Quatorze

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O lugar estava completamente cheio. Não havia nenhuma criança, só adultos e adolescentes correndo de todos os monstros que haviam aparecido e rondavam por todos os lugar, menos na entrada para os brinquedos e lojas. O parque estava escuro e tocava uma música sinistra que me deixou arrepiada. O tema era circo, e mesmo sabendo que fui eu quem deu a ideia de ter ido ao parque há algum tempo atrás, eu estava quase voltando para a minha casa.
Um homem com fantasia de macaco cheio de sangue com uma cerra elétrica passou correndo atrás de três meninas. Dei um passo para trás quando ele passou do meu lado e acabei tropeçando, senti uma mão forte segurando o meu braço.
- Cuidado, Angel. Se continuar assim você não vai sair do chão- Derek falou e depois continuou andando.
Bufei e revirei os olhos.
- Onde vamos agora?- Lindsay perguntou.
- Que tal montanha-russa?
- Brad- disse firme, parando para encara-lo - A montanha-russa é do outro lado do parque. Porque não vamos no Evolution?
Eu estava morrendo de medo dos monstros e só de imaginar que eu teria que cruzar o parque inteiro e ser assustada mais de cem vezes me fazia querer sair dali o mais rápido o possível, por mais que o dia todo tenha sido muito bom.
Ele respirou fundo.
- Medrosa.
- O que? Eu não sou medrosa. Só não quero passar perto de mais nenhum monstro- toda vez que um monstro corria para assustar as pessoas distraídas eu me aproximava de um dos três, o que estivesse mais perto de mim enquanto andávamos. Eu ainda estava brava com Derek pelo que aconteceu na noite passada, mas aparentemente ele mal se importava, já que continuava falando comigo como se nada tivesse acontecido.
Eles olharam para mim, duvidando que eu falava a verdade, mas continuaram andando, indo em direção ao brinquedo cuja fila estava quase vazia. Um homem, com chifres pretos, com o peito descoberto cheio de marcas e sangue por todo seu corpo, chegou perto de nós mostrou suas garras. Seus olhos verdes fluorescentes penetravam nos meus e eu senti um calafrio. Quando ele percebeu que eu estava com medo, ele se aproximou mais ainda.
Derek passou seu braço pelo meu ombro e tapou meu rosto, me tirando de perto do homem chifrudo. Apesar de ele ter me ajudado, ele não parava de dar risada, junto com Brad, de mim e de Lindsay.
- Não vi graça nenhuma- falei nervosa. As catracas dos brinquedos se abriram- Vamos logo nisso antes que eu desista- falei por fim.
Depois de sairmos do brinquedo e irmos mais em três, passando mais de uma hora em filas e lojas, eles resolveram por mim e Lindsay que queriam ir na casa mal-assombrada, que estava com luzes piscando e zumbis andando por todos os lados. No carrinho, sentei ao lado de Derek, o que me deixou um pouco mais tranquila.
O carrinho subiu, dando um tranco antes de parar. Cortinas vermelhas se abriram e o carrinho começou a andar em um ambiente escuro cheio de neblina, o carrinho pegou velocidade e começou a descer, com imagens de palhaços macabros aparecendo nas paredes. Tudo acabou quando o carrinho parou de cair e começou a andar em linha reta e cenário mudou... Uma música clássica começou a tocar e apareceu uma livraria antiga, toda destruída.
Olhei rapidamente para Derek que estava em uma posição confortável e de braços cruzados, como se aquilo fosse muito banal para ele demonstrar alguma reação. Vi uma fera medonha rasgando os sofás e jogando os livros no chão. Me afastei daquilo, ficando mais perto de Derek. Ele olhou para nossos ombros que se tocaram e depois para mim. Só que eu estava assustada demais para dar atenção à ele.
A cena mudou novamente quando o carrinho se movimentou. O ar estava mais frio. Vampiros apareceram matando várias pessoas, e com corações ensanguentados em suas mãos, como se eles tivessem acabado de arranca-los. Passamos mais rápido e o carrinho começou a cair novamente só que agora tinha gritos e barulhos de tiro.
Apertei o banco com toda a força que eu tinha e só fui relaxar quando os gritos cessaram. Derek segurou minha mão fortemente e eu senti meu corpo ficar quente.
- Isso não é real, Angel- ele falou, me tranquilizando.
Isso não é real.
Um circo. Uma bailarina cheia de cortes andou lentamente como se estivesse traumatizada. Um mágico com uma faca na mão e a cabeça de um homem na outra deu um sorriso enquanto andava de um lado para o outro. Vários outros personagens faziam suas apresentações, até a chegada do palhaço. Todos pararam e o observaram, ele era o rei do lugar. Dois homens trouxeram uma mulher que gritava desesperadamente e a jogaram na frente de todos, que davam risada dela. O palhaço levantou a mão com uma arma apontada e deu um tiro em sua testa. Depois disso, tudo ficou totalmente escuro e fomos levados até a saída.
Graças a Deus tudo havia acabado.

Paramos no Starbucks e pedimos chocolate quente.
- Qual é, Angel- Brad jogou um papel em mim- Foi você quem deu a ideia de ir ao parque hoje.
Olhei feio para ele enquanto colocava meu copo em cima da mesa de madeira. Já se passada das dez da noite e só havia um grupo de pessoas sentados distantes de nós. As pessoas pareciam sumir quando o céu ficava escuro.
- Nunca mais vou a um parque de diversões- massageei minha têmpora.
- E que tal boliche?- Lindsay sugeriu.
- Seria uma boa ideia- me lembro que a última vez que fui a um boliche eu não havia nem chegado ao ensino médio.
- Podemos ir na sexta-feira que vem- ela se apoiou sobre a mesa esperando nossa resposta. Brad e eu nos entreolhamos.
- Não vai dar- ele disse balançando a cabeça- Temos uma festa. E sábado tem sua apresentação de piano.
- Que seja... Temos que marcar algum dia.
- Claro- falei, eu realmente queria ir ao boliche- Depois do natal e ano novo nós resolvemos isso. Já que estamos muito ocupados- olhei para Brad que me mostrou o dedo do meio.
- Vai passar o natal com quem? - Brad apontou para Derek.
Ele se apoiou na cadeira almofadada e cruzou os braços. Parecia que uma sombra de tristeza havia passado pelos seus olhos, mas eu não sabia ao certo, porque ele era meio difícil de ser desvendado.
- Eu não sei ainda- óbvio que ele não queria falar sobre o assunto.
- E você? - perguntei a Lindsay.
- Vou passar em Atlanta com a minha família.
- Você é de Atlanta? - foi como se uma ficha tivesse caído em minha cabeça e eu tivesse me tocado.
- Sim, fui nasci e fui criada lá. Cheguei em Overland Park faz um ano.
- Nossa- fui tudo o que pude dizer. Eu não conseguia me imaginar fora daqui; a minha cidade natal. Eu tinha uma história aqui, sair dessa cidade seria como dizer adeus a quem eu sou.
Meu celular vibrou e eu o peguei. Meu pai havia me mandado uma mensagem.

Volte para casa antes da meia noite, gatinha.

Já era onze e quarenta e cinco.
- Eu preciso ir- me levantei.
- Não quer uma carona? - Brad ofereceu.
- Não, obrigada. Eu vou sozinha- peguei minha bolsa- Minha casa é só a um quarteirão daqui.
Me despedi deles e respirei fundo antes de sair na rua. Mesmo estando tarde, essa era uma cidade segura e tranquila, não aconteciam muitos crimes por aqui. Eu nunca tive medo de andar sozinha, nem quando já estava bem escuro e não havia quase ninguém nas ruas. Só que então eu me lembrei das cartas, das ameaças e dos últimos acontecimentos com vários caras me perseguindo e um frio percorreu pela minha espinha. Acelerei o passo, eu ficaria bem mais confortável quando chegasse em casa.

Sedução FatalOnde histórias criam vida. Descubra agora