Dezoito

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Eu estava totalmente desnorteada, com frio e com medo. Eu estava amordaçada e presa a uma cadeira velha de madeira e só com calcinha e sutiã. O que ele havia feito comigo? E nesse momento, eu senti mais medo ainda, porque não me lembrava de nada do que tinha acontecido. E se ele tivesse me estuprado?
O lugar onde haviam me prendido era pequeno, sujo e com quase nenhuma claridade. Parecia um lugar submerso, com manchas de sangues nas paredes, que eu julguei serem minhas, pois não pareciam secas. Havia uma mesa de madeira encostada na parede, à minha frente, com um balde pequeno, panos sujos, uma arma e uma faca de açougueiro. Pelo silêncio que estava, parecia que eu estava sozinha.
  Meu coração batia forte no peito, eu não sabia explicar o medo que estava sentindo e a incerteza de não saber o que estava se passando. Aonde eu estava? Quem havia me colocado aqui? E porque eu estava aqui?
  Comecei a me contorcer para me soltar, meu corpo doía cada vez que eu tentava me mexer. Algumas lágrimas caíram de meus olhos em meio ao desespero que eu estava sentindo. Eu não tinha forças... Aos poucos, consegui tirar as cordas que prendiam os meus pés, que logo quando soltos, ficaram adormecidos.
Senti um pequeno alívio.
Fiquei em silêncio para ver se não havia ninguém me espionando, preparado para me matar caso eu tentasse fazer alguma coisa. Me levantei, mesmo amarrada a cadeira e fui até onde a mesa estava. Peguei a faca com dificuldade.
Quando escutei o barulho de alguém vindo, senti meu coração parar por um minuto. Comecei a cortar as cordas freneticamente. Os passos pesados ficavam cada vez mais perto.
Terminei.
A cadeira caiu no chão, fazendo barulho. Virei-me e vi um homem com capa preta e máscara nos olhos vir em minha direção. Corri para a escada, mas ele foi mais rápido que eu e me jogou no chão.
Tentei me levantar, mas ele deu um soco meu meu nariz, fazendo me cair. Gritei de dor. O sangue começou a escorrer em meu rosto.
Ele demonstrava fúria e ódio. Ele sabia que eu não iria fazer nada, então parou a minha frente, vendo o meu desespero e sentindo prazer nisso. Ele pegou sua arma e levantou-a lentamente até ela ficar apontada para minha testa. A única coisa que eu pude ver foram os seus olhos azuis que eu reconheceria até de longe.
Derek.

Acordei e tudo ainda estava escuro.
Derek dormia no sofá ao lado do meu.
Na mesa de centro havia uma caixa de pizza, garrafas de cervejas e um baralho. Ele havia perdido duas vezes de mim ontem no pôquer. Ficamos jogando até resolvermos assistir um filme de terror. Só que agora eu não podia pensar no que havia acontecido na noite passada. Eu precisava sair dessa casa imediatamente.
Eu estava usando uma blusa da Calvin Klein que ele havia me emprestado e minha meia de seda branca que ia até a altura de meus joelhos e que fazia parte da fantasia de Papai Noel. Fui até a cozinha sem fazer nenhum barulho e abri a porta de vidro.
O vento gelado dominou minha pele. Olhei em volta. Tudo o que eu precisava fazer era cruzar o jardim e o portão de entrada para ir embora. Olhei para trás quando senti a presença de alguém e congelei quando vi Derek, mesmo estando escuro, parado na soleira da porta, me observando.
Não pensei duas vezes antes de correr em disparada, olhando para trás para ver se ele vinha atrás de mim. O vento batia contra meu corpo e a terra úmida molhava os meus pés. Senti um corpo sendo lançado contra mim e eu caí no chão.
Derek segurava minhas mãos enquanto eu batia nele e tentava me soltar.
- Socorro- gritei, me mexendo para ele sair de cima de mim- Socorro- mas logo percebi que essa era a casa dele e mesmo que tivesse um segurança na cabine acima do portão, ele não viria até mim.
Uma lágrima caiu de meu olho.
Me contorcia cada vez menos enquanto percebia que não tinha chances contra Derek. Ele era muito mais forte do que eu.
- Eu vou te soltar, tudo bem? - disse ele, cravando seus olhos em mim- Promete que não vai fugir?
Fiquei quieta, olhando em seus olhos. Quando por fim, ele tirou os braços de mim, eu me levantei, correndo em direção ao portão. Mas ninguém o abriu para mim.
- Ele vai me matar- gritei- Me tire daqui- eu chacoalhava o portão, mesmo não fazendo nenhum efeito.
- O que? - ele disse transtornado- Você... Você acha que eu vou te matar?
Ele sorriu levemente, mas estava nítido que ele estava nervoso e perplexo ao mesmo tempo.
- Olha, eu não sei o que você pensa sobre mim- ele colocou as mãos na cintura, olhando para o jardim antes de me encarar- Mas eu não sou um assassino.
Abaixei um pouco o rosto, colocando-o contra o portão. Observei um carro passando na rua silenciosa. Aquilo foi só um pesadelo horrível. Eu estava ficando paranoica.
- Porque você acha que eu faria isso? - ele perguntou. Eu não ousei me virar, eu sabia que seus olhos iam entregar seu nervosismo e eu me sentiria ainda mais culpada.
Balancei a cabeça, envergonhada.
Ele me ajudou e me salvou desde que nos conhecemos, se ele quisesse me matar, ele já teria me matado há tempos, porque oportunidades não faltaram.
- Eu acho que você me deve algumas explicações- ele falou quando viu que eu não ia responder.
Eu o encarei pela primeira vez.
- Você também. E eu prometo te falar tudo se você me responder algumas perguntas.
Eu o encarei pela primeira vez. Sua expressão já estava suavizada.
Ele concordou.
- Acho justo.
Voltamos para a sala em silêncio.
Olhei o relógio: duas e meia da manhã.
- Porque estou aqui com você e não com Brad? - afinal, meu pai conhece Brad há muito mais tempo e confia nele e em sua família, quer dizer, nós somos quase da mesma família. Tudo bem que eu estava sem a chave, mas meu pai havia pedido a Derek que ficasse comigo até que ele voltasse de sua viagem.
Ele suspirou.
- Eu vou te falar a verdade, mas você tem que me prometer que não vai querer sair daqui, querendo resolver isso com suas próprias mãos.
Olhei para ele, séria.
- Prometo- disse, olhando para seus olhos profundos.
Ele pareceu pensar por onde começar a falar. Havia um silêncio profundo nos rondando e um suspense por não saber o que viria em seguida. Ele se sentou no sofá de ficou de frente para mim.
- Minha mãe conheceu seu pai quando eu nem havia nascido. Ela o procurou e começou a se queixar de que estava sendo perseguida, então seus pais e os pais de Brad começaram a investigar o caso. Depois de um tempo, bem depois que eu havia nascido, o cara que a perseguia começou a ameaçar minha mãe de morte- silêncio- Seu pai encontrou a casa do perseguidor e entre uma briga, seu pai atirou nele e pensou que ele havia morrido, então ateou fogo na casa logo em seguida. Mas ele não morreu... Então o perseguidor ficou com raiva, sabendo que quase havia sido morto e matou minha mãe para colocar logo um fim nisso, pois estava cada vez mais arriscado para ele- ele fez uma pausa. Eu não estava conseguindo processar direito o que ele estava me falando- Os pais de Brad e seus pais contrataram uma mulher para ficar comigo por tempo integral, era a minha unica família.
Era?
- O que aconteceu com ela? - falei baixo, ousando fazer uma pergunta, mas com medo de estar interrompendo-o.
- Ela foi assassinada há dois meses- levei um choque. O caso que meu pai estava cuidando, era essa mulher- O mesmo homem que matou a minha mãe foi quem matou a sua mãe, pois seu pai estava quase chegando perto de mata-lo e ele não podia deixar com que isso acontecesse- ele engoliu em seco e olhou serio para mim, sabendo que eu estava paralisada, sem saber como reagir a tudo que ele me contava- A morte de sua mãe fez com que seu pai ficasse distraído e sem forças para continuar com essa perseguição.
Sem rumo... Meu pai mal sabia que ajudar uma mulher sem defesas ia resultar na morte da mulher de sua vida.
Meus olhos se enxeram de lágrimas, uma dor invadiu meu peito. Eu mal sabia o porque a minha mãe havia sido morta, não sabia a dor que ela tinha sentido antes de ir, não sabia o quanto ela havia tentado lutar para ficar viva. Mas saber que isso havia acontecido porque meu pai estava perto de pegar um homem, um assassino, partia meu coração. Eu não podia imaginar a culpa que meu pai sentia e carregava no peito e mesmo assim continua sorrindo e lutando para que eu ficasse bem.
- Meu pai sabia...
Derek colocou a mão em meu ombro, me reconfortando, mesmo eu sabendo que compartilhávamos a mesma dor.
Abri a boca para falar algo, mas não consegui. Minha garganta estava seca. Até que me veio o único pensamento que podia explicar tudo que estava ocorrendo.
  - E agora o assassino de sua mãe e de minha mãe está atrás de mim.
  - Sabendo da sua proximidade com Brad, é mais seguro que esteja comigo nessa semana.
  Fiquei parada, meu olhar estava perdido. Meu pai queria me proteger, sabendo que não poderia estar presente essa semana.
- O seu pai confia em mim- ele engoliu em seco- E aqui em minha casa você ficará mais segura.
Porque o assassino não faz ideia de que eu estou com Derek.
- Ele não sabe que você está comigo- ele me certificou- Só tenho certeza e uma coisa: a minha mãe dormiu com um assassino.
Arregalei os olhos. Ele sabia... Ele sabia quem era o perseguidor. Era o pai dele.
Eu mal conseguia respirar. O. Pai. Dele. É. Um. Assassino. Me levantei e comecei a andar de um lado para o outro. O pai dele matou a mãe dele. E a minha mãe.
Respirei fundo... Eu não sabia nem o que dizer, não havia como consola-lo. Ele havia me contado tudo o que ele sabia, eu tinha que fazer o mesmo.
- Na semana em que eu te conheci- comecei- Meu pai e os pais de Brad ficaram estranhos, perdidos, e Brad descobriu que foi porque seus pais haviam recebido uma carta... Nós a encontramos e dentro tinha- minha boca tremia e ele olhava para mim, apoiado em seus joelhos, escutando tudo o que eu estava dizendo- Havia fotos e mais fotos minhas e de Brad, como se ele estivesse nos perseguindo há semanas.
Ele arregalou os olhos, começando a ficar preocupado, mas mantendo a calma acima de tudo.
- E havia ameças, falando que quando ele acabasse comigo, Brad seria o próximo- abaixei os olhos- Depois disso não recebemos mais nada... Tudo voltou ao normal. E então, eu tive um pesadelo horrível de que estava sendo perseguida por um homem na floresta, e eu só consegui ver seus olhos, porque seu rosto estava escondido... E ele dava um tiro em minha cabeça. E hoje, mais uma vez eu sonhei com esse mesmo homem, só que eu estava presa em um cativeiro e ele também me deu um tiro e tinha olhos azuis da cor dos seus- sentei-me à sua frente.
Pareceu uma eternidade antes de ele resolver falar, nossas respirações estavam pesadas e o cansaço nos dominava.
- Você tem noção de que está correndo perigo? - ele estava com medo? Por mim?
- Derek... - me aproximei dele- Tudo voltou ao normal desde então.
- Não, Angelina- ele se levantou em um salto- Eu acabei de te falar que há um assassino solto por aí que matou as nossas mães e que sabe sobre sua família e a de Brad. Nada voltou ao normal. Ele com certeza não vai deixar isso barato até conseguir o que quer- um arrepio percorreu pela minha espinha só de eu imaginar algum de meus pesadelos acontecendo.
Fiquei quieta, vendo o se acalmar e o pedi para que se sentasse em meu lado de novo.
- E se você estiver certo? - falei quando ele me obedeceu- Não há nada que podemos fazer. O meu pai está resolvendo isso com os pais de Brad. Eles estão mais em risco do que nós.
Ele concordou, abaixando a cabeça.
- Eu não vou deixar ele machucar você.
Ele disse isso com tanta certeza e firmeza em sua voz que não tive dúvida de que era verdade. E que eu faria o que fosse preciso para nada acontecer comigo. De alguma forma, eu me senti mais segura.
- Acho melhor voltarmos a dormir. Temos um longo dia pela frente.

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