Vinte e Seis

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- Eu quero saber o motivo de eu estar aqui na sua casa e o porquê de meu pai estar sendo tão vago quando me dá respostas- exigi. Já fazia um dia que eu estava na casa de Derek, e agora, estávamos na sala e eu o coloquei contra a parede, pois eu sabia que meu pai lhe havia dito tudo.
Ele ficou tenso.
- Eu não posso te dizer isso, Angel- ele continuou sentado no sofá com uma perna descansando sobre a outra, sem mudar a neutralidade de sua voz, observando cada movimento que eu dava.
- E porque não?
Ele respirou fundo, escolhendo as palavras. Comecei a andar de um lado para o outro.
- Porque você não saberia como lidar com a situação.
Dei risada, mas ele sabia que eu estava nervosa.
- Eu não sou criança, já disse.
- Angelina, por favor entenda que esse não é o momento certo para você saber disso.
Respirei fundo, chega de brigas. Já discutimos o suficiente, por hoje chega. Eu não vou deixar tudo isso passar e fingir que nada estava acontecendo. Eu ainda ia ter as respostas que eu queria. Me virei para ir para o quatro e só parei quando ele começou a falar.
- A única coisa que eu posso te dizer no momento- ele falou com tranquilidade- É que seu pai e os pais de Brad foram embora da cidade com uma menina fingindo ser você para despistar o assassino.
Quando ele disse assassino meu corpo se contraiu.
- Porque ele quer tanto me matar?- fiquei de frente para ele.
- Eu não sei- ele balançou os ombros- É isso que eles foram tentar descobrir.
Eu sei que havia muitas coisas que ele estava me contando, mas ficar por dentro de pelo menos alguma coisa que estava acontecendo me deixou mais tranquila.
Nessa hora o telefone de Derek tocou e ele respondeu com simples palavras antes de se afastar.
- Eu preciso sair- disse e desapareceu da sala.
Eu o segui até o estacionamento, onde tinha um Range Rover e um Audi R8, ambos pretos, um Bugatti vermelho, uma Mercedes prata e um Koenigsegg Agera branco. Me impressionei com a quantidade de carros que ele tinha, até que lembrei que a mãe dele era dona de uma loja de carros.
Ele viu minha expressão e sorriu.
- Desvia suspeitas- então ele trocava de carros para ninguém suspeitar dele, bem pensado.
- Você não vai me falar para onde está indo?
Ele me olhou enquanto pegava a chave da Mercedes do porta chaves que estava posto na parede, e entrava nela.
- Sinto muito.
- Então é isso? - bati as mãos em minhas pernas- Você pode saber tudo sobre mim, mas quando eu faço uma mísera pergunta você me olha e simplesmente diz sinto muito- falei com tom de pergunta.
- Tem coisas que é melhor você não saber- ele me olhou de dentro do carro.
- Para a minha segurança- disse o imitando- Estou cansada disso.
Ele bufou e me encarou novamente.
- Se você entendesse a intensidade de "estão te perseguindo" e "querem de matar" não iria ironizar desse jeito.
Pensei no assunto. Há meses meu pai e os pais de Brad receberam mensagens anônimas com ameaças. E eu sei que estão me perseguindo, todas as vezes que eu ando sozinha na rua eu sinto isso e eu tive a confirmação quando Brad me mostrou aquelas fotos.
Brad.
Lembrei-me que eu não converso com ele há mais de dois dias. Meu coração apertou.
- Isso não justifica nada o fato de você não me falar aonde vai- cruzei os braços. Eu usava uma calça legue preta, botas e uma jaqueta de couro branca e ainda assim eu sentia frio.
- Eu preciso ir- disse abrindo o portão- Espero que quando eu voltar você não esteja tão brava quanto está agora.
Revirei os olhos, observando enquanto ele saia e o portão fechava. Não pensei duas vezes antes de pegar aleatoriamente a chave de um carro, que depois de segundos vi que era do Range Rover, entrei no carro rapidamente e comecei segui-lo. Eu o vi virando uma esquina e fiz o mesmo, só havia um carro entre nós.
Liguei para Brad.
- Aonde você está? - ele gritou, irritado- Qual é o seu problema? E porque não atendeu as minhas quinhentas ligações?
- Trinta e cinco, na verdade- o corrigi.
- Você tem noção do quão preocupado eu estava? - sua respiração estava pesada.
- Posso tentar me explicar?
Ele ficou em silêncio como resposta.
- Bom, o meu celular estava dentro de minha bolsa, fui pega-lo hoje, não te encontrei esses dias porque estou na casa de Derek e sei tanto quanto você sobre o que está acontecendo- fiz uma pausa enquanto virava a rua, mais árvores começaram a aparecer, tomei cuidado para não perde-lo de vista, pois haviam três carros em nossa frente- Eu tive que ficar com Derek para me deixar mais segura. Você está bem?
- Sim. Me fale aonde você está- perguntou sério- Eu preciso te ver.
- Estou na rua- respondi- Te encontro amanhã?
Silêncio.
- Tudo bem- ele ficou quieto por um tempo- Você está bem?
Tirando o fato de que estou sendo perseguida por um assassino, confusa sobre o que realmente estava acontecendo e seguindo meu namorado que não quer me dar explicações, eu estou bem.
- Acho que sim- virei uma rua- Olha, não vou mudar o rumo da conversa. Os nossos pais foram para Nova York procurar o assassino de minha mãe, o cara que mandou as ameaças. Na verdade eles foram despista-lo com uma menina que eles fingiram ser eu.
- Uma armadilha.
Vi Derek parar no farol vermelho, sair do carro e vir em minha direção, tocando no vidro para eu abaixa-lo. Droga. Parei de escutar o que Brad estava dizendo.
- Angelina- ele controlou sua raiva- O que você está fazendo aqui? Lembro de ter pedido para você ficar em casa.
- E desde quando eu obedeço suas ordens?
Suspirei. Eu não queria voltar, mas eu sabia que ele não ia prosseguir sabendo que eu estava a sua cola.
- Brad, tenho que desligar- falei apressadamente.
Agora só havia nós dois na estrada escura e gelada e um picape se aproximando. As árvores faziam um barulho alto quando os galhos tocavam uns nos outros.
- Você pode ao menos me dizer onde vai?- guardei meu celular no bolso.
- Resolver uns problemas.
O encarei.
- Virou matemático?
Ele me olhou sério, seus olhos azuis estavam vagos.
- Vá para casa, Angelina. E confie em mim,
Olhei para ele por alguns segundos antes de ligar o carro e contornar a estrada, voltando para o único lugar que eu sabia o caminho. Minha casa.
  E se ele fosse ver alguma menina ou ir para uma festa e não queria que eu soubesse? Eu nunca sei de nada do que ele está pensando e ele é tão imprevisível. Eu preferiria desvendar o código Da Vince do que seus pensamentos.
Vi Derek, pelo retrovisor, entrando em seu carro e acelerando. Idiota. Virei uma rua e passei pelo restaurante onde vim com meu pai e seus amigos. Gelei. Como eu não tinha pensado nisso antes? Ele estava indo para o lugar onde eu quase fui violentada, o lugar onde eu entrei em seu carro e nós nos conhecemos, o lugar onde ocorreu um tiroteio e Brad e eu quase morremos. Porque ele estava lá aquele dia e porque ele está voltando lá hoje?
Acelerei quando vi que a picape estava me seguindo. O carro acelerou quando viu que eu fiz uma curva, percebi que era um homem. Minhas mãos começaram a suar e eu via as casas, prédios e todas as luzes como um flash.
Na hora em que eu olhei pelo retrovisor e vi os olhos azuis de meus pesadelos, levei um susto. O assassino. Por reflexo, freei o carro e bati minha cabeça no vidro da janela. Eu não podia parar, então acelerei novamente. Minha testa latejava e eu senti o sangue escorrendo pelo meu rosto.
Acelerei mais ainda quando o vi tirar uma arma de sua jaqueta e a colocar para fora da janela. Ele atirou e eu abaixei a cabeça automaticamente, mas a bala acertou a parte de trás do vidro. Eu corria contra o tempo, ele estava se aproximando e eu estava desesperada, minhas mãos suavam a medida em que eu mexia no volante. Ele atirou mais uma vez e a bala vez milhares de pedaços de vidro caírem dos bancos de trás do carro. Droga Derek. Eu pensei que o carro fosse blindado. Peguei meu celular para ligar para a única pessoa que podia me ajudar. Derek.
Chamava...
No momento em que ele atendeu, o assassino bateu a lateral de seu carro no meu, fazendo me deslizar na pista, eu rodava o volante e pisava no freio desesperadamente para não perder o controle. O carro quase derrapou quando girou na estrada. Meu celular escorregou da minha mão e caiu no chão e eu não pude falar com Derek.
Havia chegado em na rua de minha casa, virei a esquina e vi que ele estava perto. Quando ele acelerou, se aproximando de mim, dei ré e torci para o porteiro abrir o portão de minha casa.
-Abre, abre- abaixei o vidro enquanto procurava por alguém na rua, mas não havia ninguém- Sou eu, Angelina.
O portão começou a se abrir e eu senti um alivio enquanto guardava o carro bem perto das árvores para ninguém conseguir ve-lo. Por sorte meu pai havia contrato um porteiro para ficar de olho em quem estava passando pela nossa casa, mas as informações que eu tinha sobre esse assunto eram nulas.
Entrei e corri em direção ao meu quarto. Gritei. Meu quarto estava todo revirado, os lençóis jogados no chão, os porta-retratos quebrados, os sofás caídos de lado. Parecia que havia acontecido uma briga feia por aqui.
E as paredes e o teto estavam pichados com sangue falso e com ameaças direcionadas a mim. "Eu estou te vendo", "você vai morrer", "o seu fim está próximo". Coloquei a mão na boca para tampar o soluço. Vi uma foto no chão rasgada, tirei o porta retrato quebrado de cima, era metade de uma foto minha sentada em um balanço de um hotel em Los Angeles.
Eu peguei a outra metade que estava jogada no chão e era Brad com um sorriso feliz no rosto, virei a foto. "Você não é a única que está na minha mira".
Brad.
Me levantei, olhando para cima e limpando minhas lágrimas. Vi um ponto vermelho no canto da parede, uma câmera. Esse vagabundo havia instalado câmeras em minha casa, ele havia entrado aqui.
  Lembrei que meu pai havia deixado Fiona tomando conta da casa enquanto estava fora e eu estava com Derek. Como ela não viu ninguém entrar aqui e fazer essa bagunça em meu quarto?
- Fiona- gritei, indo para o corredor- Fiona- berrei e a vi subindo rapidamente as escadas, com olhar de assustada.
Havia outra câmera no corredor, com certeza dava para ver o corredor que davam para as duas escadas que se encontravam até o andar debaixo.
- Eu quero que todos os cômodos sejam revistados e todas essas câmeras desinstaladas ainda hoje- não esperei por uma resposta. Cruzei o corredor, passei pelo hall, onde a câmera estava e desci as escadas.
Corri para o Range Rover e peguei meu celular. 25 minutos de chamada com Derek. Desliguei e liguei para Brad.
- Alô?
- Brad?- corri de um lado para o outro, frenética.
- Oi- sua voz estava um pouco rouca, ele já devia estar deitado.
- Eu só queria saber se está tudo bem.
- Sim, está porq...
- Saia da sua casa o mais rápido o possível, se proteja- falei com autoridade.
- O que? - ele perguntou como se eu fosse louca.
- Vá para a delegacia- falei- Eu te encontro lá em dez minutos.
- O que? - ele repetiu, eu quase o senti franzindo a testa- Porque, Angel?
- Alguém pode estar hackeando nossa ligação, só faça o que eu estou pedindo.
- Como assi...
- Faz o que eu estou dizendo ago...
A ligação caiu. Tentei ligar para ele de novo várias vezes seguidas, mas ele não atendia. NÃO.
Meu coração batia tão rápido em meio peito que chegava a doer. Vi Derek estacionando e vindo em minha direção, me joguei nos braços dele. Ele me apertou forte contra si.
- Vamos- ele disse quando eu me afastei.
Entramos no carro e ele andava rapidamente pela rua escura enquanto eu o guiava até a casa de Brad. Franzi a testa quando ele virou uma rua e fez um outro caminho.
- O que... O que você está fazendo? - gaguejei- Brad está em perigo.
Ele não parou de olhar para a pista.
- Vou te deixar em casa primeiro, segura.
Arregalei os olhos.
- Você só pode estar brincando- coloquei a mão na testa, para tentar afastar a dor em minha cabeça- Nós não temos tempo- gritei, desesperada. Alguma coisa podia estar acontecendo com meu melhor amigo e eu é quem tinha que ficar segura?
- Isso pode ser uma armadilha, Angel.
- Olha só, desculpa mas tudo que está acontecendo é por sua culpa. Se você não tivesse me mandado ir embora nada disso estaria acontecendo- fiquei virada de lado para encarar seu rosto.
- Se você não tivesse saído de casa nada disso estaria acontecendo- ele virou uma esquina.
- Vai começar com esse assunto de novo? - o encarei, nunca me senti tão nervosa em toda a minha vida- Meu pai te pediu para cuidar de mim e não me manter em uma prisão domiciliar.
Olhei para ele. Minhas veias estavam queimando, cada terminação de meu corpo borbulhava.
- Nós não temos tempo- repeti, batendo no banco- Se você não for comigo, eu vou sozinha- coloquei a mão na porta, pronta para me jogar para fora do carro.
  - Ok, mas eu preciso que você ao menos tente ficar calma.
Em silêncio, ele virou a esquina na direção da casa de Brad. E em menos de cinco minutos. Mal pensei quando sai do carro e abri a porta da casa de Brad... Os outros minutos enquanto eu procurava pelos cômodos e gritava pelo seu nome, passaram em câmera lenta. Parecia que todos os movimentos que eu dava tentando acha-lo estavam programados lentamente em meus pensamentos. Eu subi as escadas, indo em direção ao seu quarto, mas não havia nenhum sinal de Brad. Ele havia pego meu melhor amigo e eu não havia feito nada para ajuda-lo. Absolutamente nada.
Quando cheguei ao seu quatro, vi um papel de post-it em cima da cama. "Tarde demais" com uma gota de sangue.
Eu odiava a sensação de desespero, de incapacidade. Eu não sabia o que aquele monstro era capaz de fazer e eu nem queria imaginar no que ele já havia feito. Se alguma coisa acontecesse com Brad, eu juro que iria procurar até no inferno para depois matá-lo. Da pior forma possível.
  Minha cabeça lateja. Eu mal conseguia pensar direito, lágrimas caiam de meus olhos. O que estava acontecendo? O que ele estava fazendo com Brad? Para onde o estava levando? Por que meu pai havia saído da cidade bem nesse momento em que eu precisava dele?
Respirei fundo, jogando o post-it no chão. Não havia mais nada para ser feito na casa de Brad, então eu me levantei e me assustei quando vi Derek parado na soleira da porta, com um olhar abatido.
- Foi culpa minha- não, não foi. Por mais que eu tivesse seguido Derek para ver onde ele estava indo, isso iria acontecer. Até mesmo se eu tivesse ficado em casa. O assassino estava preparando isso, era parte do seu plano. Já que conseguir me sequestrar estava mais difícil.
- Não foi culpa sua- coloquei a mão em seu rosto- Agora vamos sair daqui. Não há mais nada que possamos fazer.

- Pai? - engoli em seco.
Derek havia me levado de volta para sua casa e tentado me acalmar, mas o pensamento de que algo estava acontecendo com Brad nesse exato momento quebrava meu coração.
- Querida, o que aconteceu? - ele perguntou em um tom preocupado.
Abaixei o rosto. Eu precisava falar o que havia acontecido, mas eu não tinha coragem o suficiente para isso. Meus olhos encheram de lágrimas, e Derek, que estava sentado do outro lado da cama, assentiu para mim, me dando forças.
- Brad foi sequestrado- disse por fim, antes que eu desistisse e não falasse mais nada.
Silêncio.
Eu levei um susto quando um barulho de vidro quebrando invadiu a linha telefônica.
- O que? - sua voz estava mais séria, nervosa, o que me deixou pior ainda. Ele nunca se descontrolava.
- Pai... - tentei falar, mas minha boca começou a tremer e minha voz falhou.
- Aconteça o que acontecer, não saia da casa de Derek.
Assenti. O plano deles não tinha dado certo, o assassino ainda estava por aqui. Pronto para me matar a qualquer momento.
- Passe o celular a Derek.
Entreguei o celular em sua mão e me deitei, com a cabeça latejando.
Depois de algumas palavras ele desligou o celular e apagou a luz.
- Nós vamos dar um jeito nisso, Angel- ele me abraçou- Nada vai acontecer com Brad.
Me aconcheguei em seu peito, dizendo suas palavras para mim mesma e torcendo para que Brad estivesse bem.

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