Capítulo 24

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-Marcos... Marcos acorda. – ele ouviu no fundo de sua mente dolorida. Sentiu a luz queimar seus olhos ao abrí-los e se ajeitou ao vê Mia o encarando com desaprovação.

-O que foi? – inquiriu irritado e com a voz rouca da bebida da noite passada.

-Já é dia... De novo você dormiu aqui. – reclamou vendo-o cambalear ao se levantar. –Já se passou um mês Marcos, supera isso e segue em frente.

-Eu estou bem... – afirmou envergonhado.

-Não, você não está bem. – gritou ajudando-o. –Elise partiu, entenda isso. Ela não vai voltar e você precisa seguir a sua vida ou ir atrás dela... Decida.

-Me deixe em paz. – respondeu depois de um tempo avaliando as palavras dela. Doía ouvir aquilo e ele mesmo repetia toda hora.

-Mia... – Sam chamou parado na porta. Marcos o olhou e tentou amenizar a cara amassada. Desde que Elise partiu que ele manteve o mesmo padrão. Mal dormia, mal comia, bebia todos os dias e noites, se não fosse por Ian e Sam nem cumpriria seus compromissos diplomáticos.

-Marcos. – Sam chamou entrando na sala. Mia se retirou discretamente e ele agradeceu por isso.

-Vai me julgar também? – perguntou na defensiva.

-Claro que não, mas também concordo que você precisa tomar uma atitude. – disse parando ao lado da cadeira do amigo. –Precisamos conversar, é grave e urgente.

-Então fale...

-Não. Vá tomar um banho e me encontre aqui em meia hora. Ainda preciso ligar para umas pessoas. – falou se sentando sem olha-lo e começando a mexer em alguns papeis. Marcos o encarou por um tempo e cambaleou para fora da sala se dirigindo ao quarto. Fazia um mês que Elise havia partido e ele se sentia tão desgraçado quanto quando acordou e não a encontrou mais. Um bilhete, um misero bilhete foi tudo o que ela deixou. Por lei ele poderia trazê-la de volta, mas não poderia fazer isso. Á amava e a queria ao seu lado por livre e espontânea vontade. Pensando nisso se obrigou a tomar um banho. Já não usava mais o quarto de casal, pois não suportava entrar lá e vê o quanto perdeu. Como todas as manhãs ele se preparou para enfrentar aquele dia e transmitir uma calma e serenidade que não possuía. Ao sair no corredor viu Veridiana conversando baixinho com Amarilis. Ambas o olharam e se retiraram em seguida. Amarilis foi a primeira a aparecer em seu quarto quando descobriu que Elise havia ido embora. Ele gostava de Amarilis no passado, mas desde que Elise chegou que a presença dela tinha se tornado insuportável. Veridiana não se aproximou, ele também não deixou brecha afinal ela destruiu seu casamento. Assim que abriu a porta da biblioteca colidiu com Antonia que só não caiu porque Sam estava logo atrás.

-Calma ai... –ela reclamou se ajeitando.

-Desculpe. – murmurou entrando.

-Para a sua felicidade eu estou partindo Marcos... – ela contou cruzando os braços e olhando Sam com um sorriso.

-Boa viagem. – foi tudo o que respondeu. Marcos continuou encarando o amigo depois que ela fechou a porta e com um suspiro alto e dirigiu para a mesa. -O que você ofereceu a ela?
-Apenas um incentivo. - afirmou sem entrar em detalhes.
-Obrigado. - Marcos agradeceu e Sam se sentou em sua frente.
-Temos assuntos mais importantes a tratar Marcos. - disse colocando uma pasta em sua frente.
-O que é isso?
-Desde que você exilou seu tio e Baltazar que eu venho monitorando eles. - explicou.
-É o seu trabalho, e daí?
-E daí que descobri recentemente que eles estão em Antares... Não sei exatamente onde, pois perdi contato com meu informante, mas sei que eles estão aqui. - contou erguendo um dedo quando Marcos ia dizer algo. -Tem mais... Eles estão planejando matar todos os Dalfom. Ao mesmo tempo como um golpe de estado.
-Como isso? - Marcos inquiriu aturdido.
-Não sobreviverá ninguém para reclamar Antares. - continuou. -Pelo que eu soube eles pretendem atacar amanhã a noite... No aniversário de Patrício como forma de homenagea-lo.
-Temos que impedí-lo.
-Sim, mas isso não é tudo. - prosseguiu quando Marcos fez menção de sair.
-Tem mais? - inquiriu aturdido.
-O objetivo é aniquilar qualquer Dalfom existente... Tanto de sangue quanto nomeados. - enfatizou olhando-o detidamente.
-Elise... - suspirou abalado.
-Ela está bem... Eu mantive homens de olho nela, mas é a mais vulnerável de todos nós.
-Eu preciso salvá-la. Eu...
-Amanhã é o aniversário de Patrício. Uma das festas mais esperadas em Antares. Você tem que estar aqui Marcos.
-Não... - sussurrou com o olhar longe.
-Eu vou cuidar dela... Acredite nada vai acontecer com a condessa.
-Eu tenho que ir Sam... Eu preciso. - afirmou.
-Você tem que honrar o seu povo. - rebateu.
-Baltazar não pode sair impune disso. - disse depois de se acalmar.
-E não vai. Vamos dispensar os todos os empregados de forma cautelosa e sem levantar suspeitas... Prepararemos uma armadilha. - Marcos disse pensando alto. Durante todo o dia os empregados em Antas foram sendo remanejados. O objetivo era que no dia seguinte não sobrasse ninguém na mansão além da guarda. Marcos manteve os planos daquele dia como planejado, mas sua mente não saia de Santarém onde sua esposa estava. Desde que partiu Elise foi mantida em discreta proteção, mas ele não a procurou. Respeitava sua decisão, mesmo a contra gosto. Não podia culpá-la por querer fugir sabia que ela não estava feliz ali e isso era o que mais se arrependia.
-Posso entrar? - Mia perguntou da porta.
-Claro...
-Sam me deixou a par das informações. - começou nervosa.
-É... Temos que dar um fim nisso.
-Eu sei... Já conversou com Ian?
-Ainda não... - respondeu guardando os papéis que estava lendo e focando na irmã. -Porque não me fala logo o que tem pra dizer?
-É complicado...
-Tente começar explicando... - sugeriu sem muita curiosidade.
-É sobre a Elise.
-O que tem ela? - inquiriu totalmente atento.
-Você sabe que nós médicos temos nosso sigilo profissional não é? - perguntou respirando fundo quando ele concordou com a cabeça. -Elise andou passando muito mal nos últimos dias e eu como médica a examinei.
-Sei disso. - afirmou.
-Eu a diagnostiquei... Mas não disse nada a você porque ela afirmou que contaria. - lamentou deixando Marcos nervoso.
-Pelo amor de Deus Mia você diagnosticou Elise com o quê? - inquiriu já pensando o pior. Mia hesitou responder, mas suspirou fundo e ergueu o queixo.
-Elise está grávida. - afirmou convicta. Marcos a olhou esperando o momento que ela iria rir, mas não aconteceu.
-Como assim? - perguntou passando várias coisas em sua mente.
-Eu... Ela me pediu para não contar. Disse que ela mesmo te daria a notícia então eu aceitei. - tentou explicar. -Eu só percebi que você não sabia de nada quando não foi atrás dela aí não sabia se deveria contar então...
-Você não tinha o direito de me esconder isso. - ele gritou assustando-a.
-Marcos...
-Não. Não há nada que você possa dizer que vai me fazer perdoá-la. - afirmou indo em direção à porta, mas parando. -Peça a Deus que nada aconteça a ela e ao meu filho. - sussurrou saindo. Ele sabia que estava sendo irracional, mas o sentimento de impotência era muito maior. Ama Elise, daria o mundo a ela se preciso fosse. Não foi atrás dela por saber que ela não estava feliz ao seu lado, achou que estava sendo nobre. Mas ela mentiu, o enganou. Carregava um filho seu e não tinha o direito de não contar. Mia... Mia também o traiu, não tinha o direito de ser fiel a Elise e não a ele. Droga. Pensou se trancando no quarto.
O que faria agora?
No dia seguinte Marcos acordou cedo, na verdade pouco dormiu pensando em sua desventura. Aquele dia seria decisivo. Logo cedo participou de uma social com os membros do conselho e instruiu para o evento mais a noite. Como planejado com Sam eles foram dispensando os funcionários pouco a pouco durante o dia para que a noite a mansão não tivesse ninguém. Mia cruzou seu caminho várias vezes durando todo o dia, mas ele foi hábil em despista-la. Não estava pronto para conversar ainda.
-Bela festa... Pensei que você ainda estivesse deprimido com a partida de Elise. - Ian comentou parando ao lado do primo.
-Estou bem... - afirmou virando-se para encará-lo. -Preciso te contar uma coisa.
-Diga. - pediu ficando sério.
-Seu pai e Baltazar estão em Antares... Eles estão preparando um ataque a mansão e a Elise. - relatou curto e grosso.
-Como isso é possível? - Ian inquiriu incrédulo.
-Não sei... Mas quero que saiba que vai haver retaliação. Dessa vez eu não posso perdoar o Felipe. - lamentou. Ian olhou para o horizonte pensativo e sem esboçar reação concordou com a cabeça.
-Obrigado por ter me contado. - agradeceu se retirando. Marcos o viu se sentar abatido ao lado de sua esposa e filho e lamentou ser o mensageiro da má notícia. Não existia desonra pior do que uma traição e saber que seu pai era um traidor deveria doer demais. Pensativo Marcos voltou a circular pela festa. O objetivo era que ele fosse visto. A noite encerraria ao badalar da meia noite, mas ele se retiraria às dez. O plano era simples... Ele sairia em direção aos quartos, mas pegaria uma passagem onde Sam o levaria até um jatinho que o deixaria em Santarém. Lá um carro estaria esperando para levá-lo até sua esposa. Em Antares Sam prepararia as armadilhas para prender Baltazar e Felipe.
-Está quase na hora. - Sam falou parando ao seu lado, logo atrás ele podia vê Mia o encarando. Ignorou ela é sorriu para o amigo.
-Tudo vai da certo? - perguntou nervoso.
-Esperamos que sim... - Sam disse olhando para trás rapidamente. -O objetivo de Baltazar e do seu tio é aniquilar qualquer Dalfom existente... Ela também não está segura. - ele lembrou apontando para Mia.
-Eu sei...
-Mia jamais faria algo para magoa-lo intencionalmente. - afirmou. -Você pode fazer qualquer coisa Marcos, eu sempre estarei ao seu lado, menos machucar ela. - ressaltou.
-Porque você se importa. - perguntou surpreso.
-Porque a amo... - respondeu olhando novamente para Mia, que agora conversava animadamente com alguém do conselho.
-Sam...
-Está na hora... - ele cortou adiantando os passos. Marcos o seguiu em silêncio recordando os vários episódios em que ele se incomodou ao vê seu amigo e sua irmã juntos. Ambos entraram pelo corredor em direção aos quartos e seguiram por uma passagem. Em menos de cinco minutos estavam no gramado da lateral esquerda da casa. Tudo estava deserto, ele havia dispensado quase todos os empregados desde o amanhecer. Logo a diante o carro ficou visível. Nenhum dos dois disse nada durante o percurso, ambos focados nos próprios pensamentos. Assim que entrou no carro, ainda em silêncio, eles ouviram passos largos. Não fizeram movimentos bruscos e Sam pegou sua arma. Marcos soltou o ar ruidosamente quando viu Mia surgir depois do arbusto. Sem calcular ele saiu do carro e a tomou nos braços abraçando-a bem forte. Ela correspondeu com alívio.
-Me desculpe...
-Shii... Está tudo bem, vai da tudo certo. - ele afirmou.
-Trás ela sã e salva. - pediu.
-Vou trazer.
-Precisamos ir... - Sam disse interrompendo.
-É melhor você voltar. - Marcos sugeriu.
-Não. - Sam disse. - Pode ser perigoso. Você vem com a gente e retorna comigo.
-Certo. - ela concordou. Marcos sentou ao fundo observando os dois a sua frente conversando animadamente. No fundo ele sabia que havia sentimento ali, sempre soube, mas preferiu fingir que não passava de amizade. Mia era sua única família por muitos anos e dividi-lá era algo que ele não queria. Quando o carro chegou ao local combinado o jatinho já estava pronto para decolar. Marcos sentia uma angústia por deixar Antares naquela situação.
-Meu irmão se cuida, toma cuidado. - Mia pediu abraçando-o.
-Não se preocupe. - respondeu beijando-lhe a cabeça.
-E mais uma vez, me perdoa.
-Eu vou trazê-la de volta. - afirmou saindo do abraço da irmã e indo até o amigo. -Cuide dela.
-Com a minha vida. - Sam respondeu. Marcos entrou apressadamente e o jatinho decolou. Não demoraria a aterrissar em Santarém, mas cada minuto que passava para ele era uma eternidade. Sua preocupação era não chegar a tempo. Morreria se a perdesse de maneira tão trágica e mataria qualquer um que a tocasse, a ela e a seu filho. Quando o jato pousou ele foi guiado para um Mercedes e em poucos segundos parava nas redondezas da mansão de Elise. Seu coração deu um salto quando viu homens de burca rondando o local. Havia chegado tarde.





Liz -Boa meninas... Aí mais um capítulo. A história está quase no fim :( e eu odiei abandoná-la por tanto tempo... Não ia escrever mais, porém com várias insistência resolvi da continuidade. Estou fazendo faculdade e trabalhando, horários complicados então está bem difícil, mas vou terminar essa história. A quem me perseguiu por tanto tempo agradeço. Rsrs... Espero que gostem do capítulo e comentem. Beijos.

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