Capítulo 1

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Marcos Dalfom esticou novamente as pernas no majestoso sofá instalado no convés do seu navio e tomou mais um gole da sua bebida enquanto olhava para o olhar angustiado de sua ex-noiva e não sentia nada, nem uma única gota de ternura, prazer ou raiva. Dedicou dois anos de sua vida aquela mulher e ela não soube aproveitar. Antes de conhecê-la tinha dedicada ainda mais tempo a Antônia então deveria saber no mínimo supor que com essa não seria diferente, mas a aparente inocência de Carolina o fez abaixar a guarda e ela o traiu, com seu próprio primo, na sua própria casa. Ele a viu balançar a cabeça e se levantar inconsolada. Sentiu a vontade súbita de detê-la, mas seu orgulho e ego estavam feridos demais, a indiferença era sua única companheira. Quando um marinheiro a ajudou a descer do navio para um barco e esse começou a se afastar ele se aproximou da grade de proteção e observou em silêncio. Sabia que estava sendo frio, mas como poderia ama-la e só sentir um pequeno incomodo com a sua partida? Alguns minutos depois dela sair do pequeno barco e seguir pela praia o caminho para o hotel onde estava hospedada ele ordenou que seguissem viagem. Não queria ficar nem mais um minuto ali nos domínios do seu primo miserável e traidor. Continuou esperando que o navio se afastasse e levasse com ele a dor da perda quando viu uma imagem, certamente uma miragem da sua mente perturbada pelo excesso de álcool. Uma jovem, de longe mais parecia um fantasma, vestida de branco, um vestido com varias camadas de tule e chiffon a voar pela brisa do inicio de tarde juntos com seus cabelos longos e negros. Ele apertou a grade com mais força quando percebeu que ela corria em direção ao mar sem hesitar um minuto até uma onda forte banha-la e sumir com ela. Ele não tinha certeza de que realmente tinha visto aquilo até vê-la reaparecer desesperada e sumir novamente. Os dois marinheiros que levaram Carolina de volta para a praia estavam quase alcançando o navio e assistiram a mesma cena quando ele se jogou sem pensar no oceano e nadou na direção de onde a perdeu. O mar não estava tão agitado como de costume, apesar da noite turbulosa que tiveram, mas a garota não fez e nem fazia nenhuma tentativa de se salvar. Ele a alcançou quase que imediatamente e a segurou firme, constatando que ela já estava desmaiada. Os marinheiros o ajudaram a colocá-la no barco enquanto todos os outros já estavam no convés prontos a ajudar. Quando ele subiu percebeu que a moça não respirava e fez o possível para trazê-la de volta encostando os lábios nos dela e soprando ar, quando estava quase desistindo ela tossiu e debilmente abriu os olhos. O olhar que ele viu foi de medo puro e latente, ele nunca viu alguém demonstrar tanto medo. Parecia que via um monstro. ela tentou se soltar do seus braços como se esses a queimassem e murmurou algo sem sentido pouco antes de desmaiar novamente.

-Temos que leva-la para um hospital senhor. – ele ouviu um deles dizer.

-Ela parece muito machucada. – outro apontou. Ele se permitiu olhar com mais atenção. Ela tinha a pele do rosto mais limpa que ele já tinha visto cílios longos, nariz assimétrico e lábios carnudos em forma de coração e estavam aparentemente rachados. Ele desceu o olhar e franziu a testa. Ela vestia algo que parecia ser um vestido de noiva ou algo parecido, mas tinha vários ferimentos em seus ombros, colo e cortes nos braços e pulsos, como se tivesse sido amarrada. Quem era aquela mulher? E de quem fugia?

-Senhor, se voltarmos agora só poderemos partir amanhã. – o capitão informou.

-Não vamos voltar, siga viagem... Vou leva-la para o quarto. Chamem a Mia, por favor. – ordenou pegando-a nos braços e se dirigindo para a área residencial do navio. A ouviu gemer quando a colocou na cama e se afastou olhando-a.

-Mandou me chamar? – Mia perguntou da porta e ele lhe dedicou um olhar rápido. Ela sorriu e desviou a atenção para a moça na cama. –O que aconteceu com ela? Quem é ela?

-Eu gostaria de saber... Pode despi-la e examina-la? – inquiriu passando as mãos pelos cabelos. Ele viu Mia se aproximar e desabotoar o vestido dela expondo metade do colo, parecia que ela não usava nada por baixo e respirando com mais dificuldade ele foi para o corredor com o punho cerrado e esperou. Não queria aquela garota ali, era um incômodo inconveniente, mas porque não a colocou num barco e a mandou para um hospital? Talvez devesse interromper a viagem por hoje e mandá-la embora no dia seguinte. Mas isso atrasaria sua volta e o conselho de Antares estava impaciente com o seu retorno.

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