Cinco

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Eu deixei minha bolsa da Nike em um canto, bebi um pouco de água de minha garrafa e comecei a dar chutes, cada vez mais fortes no saco de boxe.
Não havia ninguém ali, a não ser por eu mesma. E não havia mais nenhum barulho, a não ser pelo de meus socos.
Mais força, Angelina. Isso não paralisa uma pessoa.
Comecei a dar socos cada vez mais fortes, mesmo que meus braços e minhas mãos estivessem doendo e eu já estivesse exausta.
Parei. Coloquei as mãos no joelho e respirei fundo para recuperar minha energia.
Tentei fazer o golpe que aquela mulher tinha dado em mim, quando ela quase quebrou meu nariz e me fez desmaiar. Mas na hora em que eu joguei meu corpo para cima, eu não tive força o suficiente para colocar meu pé para cima e chutar o saco, então cai no chão.
Respirei fundo e tentei de novo, mas acabei no chão.
Cansada, tirei as luvas de minhas mãos e as joguei de lado. Voltei a socar, só que dessa vez um pouco mais fraco do que antes.
Socos.
Socos.
E mais socos.
Só que eu não sentia que estava melhorando. Eu me sentia cada vez mais inútil e impotente.
Me sentei no chão, pois não havia mais forças para eu continuar lutando. Coloquei meus cotovelos sobre os joelhos e passei as mãos pela minha cabeça, respirando fundo. Eu estava suada e ainda tinha uma aula inteira de luta pela frente.
Depois de um tempo me levantei e comecei a andar de um lado para o outro. Só parei quando vi o treinador parado na porta. A quanto tempo ele estava ali?
- Não é desse jeito que você vai conseguir lutar com uma profissional- ele falou e começou a se aproximar.
- E como é então?- levantei a sobrancelha.
Ele pediu para eu me aproximar. E eu o fiz.
- Posição!
Coloquei um pé em frente ao outro e minhas mãos em frente ao meu peito.
- Demonstre para mim o que você faria se eu fosse um assaltante e não soubesse que você iria me atacar.
Eu reparei que seus olhos pretos pareciam cansados e sia barba estava por fazer. Ele devia estar bem cansado.
Dei um soco lateral e ele pegou meu braço e o torceu, colocando-o em minhas costas.
- Errado- ele disse me soltando.
Arfei.
Dei um soco certeiro em seu estômago e ele pegou meu braço, o segurou e me empurrou.
Cambaleei para trás, arregalando os olhos, assustada com sua reação.
  - Angelina, você tem que entender que se fosse realmente um assalto, ele não ia ser nem um pouco delicado.
  Respirei fundo. Ele tinha razão.
  Me bata forte, como se eu fosse o seu pior inimigo e essa fosse sua única chance de se vingar de mim.
  Assenti e dei dois socos em seu peito, ele deu um leve passo para trás.
  - Mais uma vez.
  Dessa vez eu dei um soco em seu rosto, fazendo-o cambalear para o lado, então dei uma joelhada em seu estômago e o empurrei para trás. Ele caiu no chão.
  No momento em que ele se recuperou, ele sorriu para mim e se levantou, indo procurar por algo.
  - Vamos dificultar um pouco- ele girou uma arma calibre 12 em sua mão. Meu corpo estremeceu- Está sem bala.
  Ele falou quando percebeu o meu espanto. Ele realmente queria encenar um assalto?
  - Dessa vez o assaltante está com a arma apontada para você- ele o fez- O que você faz?
Com certeza nada, pensei.
  Ter uma arma apontada para meu rosto, me deixou nervosa. Eu não sabia nem o que pensar, muito menos o que fazer. A tensão me dominou, o treinador me olhava sério, esperando ver minha reação, mas eu só olhava para a ponta da arma que me encarava.
  Empurrei seu braço para o lado esquerdo e ele deu um tiro. Eu tentei puxar a arma da mão dele, mas, com sua outra mão, ele segurou meu braço e me virou, prendendo minha mão direita atrás das costas. E apontou a arma para minha cabeça.
  - Era esse o fim que você queria?
Não. Meu coração batia aceleradamente.
  - Não sei porque você está tão nervosa. Essa arma é um simulador.
  Respirei fundo e, com o braço que estava solto, dei uma cotovelada em deu maxilar. Ele me soltou automaticamente. Peguei o braço que estava com a arma e virei sua mão, até ela ficar apontada para o rosto dele.
  - Isso está bom para você?- perguntei.
Ele abriu um sorriso.
Aos poucos fui abaixando minha mão, sabendo que tudo aquilo ja havia acabado.
  - Vá para casa, Angelina. O treino está dispensado para você hoje- agradeci em silêncio.
  Me virei e fui guardar minhas luvas que estavam jogadas no chão. O treinador havia acabado de começar a limpar um ring.
  - Treinador?
  Ele se virou,
  - Obrigada.
  Sem sorrisos. Apenas um agradecimento formal.
  - Agradeça a você mesma. Você tem potencial para isso.
  Sorri.
  - Até amanhã- sai.
  Olhei no relógio e já era quase uma e meia. Resolvi ligar para Brad para irmos almoçar.
  - Olá, Angel.
  - Vamos no Pizza Hut agora?
  - Você não vai treinar?
  Balancei a cabeça.
  - Fui dispensada- eu andava na calçada de frente para o estúdio de luta.
  - Te pego em dois minutos.
  Desliguei e fiquei sentada em um bando do outro lado da rua. Não havia sol, mas também não estava frio, o vento batia calmo e tranquilamente em minha pele. Foi aí que me lembrei que estava com a roupa de treino.
Quando Brad chegou, eu entrei pela porta de passageiro.
- Não olhe para trás- falei abrindo minha bolsa e começando a tirar minha blusa.
Ele fez uma cara confusa, mas começou a dirigir.
Coloquei uma regata branca. Vi pelo retrovisor que ele estava olhando com um sorriso no rosto.
- Eu disse pra você não olhar- olhei séria para ele.
Ele sorriu novamente.
- É como deixar um pássaro solto e pedir que ele não voe.
Bufei.
- Pare o carro!
- O quê?- ele me olhou como se eu estivesse louca.
- Pare o carro! - falei com mais intonação em meu tom de voz.
Brad suspirou, mas estacionou perto de uma calçada. Ele usava uma bermuda escura e uma camisa azul clara, com vans.
- Agora sai- falei e comecei a empurrar ele.
- Angel, eu não vou...
- Sai, sai, sai- comecei a empurrar ele para fora do carro, ele balançou levemente a cabeça e saiu.
Continuei me trocando. Tirei meu shorts de treino e coloquei um preto com detalhes dourados.
Passei desodorante em meu corpo inteiro e soltei meus cabelos. Então coloquei meu tênis Adidas branco e amarrei minha blusa xadrez na cintura.
Me joguei no banco da frente e abri a porta para Brad entrar.
- Vamos- sorri.
- Espero que não me expulse mais de meu carro.
Olhei serio para ele.
- E a propósito, eu vi tudo.

- Para- falei rindo- Não é desse jeito que se faz.
- Então como é? - Brad parou de andar e cruzou os braços.
Parei, joguei duas jujubas para cima e abri a boca. Elas bateram em meu rosto e caíram no chão.
- Pensei que você soubesse.
O fitei.
- Muito engraçado.
Estávamos andando em um parque ha mais de uma hora. Pessoas jogavam freezsbe, algumas passeavam com seus cachorros e babás e pais andavam com suas crianças. Havia bastante árvores e bancos nos dois lados da calçada. Um carrinho de cachorro quente, sorvete e algodão doce estavam espalhados pelas calçadas.
O vento ficava cada vez mais forte e gelado e eu agradeci por ter levado, ao menos, uma blusa.
- Estou ansiosa- falei.
- Porque? - ele levantou a sobrancelha e se virou para mim.
- Vou conhecer sua namorada.
Ele sorriu e seus olhos brilharam. Nesse momento eu percebi o quanto essa menina era especial para ele.
- Como ela é? - ele fez uma careta.
- Ela é... Legal.
Olhei de cara feia para ele. Se eu tivesse um namorado eu queria que ele falasse tudo menos que eu era simplesmente legal. Não é desse jeito que se descreve uma pessoa que você gosta.
- Brad, eu trabalho com detalhes- pisquei para ele.
Ele arqueou as sobrancelhas como se tivesse entendido minha pergunta.
- Ela é diferente. Ela me escuta quando eu falo, ela é divertida, gosta de muitas coisas que eu gosto... Ela está me fazendo feliz.
Sorri.
- E se eu não aprova-la?- eu perguntei em tom de brincadeira, mas ele arregalou os olhos.
- Você vai aprova-la- ele olhou para mim e passou seu braço pelo meu ombro- Mas e você?
Estava terminando de comer minhas jujubas quando me virei para ele.
- Eu o que?
- Não tem nenhum menino...
- Não- o cortei, não querendo iniciar um assunto sobre um suposto relacionamento que eu deveria ter- Estou bem assim e... Além do mais, não encontrei a pessoa certa.
- Angel, tenho certeza que todos os meninos de nossa escola sonham com você. Posso até fazer uma pesquisa se você quiser.
Dei risada de seu ultimo comentário.
- Não será necessário.
Ele abriu os braços como se desse por vencido.
- Há quanto tempo eu não vinha aqui- ele observou em volta, nostálgico.
Olhei para as crianças que corriam na direção dos gansos para assusta-los e todo aquele lugar incrível cheio de memórias.
Brad e eu costumávamos vir aqui alimentar os gansos com salgadinho e quando tínhamos algo importante para falarmos um para o outro.
  - Vamos apostar uma corrida?- ele sugeriu.
  Coloquei minhas ultimas jujubas na boca, assentindo.
  - Até aonde?
  Ele apontou para frente, onde havia uma calçada cheia de árvores e uma descida que dava para o lago imenso de nossa cidade.
  - Já- sai correndo na frente de Brad. Ele me xingou e começou a correr, me passando. Fazer o que se as pernas dele eram mais cumpridas que as minhas.
  Dei risada quando ele me mostrou o dedo, fui para mais perto dele e o empurrei.
  - Não te deram educação?
  Como ele é mais forte, ele continuou intacto. Brad segurou meu braço e me jogou levemente para o lado e eu cambaleei. Voltei para o seu lado, enquanto nos aproximávamos do lago. Tentei empurra-lo mais uma vez, mas ele segurou meu braço e me prendeu em seu corpo, rodando-me no ar.
  Quando ele me colocou no chão, sai correndo na frente dele e me sentei na grama.
  - Ganhei- levantei as mãos.
  Ele se sentou ao meu lado, com a respiração ofegante.
  - Isso foi trapaça- ele me deu um soco no ombro.
  - Você que foi lerdo- comecei a recuperar o meu fôlego.
  O tempo estava se fechando. O sol no céu havia sumido, dando espaço para as nuvens e o vento começava a ficar mais forte e gelado. 
- Me diz uma coisa, seus pais ainda estão agindo de forma estranha? - mudei de assunto.
- Hoje eles receberam cartas e ficaram muito incomodados, mesmo tentando não demonstrar nada para mim. A minha mãe ficou branca e meu pai tentou disfarçar sua preocupação a todo momento- seus olhos verdes brilharam quando a luz do sol bateu nos olhos dele- Eu procurei em todos os lugares, mas não encontrei nada. E seu pai?
Balancei a cabeça.
- Está normal- dei de ombros- Você ja procurou na lixeira?
Ele olhou para mim como se eu tivesse falado os números corretos da loteria para ele.
- Eu vejo quando chegar em casa.
No instante em que ele disse isso, eu me lembrei que tinha um jantar com meu pai.
- Tenho que ir- me levantei- Tenho um jantar com os amigos de meu pai.
- Eu te levo- ele se levantou.
- Hm... Não precisa. Vou sozinha, minha casa fica a dois quarteirões daqui.
Ele concordou.
- Se estiver muito chato, me mande mensagem.
Ah, definitivamente eu iria fazer isso.

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