Três

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  Gritei quando meu pai colocou o gelo em minha têmpora.
  - Levou uma pancada forte aqui, gatinha- ele me disse.
  - Eu não entendo o porque eu tenho que continuar indo para esse lugar. Eu odeio luta, papai- disse, pegando o saco de gelos que estava em sua mão. Só o tirei de minha pele quando começou a queimar.
  Eu já havia me recuperado desde que ele foi me buscar no ginásio. Agora, depois de tomar banho, havia colocado uma regata branca e uma calça azul xadrez de pijama.
  Eu e meu pai havíamos pedido tacos e íamos começar a assistir a sexta temporada de The Walking Dead. Assistir séries juntos era um dos passatempos preferidos que eu e meu pai tínhamos.
  Ele voltou a olhar para mim e passou a mão pelo meu rosto.
  - É preciso, querida.
  Eu olhei em seus olhos que demonstravam pena e compaixão. Ele também não queria que eu precisasse passar por isso, mas ele sabia de muito mais coisas do que eu. Do que Brad e eu sabíamos. E, por algum motivo, nossos pais não queriam nos contar.
  - Papai, entenda que não é só porque aconteceu com mamãe que você também vá me perder- ele abaixou o rosto- E eu sei lutar, é que hoje não tive sorte.
  Ele sorriu fraco e nessa hora, o interfone tocou.
  - Eu vou abrir a porta- ele disse e se levantou do sofá. Ele havia tirado seu paletó, estava apenas com uma blusa branca e sua calça social.
  - E eu vou pegar coca cola- me levantei e fui em direção a cozinha.
  Os corredores só estavam iluminados pelas pequenas luzes que ficavam nas paredes. Do lado esquerdo havia um espelho médio, até a parede terminar e dar acesso à um hall onde havia cadeiras acolchoadas pretas e uma mesinha no centro. E um espaço que dava entrada ao escritório de meu pai.
  Continuei andando até chegar à cozinha, com pisos brancos e a bancada de granito preta. Uma porta de vidro que levava à piscina e ao salão e uma parede de vidro com acesso ao jardim de inverno.
  Abri a geladeira e peguei duas garrafinhas de coca e voltei à sala.
  Quando cheguei, meu pai já estava comendo seu taco. Coloquei uma mão na cintura e o encarei.
  Ele terminou de colocar um pedaço de taco na boca e me olhou, arregalando os olhos.
  - Desculpa, gatinha. Estou com muita fome.
  Me sentei ao seu lado.
  - Como foi seu dia?- perguntei antes de começar a comer um taco de frango.
  Ele bebeu um pouco de coca e deu de ombros.
  - O mesmo de sempre. Muito trabalho- ele revirou os olhos e bufou- Mas, e você? Como foi a escola?
  - Cansativo- suspirei- A professora de matemática passou um trabalho de trigonometria e, bom, o mesmo de sempre.
  Ele assentiu.
  - Na sua época eu era um problema. Quase fui preso uma vez- ele disse com nostalgia. Arregalei os olhos. Um agente da lei quase foi preso pela policia- Não queria saber dos estudos e uma vez, eu e alguns amigos meus pichamos uma delegacia.
  - Era para você ser um criminal agora- olhei para ele, perplexa- Ou quase um.
  Ele deu de ombros.
- Não quero que haja pessoas como eu era. Ou piores.
  - Mas há.
  - E foi por isso que me tornei um agente.
  Eu ja havia terminado de comer meus dois tacos, então comecei a beber minha coca.
  Já passava das sete horas e o céu já estava começando a ficar escuro.
  Estava amarrando meu cabelo quando meu pai me olhou com divertimento nos olhos. E eu ja sabia o que ele estava planejando.
  - Está pensando o mesmo que eu?- disse.
  Assenti, sorrindo.
  - Só me deixe colocar meu pijama- ele subiu as escadas para ir para o seu quarto.
  E eu me aconcheguei em meu edredom, pois iria passar a noite inteira acordada, maratonando séries.

Sedução FatalOnde histórias criam vida. Descubra agora