Trinta

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Eu estava sentada na bancada, comendo cereal e observando o bilhete que havia recebido quando fui ao parque. Ele sabia e filmava cada passo que eu dava, mas como ele ainda não havia percebido onde Derek morava? Porque todos os lugares por onde eu passei ele me deixou ver que ele esteve por lá. Se ele soubesse onde eu estava, já teria feito alguma coisa.
Agora eu estava sozinha, porque Derek havia ido até a casa que pegou fogo ontem, os policiais estavam lá e ele queria ver o que eles iriam fazer. Então resolvi ligar para o meu pai.
- Angel- ele suspirou de alívio.
- Pai, onde você está?
- Eu não consegui sair de Nova York, porque eles querem que eu cuide de um caso aqui.
Bufei. Eu precisava tanto do apoio de meu pai, de saber que ele estava por perto.
- Você está bem? - eu senti medo em sua voz, quase pavor- Estou... Pai, e o Brad? Eu só vi os pais dele uma vez depois do que aconteceu, vocês nunca mais me deram notícias.
Silêncio.
- Eles estão bem e Brad...
- O que? - meu coração batia mais forte, chegava a quase doer. Eu queria saber o que ele iria me falar, mas não estava pronta para escutar o que viria em seguida.
- Nada... Nenhuma notícia dele.
Eu sabia que ele estava sendo vago nos detalhes. Ele ficou em silêncio por alguns minutos, depois resolveu voltar a falar.
- Pai, me conte tudo- implorei em silêncio para que, pela primeira vez, ele me tratasse de forma certa, sem pensar que estaria me colocando em perigo.
- Os policiais descobriram o cativeiro onde Brad ficava, graças aos vídeos- eu escutava atentamente cada palavra que saia de sua boca- Mas quando eles chegaram lá pela manhã, tiveram que apagar o fogo que se alastrava pela floresta.
Eu comecei a me lembrar de alguns detalhes de ontem a noite. Derek colocando gasolina por todas as partes em volta da casa, ele voltando e nós dois entrando pela janela da cozinha. E depois, o fogo dominando tudo, eu quase perdi a consciência quando eu caí para não morrer queimada. Meu pai continuou falando, me explicando tudo, mas eu estava presa demais em meus pensamentos para entender. Tive flashbacks de um menino com uma blusa de linho preta toda rasgada. Seus braços estavam presos com algemas na parte de trás de seu corpo, seu olhar estava triste. E depois, lembrei de um homem segurando em seu ombro e o mandando entrar no carro. Depois disso, eles se foram.
Derek estava de costas para eles, tentando de todas as formas me reanimar, então ele não deve ter visto nada. E eu estava fraca demais para falar alguma coisa, não sabia se era só alucinação. Como eles estavam lá dentro de tínhamos visto todos os cômodos.
Congelei.
Nós não tínhamos visto todos os cômodos. Agora eu sabia onde eles estiveram escondidos esse tempo todo. No porão. E, quando eu dei a brecha de fazer barulho, ele escutou, colocando fogo na casa e fugindo com Brad.
"Seja inteligente", foi o que ele havia me dito, alertando-me. E agora eu sabia exatamente o que devia fazer.
- Você ainda está na linha? - voltei a prestar atenção.
- Estou aqui- disse apressadamente- Pai? Eu estou bem, ok? Não importa o que aconteça comigo, eu vou sempre estar com você.
Eu escutei o batendo na mesa.
- Angelina! O que você quis dizer com isso?
- Eu te amo- desliguei o telefone antes de ele conseguir falar qualquer coisa e comecei a discar o número que estava no papel.
Chamando... Chamando... Chamando...
- Vejo que você não demorou tanto quanto eu imaginava- sua voz grossa me causou arrepios- Acho que escolhi a pessoa certa.
Fiquei relutante por falar com ele, porque eu estava apavorada, mas eu precisava lutar contra isso.
- O que você quer? - ele deu uma risada curta, porém cruel.
- Você quer ver seu amigo? - ele não esperou eu terminar de falar, simplesmente desligou o telefone e antes de eu tentar fazer alguma coisa, ele fez uma conexão ao vivo. Eu só conseguia enxergar os seus olhos azuis, o resto estava coberto. Meus pelos ficaram arrepiados, era horrível a sensação que eu sentia quando o olhava. Ele colocou a câmera em algum apoio e foi para mais longe, onde Brad olhava fixamente para o ponto de filmagem, cansados com os olhos vermelhos e vazios. O assassino deu risada e rodou uma arma em sua mão.
- Não, não, não- gritava sem parar. Ele ia mata-lo na minha frente.
- O que você está sentindo agora, Angelina? Desespero?
  - O que você vai fazer para ajuda-lo? - ele apontou a arma e deu um tiro na perna de Brad, ele gritava, se contorcendo na cadeira. E eu dei um berro tão estridente, que por um minuto fiquei surda.
Comecei a passar a mão pelos meus cabelos e me debruçar na bancada, eu estava sem fôlego. O vi quase desmaiando de dor na cadeira, eu via o sangue escorrendo pela sua calça jeans e se esparramando no chão. Tive que me segurar para me manter de pé.
- Como você se sente por não poder fazer nada? - havia ódio em sua voz e ele arrastava as palavras para elas saírem de sua boca- Estar vendo... O seu amigo... Sofrer... E não poder... Fazer nada?
A tela ficou preta, ele havia desligado a câmera e me feito uma ligação.
- EU VOU TE MATAR, SEU DESGRAÇADO- minha cabeça rodava freneticamente, mas eu estava tão nervosa, tão fora de mim que eu faria qualquer coisa para vingar meu amigo- O que você fez com ele?- gritei enquanto as imagens de Brad se contorcendo na cadeira pairavam pela minha mente.
- Não grite, princesa Angelina- mais uma risada- Você pode liberta-lo- ele não parecia estar brincando.
- C-Como? - gaguejei, secando meus olhos.
- Me encontre no ginásio de sua escola daqui dez minutos. Ele vai estar lá- e então fiquei determinada a fazer qualquer coisa que fosse preciso para ajuda-lo- Nem pense em avisar alguém sobre isso- olhei seriamente para a os seus olhos sendo transmitidos pela câmera- Isso é entre nós.
- E se ele não estiver la? - podia ser só uma armadilha.
Um suspiro profundo.
- Uma promessa feita é uma promessa cumprida.

Sedução FatalOnde histórias criam vida. Descubra agora