando na varanda. Carolina entrou devagar e caminhou até ela.
-Você está bem? - inquiriu cautelosa.
-Sim Carolina. - respondeu sorrindo.
-Não apareceu no jantar ficamos preocupados. - disse se aproximando da murada onde Elise estava.
-Eu não me senti bem. - mentiu.
-Não se indisponha com Veridiana. Ela é uma cobra, mas só ataca quando o assunto é Marcos. Você tem algo com ele? - perguntou curiosa.
-Eu? Não, é claro que não. - disse nervosa.
-Ela me odiava e fazia o possível para causar desavenças entre nós, mas Marcos a conhecida muito bem e sempre ficava do meu lado. - contou sonhadora. -As vezes eu sinto falta do modo como ele me tratava.
-Vocês tiveram alguma coisa? - inquiriu confusa.
-Ora, eu achei que soubesse. - começou em tom de segredo. -Eu e o Marcos fomos noivos, mas aí o Ian se aproximou e nos conhecemos melhor... Não sei se já lhe contaram o real motivo de nós estamos aqui.
-Não... - exclamou pensativa.
-Eu estou gravida do Iam e vamos nos casar ainda no próximo mês. O Marcos está furioso pois ainda não perdoou o primo, nem a mim. - concluiu triste.
-Porque está me contando essas coisas Carolina? - Elise inquiriu desconfiada.
-Bem... Na verdade eu não tenho ninguém para conversar aqui em Antares e acho que já que você vai passar um tempo aqui talvez seria bom conhecer um pouco da história. - disse.
-Você ainda sente algo por ele? - Elise perguntou apreensiva com a resposta.
-Não. Eu amo o Ian. Mas tive uma história muito bonita com o Marcos... Queria ter sido a mulher que ele procura. - respondeu sonhadora.
-O Ian parece um bom homem. - falou para quebrar o silêncio.
-E é. - concordou sorrindo.
-Carolina, você deve conhecer bem Antares, não é? - perguntou quando algo lhe passou pela cabeça.
-Dentro do possível.
-Existe alguma maneira de sair daqui sem ser de navio?
-Existe uma plataforma de avião na Zona Norte e Marcos possui um porto onde mantém um jatinho. - contou forçando a mente.
-Onde?
-Depois do amparo. - contou sorrindo. -Pedi ao Ian para ir amanhã lá no amparo porque não vem conosco? Já esteve lá?
-Já, brinquei com as crianças uma tarde inteira e adoraria ir com você. - falou sorrindo abertamente.
-Que bom. Vou descer agora. - falou afastando-se. -Fica bem Elise.
-Obrigada. - agradeceu. Mesmo confusa com a visita e conversa de Carolina Elise sentia que podia confiar nela e sabia o quanto precisava de uma amiga. Apreciava Mia, mas tinha consciência de que se precisasse escolher ela ficaria do lado do irmão. Após um banho breve ela resolveu ir dormir. No dia seguinte procuraria descobrir onde ficava esse jatinho que Marcos possuía. Marcos absorveu o silêncio da madrugada sentado numa poltrona na sala de estar. Todos já haviam ido dormir, mas ele avaliava os últimos acontecimentos. Cansado e com as costas doendo ele se levantou e caminhou pelos corredores recordando o tempo que fazia aquele percurso seguido por sua mãe que insistia em lhe dá um beijo de boa noite ou vinha busca-lo para dormir quando ele se isolava. Após um banho demorado ele se deitou pedindo em silêncio que o dia seguinte fosse melhor. Inquieto ele se levantou atento, pois achou ter ouvido algo. Quando desistiu pensando que deveria ser imaginação ouviu outro grito vindo do quarto em frente e sem pensar duas vezes se dirigiu pasta lá.
-Por favor... - Elise pedia se debatendo. Marcos hesitou a toca-la com medo de piorar a situação, mas se lançou sobre ela quando continuou a gritar. -Não...
-Calma Elise... - pedia sacudindo-a.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cura-me Amor...
RomanceOBRA REGISTRADA... não vacilem, plagio é CRIME. Cura-me Amor... Marcos Dalfom é um conde, único governante e herdeiro de uma ilha onde as regras e tradições tem guiado os moradores de Antares a anos. Seu dever é se casar com uma parente distante em...