Vinte e Nove

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  Chovia forte e o vento gelado me deixava com mais frio ainda. Eu usava uma calça jeans rasgada, botas e um cardigã de gola V. Deixamos o carro na frente de uma casinha abandonada e começamos a andar o resto do caminho, para não criar suspeitas. Tínhamos vinte minutos de caminhada e já havia se passado das onze da noite. As lanternas de nossos celulares iluminavam o caminho que precisávamos fazer. Eu já estava cansada de tanto andar, escutar o barulho das folhas batendo umas nas outras por conta do vendo e meu cabelo sendo bagunçado. E toda vez que eu escutava o barulho de alguns animal passando pela terra eu me agarrava em Derek, que me puxava para mais perto dele.
  Ele fez sinal para eu ficar quieta e eu comecei a ver de longe uma casa amarela , com janelas amplas. As cortinas estava abertas e havia uma luz acesa no segundo andar. Porém não havia nenhum sinal de alguma pessoa lá dentro. Eu senti uma energia estranha em meu corpo, aquela casa era em um lugar totalmente deserto, não tinha nada que não fossem árvores perto daquela casa. O que levaria uma pessoa a construir uma propriedade no meio do nada?
  A chuva continuava forte e eu já estava toda encharcada. Não consegui evitar e olhei para Derek, seus cabelos escuros estava um pouco para baixo e sua pele estava bem molhada, apesar dele estar com jaqueta, sua blusa debaixo estava colada em sua pele, por conta da água e deu para ver perfeitamente seus músculos. Ele estava sexy. Eu fiquei tão absorta o observando que eu deixei de notar que ele também me observava de cima abaixo, mordendo o lábio. Virei os olhos e continuei andando em direção à casa. Escondemo-nos em um arbusto.
  - Você fique aqui- ele pegou um galão de gasolina que estava escondido em uma parte do arbusto, ele deve ter visto minha cara perplexa e resolveu se explicar- Sobrou um tempo, então vim aqui mais cedo e preparei isso.
  Ele foi até o final da casa e começou a jogar gasolina em volta dela. E cada vez que os minutos passavam e ele não voltava, mais apreensiva eu ficava. O assassino poderia me ver e cumprir sua promessa, me matando aqui mesmo. Ou ele perceberia que estávamos aqui e faria alguma coisa com Brad.
  Agradeci em silêncio quando Derek apareceu e me levou até o final da casa, onde haviam duas portas que provavelmente davam para o porão da casa, e duas janelas, uma de cada lado. Ele apontou para uma que estava com a fresta aberta e passamos por ela lenta e silenciosamente.
  Lá dentro, mesmo estando escuro, consegui ver alguns reflexos de metais que pareciam ser a pia, um jogo de facas e bancos. Eu andava tateando para achar uma saída e acabei tropeçando e batendo em um banco. Congelei com o barulho. Eu coloquei as mãos para frente para não bater meu rosto, mas Derek foi mais rápido, segurando forte o meu braço o que chegou a doer um pouco.
  Ele ligou a lanterna do celular e andamos pelo corredor até chegar na escada. Quando chegamos, a luz do quarto que estava acesa conseguiu iluminar o resto de nosso caminho. Meu coração estava quase saindo pela minha boca.
  Fomos para o quarto com a luz acesa. Arregalei meus olhos, os pelos de meus braços se eriçaram, era o lugar do vídeo em que eu havia recebido, um lugar arejado, mas sujo. Derek bateu em meu braço e me pediu que continuássemos procurando. Entrei no banheiro e também não havia nada. Derek viu o meu desapontamento quando me encostei na parede e resolveu ver os outros quartos. Eu mal sai do corredor e ele já voltou, fazendo que não com a cabeça, como se tivesse lido a pergunta que se formava em minha mente.
  Não, não era possível. Esse era o lugar que Brad tinha sido trazido, ele esteve aqui, eu sabia disso. Onde será que o assassino o havia levado? O que ele tinha feito com Brad? Ele devia ter descoberto tudo e ido para outro lugar e agora a chance de eu achar Brad era nula. E se ele tivesse descoberto que estávamos aqui e se livrado de Brad? O pensamento de que eu nunca mais veria Brad, nunca mais escutaria sua voz e nunca mais teria qualquer momento com ele me fez ficar fraca de uma forma que eu nem sabia que era possível. Eu não havia feito nada para ajuda-lo, eu só piorei as coisas. Eu fui a culpada. A culpada de meu melhor amigo estar nessa situação.
  Eu vi meu reflexo no espelho da parede. Eu estava com os olhos vermelhos, segurando o choro e mordendo os lábios para me controlar, porém algumas lágrimas rolavam do mesmo jeito. Fiquei com tanta raiva da imagem que eu estava vendo, eu me sentia tão inútil, tão incapacitada, que não pensei duas vezes antes de quebrar o vidro. Senti minha pele rasgando e o sangue escorrendo e apesar de estar doendo, aquilo aliviou o que eu estava sentindo.
  - Angelina- Derek gritou meu nome, assustado.
  - A culpa é minha- disse abaixando a cabeça.
  - Não fale isso- ele veio em minha direção e segurou minha mão para ver a intensidade do ferimento.
  - Não, Derek- o fitei- A culpa é minha sim. O meu melhor amigo foi sequestrado e está sofrendo por minha causa- respirei fundo, tentando conter a dor- Isso nunca deveria ter acontecido.
  Eu o olhei, ele estava triste, sabendo o que tudo isso estava causando em mim. Eu estava perdida em labirinto sem saída, eu não sabia o que fazer e estava com medo de fazer qualquer coisa que me deixasse mais perdida ainda.
  - Se eu não tivesse sido tão egoísta a ponto de me deixar ser protegida e pensar no que poderia acontecer com Brad, ele estaria bem agora- segurei forte minha mão para tentar diminuir a dor do corte- Se eu tivesse deixado o assassino me pegar na perseguição ao invés de entrar em minha casa, ele não teria ido atrás de Brad.
  - E você estaria lá agora- Derek sussurrou.
  Balancei os ombros.
  - Pelo menos ele estaria bem- eu não me importaria com o que poderia acontecer comigo.
  Ele olhou para trás e congelou. Eu segui seu olhar e havia algumas fumaças cinzas tomando conta de toda a escada. Passei a prestar atenção no cheiro de queimado forte que pairava por entre a gente. Eu estava tão preocupada com Brad que me desliguei do que estava acontecendo a minha volta. Tentamos sair pelas escadas, mas o fogo já tinha se alastrado pelo andar de baixo e estava começando a quebrar as janelas de vidro da sala.
  Comecei a tossir, inalando a fumaça que tapava minha garganta. Ele puxou meu braço de novo e entramos em um quarto onde a janela estava aberta. Fiquei parada, esperando ele ter uma reação.
  - Vamos ter que pular- ele me olhou como se não houvesse outra alternativa.
  - O que? - franzi a testa. A janela era a mais de três metros do chão, a gente podia se machucar feio se fizéssemos isso.
  Escutei um barulho de vidros de estilhaçando e caindo no chão, se ficássemos aqui por mais cinco minutos, iríamos morrer. Não ia demorar para tudo começar a desabar. A gente só tinha duas alternativas: ou pular, ou morrer.
  Segurei forte sua mão e olhei em seus olhos, preparada para quando ele dissesse para pularmos. Ele contou até três e nós nos apoiamos na janela, fechei os olhos durante a queda. Cai no chão, batendo a cabeça fortemente na terra, sentindo uma dor que me torturava, eu mal conseguia me mexer. Só tossia por conta das chamas que ainda estavam se alastrando.
  Eu escutava Derek falando comigo e me mexendo para ver se eu tinha alguma reação, mas eu não entendia nada. Havia um zunido horrível em meu ouvido e eu estava com tanta dor que quase desmaiei. Minha pele estava quente e até a chuva gelada que caía em mim não significava nada.
  Fechei os olhos por um instante, mas não sei quanto tempo demorei para abri-los novamente. Derek continuava a me chacoalhar, virando o rosto para tossir, eu sabia que ele estava quase tão mal quanto eu. Eu precisa reagir, mesmo não conseguindo, eu precisava fazer alguma coisa, senão ele ia acabar desmaiando, caindo ali ao meu lado. Naquele momento eu precisava ser forte. Por ele.
  Agarrei a terra e comecei a me levantar, fazendo muito esforço. Minha cabeça girava e eu não tinha foco de nada que estava ao meu redor. A casa caia aos pedaços, nem dava mais para ser reconhecida.
  - Angelina, precisamos ir agora. Ele está aqui e a pior escolha é permanecer nesse lugar- ele me agarrou- É isso que você quer?
  Ele também estava desesperado, sabia que eu corria perigo. Ele colocou meu braço sobre seu ombro, carregando uma parte de meu corpo. Andávamos apressadamente, olhando para trás de vez  em quando para ver se estávamos sendo seguidos. Me soltei de Derek para podermos correr, só que acabei tropeçando em um galho e caindo no chão. Cuspi para tirar a terra que havia entrado em minha boca.
  - Você consegue andar? - ele me ajudou a levantar.
  - Sim- eu não ia falar para ele o quanto sentia dor, eu só queria sair daquele lugar o mais rápido o possível.

Sedução FatalOnde histórias criam vida. Descubra agora