Dez

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  - Essa sorveteria é incrível. Devíamos vir aqui mais vezes- Lindsay falou enquanto pegávamos nossas bolsas e saímos.
  Concordei.
  - Sorveteria preferida de Brad- levantei um dedo para avisa-la.
  - Vou anotar isso- ela sorriu- Mas então, como vocês descobriram essa sorveteria sendo que é há quilômetros da cidade?
  Ela tinha razão. A sorveteria ficava há duas horas de Overland Park. E sua pergunta me fez lembrar dos velhos, mas não tão velhos tempos, em que Brad e eu fugíamos de casa quando brigávamos com nossos pais ou quando estávamos cansados deles trabalhando a todo o tempo e não nos dando atenção. Sempre conhecíamos um lugar diferente fora da cidade.
- Teve um dia que Brad brigou com sua mãe, então ele roubou o carro de seu pai e foi até minha casa... Viemos parar aqui logo depois.
Ela arregalou um pouco os olhos, mesmo achando a história um pouco divertida.
- E quando os pais dele descobriram?
Estávamos andando até a picape de Lindsay, precisávamos sair daqui o quanto antes, porque parecia estar prestes a chover.
- Deixaram ele de castigo por duas semanas- entrei no lado do passageiro e fechei a porta.
Quando ela começou a dirigir, ela ligou o rádio e My House do Flo Rida começou a tocar. Comecei a cantar junto com a música.
- Sabe, eu preciso de ajuda.
Olhei para ela.
- Semana quem vou conhecer a família de Brad... O que eu faço?
Dei uma risada leve. Os pais de Brad eram incríveis, não havia motivos para ela estar preocupada.
- Seja você mesma. Eles vão gostar de você.
E nessa hora um barulho alto de trovão ecoou pelo céu e uma chuva forte começou a cair.
- Merda, vai ser difícil chegar em casa desse jeito.
As ruas estavam totalmente desertas, não havia ninguém a não ser por nós. Essa estrada não era muito frequentada, pelo fato de ser perigosa, tanto em questão de assassinato quanto em questão de acidente. E agora estava chovendo fortemente, era quase imperceptível enxergar através do vidro.
Ja fazia mais de meia hora e a chuva estava cada vez mais forte, Lindsay avançava lentamente com o carro, com medo de acontecer alguma coisa. Eu estava tão tensa quanto ela, afinal, duas meninas sozinhas no meio de uma estrada totalmente deserta, tirando pelas arvores, e ainda por cima chovia. E muito.
Tentei ligar para meu pai e caiu na caixa postal, Brad também não atendia e logo quando ele pareceu atender, a bateria acabou.
Eu nunca podia contar com esse celular.
Merda.
- Droga- Lindsay falou. No primeiro instante não entendi, mas logo vi que ela pisava desesperadamente no acelerador e o carro não andava.
E agora?
- O que a gente faz? - olhei para Lindsay que havia se apoiado no encosto do banco e olhava para cima.
- Vou ligar para Brad- ela pegou o celular e chamou. Isso parecia a melhor coisa a ser feita ja que meu celular estava sem bateria e Brad devia ter terminado o treino e podia vir nos buscar. Só que minutos atrás ela desistiu e guardou o celular- Sem sinal.
Droga.
Vi, pelo vidro embaçado por conta da chuva, uma placa marrom bem velha e acabada com uma seta avisando que havia um hotel por perto. No meio da floresta. Talvez lá tenha um telefone que possamos usar.
- Vamos ter que sair do carro- falei.
- O que? - ela me encarou perplexa.
- Se ficarmos aqui ninguém vai nos encontrar e já que não temos nenhum meio de comunicação...
- E aonde vamos?
- Tem um hotel aqui perto- apontei para a placa e ela passou a mão para tentar desembaçar o vidro.
- Vamos- ela falou e saiu do carro, sendo dominada pela chuva.
Eu logo a segui.
A chuva gelada caia em minha pele e não demorou muito para eu ficar toda encharcada. Ás vezes eu olhava para trás para ver se vinha alguém, mas só havia o carro de Lindsay na estrada de terra.
Entramos na floresta, com uma trilha e setas pregadas nas árvores guiando-nos ate o hotel.
- Eu estou com medo- ela disse enquanto caminhávamos. Eu não queria admitir em voz alta, mas a cada passo que eu dava, eu torcia para tudo dar certo.
Passávamos pela trilha e a terra sujava nossas calças jeans e até algumas folhas de árvores grudavam em nossos cabelos. Que dia.
Comecei a tremer por conta do vento gelado e agradeci em silêncio por termos encontrado o tal hotel.
- Quem é que se hospeda aqui? - ela falou com repulsa olhando para o hotel acabado de dez andares e nenhuma placa anunciando um nome de reconhecimento, sua tintura vermelha estava gasta e dava para ver que algumas janelas de vidro estavam quebradas e a cortina toda suja e mofada.
Dei de ombros.
- Gente como nós duas- entramos silenciosamente.
- Oi, oi- coloquei as mãos no balcão e me dirigi à uma mulher velha e baixinha que mexia em um computador antigo.
Ela tirou os óculos e olhou para Lindsay e para mim, que estávamos molhadas e tremendo de frio. O lugar era escuro e tinha algumas poltronas perto de máquinas de refrigerantes. E ao fundo havia alguns homens jogando bilhar.
- Será que poderíamos usar o telefone?- Lindsay se antecipou.
A mulher hesitou por um momento, pensando se devia ou não nos ajudar, mas alguma coisa em nosso olhar, implorando para que ela deixasse, a fez passar o telefone para Lindsay.
- Cinco minutos apenas- ela falou e voltou a mexer no computador.
Lindsay pegou rapidamente o telefone e começou a discar o número de Brad.
- Brad, é a Lindsay... Não, não, está tudo bem... Meu carro parou de funcionar... Eu nao sei... Angel disse que você conhece esse lugar...
- Oi- uma senhora pequena e com uma blusa de lã se aproximou- Vejo que vocês estão bem molhadas.
Lindsay foi tirando o telefone lentamente do ouvido.
- Sim, pois é- foi tudo o que soube falar. Eu estava tremendo e precisava achar uma forma de me esquentar.
- Vocês querem ajuda? Vocês precisam de um banho, minha neta tem algumas roupas no quarto e devem servir em vocês.
- Falo com você depois- Lindsay desligou o telefone- A senhora não se incomoda?
- Claro que não- ela sorriu amigavelmente- Vamos- ela passou seu braço pelo meu e o de Lindsay.
Fomos subindo pelas escadas escuras e com as paredes sujas. O lugar era uma espelunca.
- O que te trouxe aqui? - perguntei.
Ela me encarou.
- Meu marido adora jogar pôquer e eles apostam muito dinheiro aqui.
Um cassino enrustido. Agora entendi o motivo desse hotel existir.
Chegamos ao andar e ela nos guiou até seu quarto pequeno demais, com apenas uma cama de casal, um armário e um banheiro menos ainda.
- E a senhora fica aqui por muito tempo? - falei depois que Lindsay entrou no banheiro com uma calça jeans limpinha e um moletom da Chanel vermelho.
A neta dela tinha bom gosto.
- Um dia? Dois? - ela falou como se fosse pergunta e colocou carinhosamente um cobertor sobre meu corpo- Não muito tempo, tenho muito trabalho para resolver em minha cidade.
Fomos conversando enquanto eu pegava uma calça jeans escura e uma blusa de frio branca.
- E o que vocês duas fazem aqui?
Sentei-me na cama e contei para ela tudo o que havia acontecido com a gente desde que fomos tomar sorvete até quando quase morremos na floresta por conta da chuva e frio.
- Sua neta não está aqui? - perguntei logo em seguida.
- Não, não. Ela foi embora hoje mesmo e esqueceu uma de suas malas.
Lindsay saiu do banheiro seca e trocada e eu logo fui tomar banho. Bem quente de preferencia.

Sedução FatalOnde histórias criam vida. Descubra agora